São Paulo, domingo, 3 de janeiro de 1999

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JUSTIÇA PRECOCE
Magistrados com menos de 30 anos contam episódios de seu dia-a-dia e o que pensam da profissão
Jovens juízes se dizem maduros
para função

ARMANDO ANTENORE
da Reportagem Local

Os cinco personagens desta reportagem representam um universo cada vez maior no Estado de São Paulo: o dos jovens juízes.
Em 1998, o Judiciário paulista promoveu a posse de 196 novos magistrados. Um número expressivo se comparado com os 48 principiantes de 1997.
Dos 196, apenas 8 têm mais de 35 anos. E 97 (ou 49,5% do total) não ultrapassaram os 25 anos.
A juventude, na verdade, sempre caracterizou os juízes em começo de carreira. A diferença é que, no decorrer de 1998, a quantidade de iniciantes cresceu muito.
O fato se explica por uma estratégia desencadeada pelo desembargador Dirceu de Mello, 69, presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ).
Quando assumiu o cargo, há um ano, se deparou com uma debandada de magistrados, que estavam pedindo aposentadoria para driblar a reforma previdenciária.
Mello, então, se comprometeu a zerar o déficit estadual de juízes -àquela altura, próximo das 300 vagas- até o fim de sua administração (dezembro de 1999).
Ao longo de 1998, em vez de abrir um único concurso anual para arregimentar novatos (como é praxe no TJ), patrocinou três. No início de 1999, realizará mais um.
O desembargador acredita que só "uma operação de guerra" poderá desafogar a demanda de processos em São Paulo.
Mas há quem discorde. Em debates recentes na imprensa, juízes veteranos manifestaram o receio de o tribunal estar dando espaço para um número grande de "profissionais sem a necessária experiência de vida".
No meio do tiroteio, se encontram os cinco personagens que a Folha entrevistou durante as duas últimas semanas. Formados em direito, viraram magistrados há, no máximo, 13 meses. Têm entre 24 e 27 anos. Apenas um, Carlos Alberto Maluf, é casado.
Quatro já subiram alguns degraus na carreira e se tornaram titulares de foros interioranos. Ganham de R$ 5.206,61 a R$ 5.818,57.
Somente Karina Ferraro Amarante ainda atua como substituta. Nesse estágio, o juiz pula de cidade em cidade, cobrindo temporariamente a vaga de titulares que tiraram férias, caíram doentes ou se aposentaram. O salário varia de R$ 3.609,06 a R$ 4.010,06.
Nenhum dos cinco se considera "despreparado tecnicamente" ou "imaturo" para as funções que desempenha. E todos garantem que nunca se arrependeram de uma decisão.
Argumentam que "os desafios" propostos durante o concurso de ingresso na magistratura, incluindo uma prova oral e um exame psicológico, são suficientes para avaliar se os candidatos têm condições de exercer a profissão.
Por exigência do Tribunal de Justiça, os cinco só se encaminharam para a carreira depois de pelo menos dois anos de prática forense -em geral, como advogados ou auxiliares judiciários.
Confessam que, às vezes, se sentem "desconfortáveis" com o tratamento de "senhor", "doutor" e até "excelência" que recebem no fórum. Ressaltam, por outro lado, que não se inibem quando julgam pessoas mais velhas.
Revelam-se idealistas (é comum afirmarem que escolheram a magistratura porque pretendem "servir à sociedade"), embora amarguem uma rotina pesada.
Moram longe da família e dos amigos. Trabalham entre 10 e 12 horas por dia. Fazem visitas mensais a cadeias públicas e, não raro, acumulam a função de juiz eleitoral. Se têm dúvidas sobre alguma sentença, todos dizem enveredar pelo mesmo caminho: buscam conselhos com colegas mais experientes.



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