São Paulo, domingo, 3 de janeiro de 1999

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Falta compromisso com a eficiência, afirma coronel

da Reportagem Local

O coronel reformado José Vicente da Silva Filho acredita que os desvios burocráticos da Polícia Militar paulista têm um motivo claro: faltam metas e cobrança do cumprimento dessas metas.
Ex-assessor da Secretaria da Segurança Pública no governo de Mário Covas, da qual saiu por divergências com o secretário José Afonso da Silva, Silva Filho foi também consultor do programa de governo de Fernando Henrique Cardoso no primeiro mandato.
Para o coronel, a burocracia acaba enredando os melhores policiais e a rua virou "castigo para policial problemático".
Para reverter o que chama de perversão, ele defende uma gratificação para os PMs que cuidam do policiamento das ruas.

Folha - Por que a polícia não corrige seus desvios burocráticos?
José Vicente da Silva Filho -
A polícia não corrige esses desvios porque não tem compromisso com a eficiência. Se a polícia prender mais ou menos, não vai acontecer nada. Na Inglaterra, a Audit Commision cobra metas. Em Nova York, o QG cobra metas. Aqui, a Secretaria da Segurança não cobra. Os batalhões da PM e os distritos da Polícia Civil teriam de ser como microempresas, com metas, orçamento. Sem isso, qualquer cobrança cai no vazio.
Folha - Por que a polícia não adota técnicas modernas de administração, como a idéia de metas?
Silva Filho -
A polícia trabalha em um sistema de urgência e de ameaças constantes. Por isso ela teria de ser mais eficiente do ponto de vista administrativo. Mas o tradicionalismo dos policiais torna-os impermeáveis à modernização. Isso vem da Academia da Polícia Militar. Os oficiais estudam 800 horas de direito civil e só 72 horas de gerência policial. A polícia está defasada em técnicas de planejamento, análise e motivação.
Folha - No governo Covas, a PM ganhou mais homens, mais veículos, os salários foram aumentados, mas a criminalidade não pára de crescer. Qual o problema?
Silva Filho -
O problema é que os remédios que a polícia usa estão com a validade vencida. São técnicas antigas, dos anos 70. Teria de haver um programa de metas e cobrança. Têm de corrigir uma perversidade, que são os coronéis que não entendem de policiamento, só de burocracia. Na Inglaterra, os melhores policiais vão para os locais mais violentos. Aqui, local violento é castigo para policial problemático.




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