São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

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SAÚDE

Ministério vai relativizar importância do auto-exame; SUS possui 1.706 mamógrafos no país, mas distribuição por Estados é desigual

Meta exige 300% a mais de mamografias

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para que sejam cumpridas as novas regras oficiais para a prevenção do câncer da mama, o SUS (Sistema Único de Saúde) terá de realizar anualmente 9,086 milhões de mamografias -6,8 milhões a mais do que as que foram feitas no ano passado.
A previsão foi divulgada ontem pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer) durante o lançamento do Consenso Para o Controle do Câncer da Mama no Brasil. O ministro da Saúde, Humberto Costa, participou da solenidade.
Uma das principais novidades apresentadas pelo consenso é a relativização da importância do auto-exame da mama -que, nas campanhas realizadas pelo governo federal a partir de 1998, era considerado a principal arma na prevenção da doença.
"[O auto-exame] não substitui o exame físico das mamas por profissionais", afirmou o diretor-geral do Inca, José Gomes Temporão, ao apresentar as novas diretrizes para a prevenção do câncer da mama, tipo da doença que mais mata mulheres no país -por ano são registrados cerca de 41 mil casos e 9.000 óbitos.
O documento recomenda que mulheres a partir dos 40 anos façam anualmente exames clínicos da mama. Entre 50 e 69 anos, é recomendado que elas façam mamografia a cada dois anos.
Mulheres com histórico familiar da doença devem fazer exames clínicos e mamografia a partir dos 35 anos.
Há no país, segundo dados do Censo 2000, cerca de 11 milhões de mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos. O Inca calcula ainda que 20% das mulheres entre 40 e 49 anos que passam por exames clínicos precisem fazer mamografia.
A partir dessa soma e de uma estimativa dos casos de risco foi definido o total de 9,086 milhões de mamografias por ano. Para cumprir essa meta, o SUS terá que gastar anualmente R$ 273,6 milhões com o exame. Em 2003, gastou R$ 64,085 milhões.
Há no país, segundo o Ministério da Saúde, 1.706 mamógrafos em uso na rede do SUS (Sistema Único de Saúde), com capacidade para fazer a cada ano 14,5 milhões de exames. O problema é que a distribuição regional do equipamento é desigual.
O ministro Humberto Costa disse que serão feitas reuniões regionais a partir do mês que vem para identificar a carência de aparelhos e de profissionais em cada Estado. Costa afirmou também que está em estudo o aumento do valor pago pelo SUS a hospitais conveniados. Hoje, o ministério paga R$ 30 por uma mamografia bilateral e estuda aumentar o valor para R$ 48.
Para o presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia, Aldemir Humberto Soares, além do valor pago pelos exames, o SUS deve aumentar o número de cotas disponíveis nos serviços públicos. "Muitas vezes há ociosidade no uso dos aparelhos porque as cotas liberadas pelo SUS não são suficientes", afirma.
Outro problema sério enfrentado no país é a falta de fiscalização dos serviços de mamografia. Segundo Soares, há carência de profissionais habilitados para interpretar os exames e muitos serviços pecam pela qualidade das mamografias realizadas em razão de aparelhos defasados ou descalibrados (leia texto nesta página).
Segundo o ministro, não faltará verba para a prevenção da doença. Mas, por não saber quantos mamógrafos deverão ser adquiridos, não pôde estimar o custo do programa. "O número de casos está crescendo e a mortalidade também porque os casos estão sendo diagnosticados tardiamente. Essa questão de agregar o auto-exame ao exame clínico como forma de prevenção pode trazer uma detecção mais precoce."
Costa afirmou que a proposta não é abandonar o auto-exame, alvo de campanhas maciças realizadas no Brasil. Segundo o Inca, na época existiam mais de 30 estudos sobre o câncer da mama. Alguns comprovavam a eficácia do auto-exame, outros não. No Brasil, as pesquisas sobre o assunto eram incipientes.
O consenso começou a ser elaborado a partir de novembro do ano passado, numa reunião de especialistas e técnicos do governo que analisaram dezenas de estudos nacionais e internacionais.
O documento se baseou principalmente em uma pesquisa financiada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) feita com 387 mil mulheres na Rússia e na China que revelou a ineficácia do auto-exame para diminuir a mortalidade por câncer da mama.
O plano do Ministério da Saúde e do Inca é que, até o final do ano, esteja estruturada a rede de distribuição de mamógrafos e os profissionais sejam qualificados. No próximo ano, a intenção é que, por meio de campanhas publicitárias, aumente o número de mulheres examinadas.


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