São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2007

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Representantes de entidades criticam controle mais rígido

Especialistas afirmam que medidas para moradores de rua só seriam benéficas se fossem educativas e não impostas

Medida vem exatamente no momento em que padre Júlio Lancelotti, vigário do povo de rua passa por enfraquecimento político

VINICIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Entidades de defesa de direito dos moradores de rua e especialistas ouvidos pela reportagem foram unânimes ao criticar a imposição de controles mais rígidos para a entrada nos albergues paulistanos.
Para Edy de Lucca, da Organização de Auxílio Fraterno, a discussão de direitos e deveres da população de rua "só é boa se for feita de maneira educativa".
"Esse conceito tem de ser trabalhado para ser absorvido. As regras têm de ser criadas com um grupo, a partir de reflexões. Isso precisa nascer do grupo. Determinar regras não é educativo", afirma Lucca.
O coordenador-geral do Arsenal da Esperança, Gianfranco Mellino diz que é preciso entender que muitos moradores de rua não aceitam regras e imposições. "Não sei se impondo uma coisa ajuda ou não", afirma o coordenador da entidade ligada ao governo do Estado que abriga 1.150 pessoas.
Especialistas apontam que as medidas da prefeitura vêm num momento de enfraquecimento político do padre Júlio Lancelotti, vigário coordenador do Povo da Rua, uma das principais organizações do setor, ligada à Arquidiocese de São Paulo. Como o padre Júlio não está desligado oficialmente da função, ninguém na entidade foi encontrado para falar com a Folha.
"Que política pública é essa? É para incluir as pessoas ou para limpar a cidade? É um absurdo, um equívoco", diz Alderon Pereira da Costa, presidente da Associação Rede Rua.
Para o professor de sociologia da USP Álvaro Gullo, uma das reclamações dos moradores de rua é o recebimento de ajuda parcial, como refeições em determinados horários.
"Ou dá ajuda integral ou não dá nada. A assistência parcial vicia", afirma Gullo.
Morador de um albergue de família no Brás com mulher e filha de 1 ano, Anderson Lopes Miranda diz que o modelo cria um "presídio semi-aberto, e não inclusão social". "Isso não constrói, só destrói. É preciso ouvir a população de rua."


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