São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2011

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'Babá de mãe para filha' é profissão em extinção

Antigas preceptoras chegavam a ficar décadas na mesma família

Elas acompanhavam crianças em viagens e programas e ensinavam regras de etiqueta e até como passar roupa

ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO

Aos 80 anos, Maria de Lourdes Ferreira não dá sinais de que vai se aposentar de fato. Já avisou que está a postos para ninar o próximo bebê da nova geração dos Monteiro de Barros.
"É um dom e um sacerdócio, nasci para cuidar de crianças", resume. Ela não casou nem teve filhos.
Há 30 anos na família, Lourdes foi contratada para ser babá de Tatiana, 30. Depois, vieram Marcela, 26, e Antônia, 23. As crianças cresceram, virou governanta.
"Foi um privilégio ter uma pessoa tão completa como babá", diz a primogênita
. Tatiana ainda não tem filhos, mas espera contar com os préstimos de Lourdes para treinar uma babá.
"As profissionais de hoje não querem mais dormir no emprego e são impacientes", diz a babá, nascida em um vilarejo no norte de Portugal.
Lourdes é expoente de uma classe de profissional doméstico hoje em extinção. No passado, tinham o nome pomposo de preceptoras. Eram encarregadas de todos os cuidados com as crianças, inclusive das boas maneiras.
Empresária de moda, Tatiana enumera o que aprendeu com a senhora de modos refinados: regras de etiqueta, lições de bordado e costura e até como passar impecavelmente as suas roupas. "Lourdes tem educação europeia, sabe conversar e se portar."
A preceptora sempre acompanhava as irmãs nas viagens de férias ao exterior. Ia a óperas e jantares com a família. "Só recusava viajar para estação de esqui. Não gosto de frio e de subir e descer montanha."
Entre os Pascolato, a suíça Blanche Raval, 97, exerce o mesmo papel. Começou a trabalhar para a família ainda na Itália, na década de 1940. Já embalou três gerações.
A primeira criança foi a consultora de moda Costanza, 72, com quem sempre falou em francês em casa.
Temporariamente fora de combate por problemas de saúde, Blanche é governanta da família. "Ela está aposentada formalmente há 30 anos, mas sempre foi muito ativa", diz Alessandra Pascolato, filha caçula de Costanza.
Alessandra herdou a babá da mãe, a exemplo do que aconteceu com os dois sobrinhos de 18 e 15 anos. "Blanche é da família. Costumo sair para almoçar com ela aos sábados, como fazia com minha avó."As Monteiro de Barros também reverenciam a antiga babá. No casamento de Marcela, em abril, Lourdes estava no altar ao lado dos pais da noiva.
Reconhecimento por uma profissão que implica sacrifício. "É raro encontrar babá que queira se dedicar dessa forma", diz Eliana
Oliveira, da agência Prendas Domésticas, de São Paulo.
Em média, uma babá fica com uma família por três anos.



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