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SAÚDE
Ministério vai relativizar importância do auto-exame; SUS possui 1.706 mamógrafos no país, mas distribuição por Estados é desigual
Meta exige 300% a mais de mamografias
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Para que sejam cumpridas as
novas regras oficiais para a prevenção do câncer da mama, o SUS
(Sistema Único de Saúde) terá de
realizar anualmente 9,086 milhões de mamografias -6,8 milhões a mais do que as que foram
feitas no ano passado.
A previsão foi divulgada ontem
pelo Inca (Instituto Nacional de
Câncer) durante o lançamento do
Consenso Para o Controle do
Câncer da Mama no Brasil. O ministro da Saúde, Humberto Costa,
participou da solenidade.
Uma das principais novidades
apresentadas pelo consenso é a
relativização da importância do
auto-exame da mama -que, nas
campanhas realizadas pelo governo federal a partir de 1998, era
considerado a principal arma na
prevenção da doença.
"[O auto-exame] não substitui o
exame físico das mamas por profissionais", afirmou o diretor-geral do Inca, José Gomes Temporão, ao apresentar as novas diretrizes para a prevenção do câncer
da mama, tipo da doença que
mais mata mulheres no país
-por ano são registrados cerca
de 41 mil casos e 9.000 óbitos.
O documento recomenda que
mulheres a partir dos 40 anos façam anualmente exames clínicos
da mama. Entre 50 e 69 anos, é recomendado que elas façam mamografia a cada dois anos.
Mulheres com histórico familiar da doença devem fazer exames clínicos e mamografia a partir dos 35 anos.
Há no país, segundo dados do
Censo 2000, cerca de 11 milhões
de mulheres na faixa etária de 50 a
69 anos. O Inca calcula ainda que
20% das mulheres entre 40 e 49
anos que passam por exames clínicos precisem fazer mamografia.
A partir dessa soma e de uma
estimativa dos casos de risco foi
definido o total de 9,086 milhões
de mamografias por ano. Para
cumprir essa meta, o SUS terá que
gastar anualmente R$ 273,6 milhões com o exame. Em 2003, gastou R$ 64,085 milhões.
Há no país, segundo o Ministério da Saúde, 1.706 mamógrafos
em uso na rede do SUS (Sistema
Único de Saúde), com capacidade
para fazer a cada ano 14,5 milhões
de exames. O problema é que a
distribuição regional do equipamento é desigual.
O ministro Humberto Costa
disse que serão feitas reuniões regionais a partir do mês que vem
para identificar a carência de aparelhos e de profissionais em cada
Estado. Costa afirmou também
que está em estudo o aumento do
valor pago pelo SUS a hospitais
conveniados. Hoje, o ministério
paga R$ 30 por uma mamografia
bilateral e estuda aumentar o valor para R$ 48.
Para o presidente do Colégio
Brasileiro de Radiologia, Aldemir
Humberto Soares, além do valor
pago pelos exames, o SUS deve
aumentar o número de cotas disponíveis nos serviços públicos.
"Muitas vezes há ociosidade no
uso dos aparelhos porque as cotas
liberadas pelo SUS não são suficientes", afirma.
Outro problema sério enfrentado no país é a falta de fiscalização
dos serviços de mamografia. Segundo Soares, há carência de profissionais habilitados para interpretar os exames e muitos serviços pecam pela qualidade das mamografias realizadas em razão de
aparelhos defasados ou descalibrados (leia texto nesta página).
Segundo o ministro, não faltará
verba para a prevenção da doença. Mas, por não saber quantos
mamógrafos deverão ser adquiridos, não pôde estimar o custo do
programa. "O número de casos
está crescendo e a mortalidade
também porque os casos estão
sendo diagnosticados tardiamente. Essa questão de agregar o auto-exame ao exame clínico como
forma de prevenção pode trazer
uma detecção mais precoce."
Costa afirmou que a proposta
não é abandonar o auto-exame,
alvo de campanhas maciças realizadas no Brasil. Segundo o Inca,
na época existiam mais de 30 estudos sobre o câncer da mama.
Alguns comprovavam a eficácia
do auto-exame, outros não. No
Brasil, as pesquisas sobre o assunto eram incipientes.
O consenso começou a ser elaborado a partir de novembro do
ano passado, numa reunião de especialistas e técnicos do governo
que analisaram dezenas de estudos nacionais e internacionais.
O documento se baseou principalmente em uma pesquisa financiada pela OMS (Organização
Mundial da Saúde) feita com 387
mil mulheres na Rússia e na China que revelou a ineficácia do auto-exame para diminuir a mortalidade por câncer da mama.
O plano do Ministério da Saúde
e do Inca é que, até o final do ano,
esteja estruturada a rede de distribuição de mamógrafos e os profissionais sejam qualificados. No
próximo ano, a intenção é que,
por meio de campanhas publicitárias, aumente o número de mulheres examinadas.
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