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Oficiais da reserva condenam negociação
Para eles, falta de punição aos controladores de tráfego aéreo representa quebra de hierarquia e pode abrir precedentes
Ivan Frota diz que Lula pode sofrer processo de crime de responsabilidade caso não reveja decisão sobre a
desmilitarização do setor
LEANDRO BEGUOCI
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
JANAINA LAGE
SÉRGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Analistas e oficiais da reserva
condenaram a conduta do governo e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de negociar
com os amotinados e, principalmente, de não punir os líderes do movimento. Ontem, Lula recuou dessa decisão.
Ouvidos ontem pela Folha,
eles apontaram para o risco de
a "quebra de hierarquia" espalhar-se para outros setores das
Forças Armadas, mas não fizeram paralelo com a crise que
antecedeu o golpe militar de
1964. Naquele ano, o então presidente João Goulart evitou
que marinheiros rebelados fossem punidos pela Marinha.
"As Forças Armadas, em
qualquer lugar do mundo, têm
dois dogmas: a hierarquia e a
disciplina", afirmou o general
Benedito Onofre Bezerra Leonel, 76, ministro-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas
durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (pasta
antecessora do atual Ministério da Defesa).
"Um pequeno grupo foi contaminado por um sentimento
sindicalista, e isso tem de ser
expurgado. A atitude do governo foi temerária."
Para o o coronel reformado
Geraldo Cavagnari, membro do
Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, "todo esse sofrimento foi porque o governo
foi frouxo, não soube enfrentar
o assunto. Se eu sou favorável a
um reajuste salarial? Sou, mas
não pode ser desse jeito."
O almirante-de-esquadra
Mario Cesar Flores, 76, coordenador do núcleo de Segurança Internacional do Gacint
(Grupo de Análise da Conjuntura Internacional), afirmou
nunca ter visto algo como o que
ocorreu na sexta. "O que eu
percebo é que houve uma mutilação da autoridade", disse.
Para Jorge Zaverucha , 51,
professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco),
está havendo um "colapso da
autoridade". "Os militares já
violaram a hierarquia quando
se opuseram ao José Viegas
[ex-ministro da Defesa] e agora
estão enfrentando o problema
da hierarquia e da disciplina internamente."
Nelson Düring, analista do
site especializado em assuntos
militares Defesa Net, apontou
que o "objetivo real" dos controladores era uma melhoria
nos vencimentos. "Um grupo
de sindicalistas que se criou entre os controladores criou a falsa história da desmilitarização.
O governo não percebeu ao engolir esse factóide, quando deveria ter dado um freio."
Na avaliação do brigadeiro
Mauro Gandra, ex-ministro da
Aeronáutica durante o governo
FHC e ex-diretor-geral do DAC
(Departamento de Aviação Civil), a manifestação dos controladores na última sexta-feira
criou um "fato irreversível" e
agora resta esperar pela melhor solução possível.
"Houve insubordinação. E
quando a insubordinação é coletiva, é motim", afirmou.
O ex-ministro criticou a atitude dos controladores durante a paralisação. "Foi um aproveitamento covarde, porque o
presidente da República estava
fora do país", afirmou.
Clube da Aeronáutica
O presidente do Clube da Aeronáutica, tenente-brigadeiro-do-ar, Ivan Frota, condenou a
atuação do presidente Lula na
negociação com os controladores de vôo. Frota criticou também a postura do ministro da
Defesa, Waldir Pires, e disse
que ele exerce papel meramente decorativo.
O clube ameaça dar entrada
no STF (Supremo Tribunal Federal) com uma ação direta de
inconstitucionalidade e denúncia de crime de responsabilidade contra o presidente Lula caso a decisão de desmilitarizar o
controle do tráfego aéreo não
seja revista. O clube representa
a visão dos oficiais da reserva e
dos reformados. Tradicionalmente, estes oficiais são zelosos da hierarquia militar.
"O presidente tomou uma
atitude precipitada e está sujeito a processo de crime de responsabilidade por não ter punido uma falha combinada, prevista no Código Penal Militar.
Em tempo de guerra, a pena para um caso como esse seria a de
morte. Normalmente, uma falha como essa é punida com expulsão", disse.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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