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ANO 2000
Ano deve ter um clima de preparativos para a festa do ano 2000, embora o século 21 só comece em 2001
1999 será o "sábado' da
virada do milênio
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
Na "folhinha" dos tempos, o
ano que está começando será uma
espécie de sábado do novo milênio. As pessoas comprarão roupas
novas, irão ao cabeleireiro, arrumarão as estantes, comprarão livros e farão projetos.
O ano será de preparativos e planos para a chegada de 2000.
Quando o novo ano chegar, o
gosto será de um ensolarado domingo. As pessoas festejarão com
piqueniques na grama, churrascos
na beira da piscina, cervejinha na
praia e matinês no shopping.
Em abril, o Brasil estará comemorando 500 anos. É motivo para
dobrar as festas.
Quando 2000 acabar, ainda haverá razões para comemorar o milênio que, de acordo com a história e o calendário, estará começando. Os retardatários ainda terão
tempo para um rápido balanço
das realizações e uma lista de projetos a serem realizados.
Os 800 dias de festa pelo milênio
só terminarão na Quarta-Feira de
Cinzas de 2001. O fim do Carnaval
será a segunda-feira do milênio.
Virá então um um período de crises coletivas e depressões individuais.
Expectativas
Os vários cenários da virada do
milênio desta reportagem foram
construídos a partir de entrevistas,
a maioria com psicólogos.
Na opinião geral, o ano que começa será uma uma época de comemorações e de angústias, um
tempo de balanços e de projetos,
onde tanto os templos religiosos
quanto os salões de festas estarão
mais cheios.
Os entrevistados ouvidos acreditam que a mudança de milênio
deixará as pessoas ansiosas e
cheias de expectativas.
"Estar vivo na virada do milênio
é uma experiência que poucos vivem, rica e tensa", diz Maria Helena Bromberg, psicoterapeuta e
professora da PUC de São Paulo.
Quando as pessoas se derem
conta disso, farão planos de urgência, correrão aos shoppings,
farão reservas de viagem, consultarão antigas agendas de telefone e
procurarão os amigos, acredita
Maria Helena.
"Igrejas e templos estarão mais
cheios; as pessoas se voltarão mais
para a religiosidade", prevê Márua Roseni Pacce, 44, terapeuta,
historiadora e professora de ioga.
O ano que começa será mais propício para a reflexão, ela afirma.
No seu modo de ver e acreditar,
Márua acha que as pessoas tenderão a se organizar e a se juntar em
função dessa espiritualidade.
"O milênio está terminando
cheio de sofrimento, com mais desemprego e diferenças sociais. O
próprio presidente (Fernando
Henrique Cardoso) está anunciando um ano de suor e lágrimas,
mas as pessoas devem reagir a essa
tendência. O vencedor será aquele
que se diferenciar diante da crise", acredita Márua, que pretende
passar a "virada" para 2000 na
Índia.
Comemoração
Para muitos, 1999 será de festas.
"Para mim, será um ano de comemorações", diz a escritora
Cristina Porto, que já prepara o
aniversário de seus 50 anos em outubro próximo.
Se pudesse, ela manteria os votos de Feliz Natal e bom Ano Novo
dependurados na porta, este ano
inteiro. "É bom imaginar que estamos mudando de milênio."
Para outros, a carga de transformação de uma virada de mil anos
pode terminar em angústias e
frustrações, diz a psicóloga Helena
Lima, professora da PUC.
"O milênio é um peso muito
grande", afirma. "Faz as pessoas
se sentirem responsáveis por realizações e metas maiores do que
conseguirão cumprir. O balanço
pode resultar em sofrimento",
acredita a professora.
Depende de cada um
Místicas ou não, terapeutas ou
não, as pessoas concordam que as
transformações maiores são aquelas que ocorrem do interior para o
exterior. "O mundo depende do
seu olhar; se você não trabalhar esse olho mágico, nada acontece",
diz Jou Eel Jia, médico e acupunturista.
Lidar com o tempo seria outro
segredo, mas não há manual que
ensine esse mecanismo. "É a nossa mente que atrasa ou adianta o
relógio do tempo", diz Jou. "Se a
festa está boa, o tempo voa; se estamos deprimidos, o relógio pára."
Sem sincronia com o tempo, as
pessoas acabam deixando muita
coisa para a última hora. "As consultas aumentam em mais de 30%
nas últimas semanas do ano", diz
Jou. Por isso, para quem se preocupa com a virada do milênio, um
conselho: reserve uma agenda e
comece já a prepará-lo.
Céticos
A data tem significados para todas as gerações, para crentes de
todos os tipos e até mesmo para os
descrentes.
"Desde menino ouço que do
ano 2000 não passaremos", diz
Luiz Mott, 52, professor de antropologia da Universidade Federal
da Bahia.
"O novo milênio representaria a
chegada de um outro messias,
quando os rios seriam de leite e
mel, as espadas se transformariam
em arados e o lobo comeria ao lado do cordeiro. Vejo que as pessoas têm esperanças que as coisas
melhorem, mas a realidade não
aponta nessa direção."
Mott é cético. Ele também não
acredita em um aumento da espiritualidade nem em uma suposta
energia cósmica que se expandiria
com o final do milênio.
"A única energia na qual acredito é a elétrica", diz.
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