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São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2003

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SAÚDE

Estudo da USP mostra que, para cada queda de 1C em temperaturas abaixo de 20C, óbitos de idosos aumentam 5,5%

Ondas de frio causam mais mortes em SP

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mudanças bruscas de temperatura, especialmente as chamadas ondas de frio, têm relação direta com aumento no índice de mortalidade em São Paulo, principalmente entre as crianças e os idosos.
É o que aponta um estudo epidemiológico realizado pelo médico Nélson da Cruz Gouveia, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) de São Paulo, publicado neste mês no "International Journal of Epidemiology", uma das revistas científicas mais renomadas na área de epidemiologia.
O trabalho, que analisou 212.577 mortes de causas não-externas ocorridas entre 1991 e 1994 na capital paulista, faz parte de uma pesquisa mais ampla realizada pela faculdade de higiene e medicina tropical da London School, que reúne informações de outras 12 cidades pelo mundo. Na Europa, por exemplo, há um maior aumento de mortes durante os dias mais quentes.
Segundo Gouveia, para cada diminuição de 1C em temperatura abaixo de 20C, foi verificado um aumento de 2,6% na mortalidade de adultos, 4% de crianças e 5,5% de idosos.
Já para cada aumento de 1C na temperatura ambiente, acima de 20C, observou-se um aumento de 1,5% na mortalidade geral entre adultos, de 2,6% entre as crianças e de 2,5% entre os idosos.
Ele afirma que o efeito da temperatura foi observado em todas as faixas etárias, mas com maior frequência nos grupos de zero a 14 anos e acima de 65 anos.
As mortes ocorridas durante as temperaturas mais frias, diz o médico, estiveram mais associadas com doenças respiratórias, embora também houvesse relação com as cardiorrespiratórias.
Para o pneumologista Clystenes Soares da Silva, coordenador do pronto-atendimento da pneumologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), no caso das doenças respiratórias, "essa é uma verdade que nem precisa de estatística para ser comprovada".
Além do frio e do tempo seco, afirma o pneumologista, o organismo interage com o ar poluído da capital, o que leva a uma maior incidência de doenças alérgicas, gripes, resfriados e pneumonias e, nos casos mais graves, à morte. No ambulatório da Unifesp, por exemplo, há um aumento de 30% a 40% no número de atendimentos durante os dias frios.
Na opinião do médico, muitas das mortes associadas ao frio podem ocorrer quando a temperatura já subiu, o que, geralmente, passa despercebido nos estudos epidemiológicos. "A pessoa pode pegar uma pneumonia, ir para o hospital, ter complicações e só morrer um mês depois", afirma.
Segundo Gouveia, a pesquisa feita em São Paulo analisou não apenas a temperatura do dia em que a morte ocorreu, como também a temperatura média dos dias que antecederam o registro do óbito.
O pesquisador afirma que o objetivo do estudo foi identificar os grupos mais vulneráveis em termos de idade e de condição socioeconômica. No aspecto socioeconômico, porém, não foi encontrada nenhuma diferença, ou seja, ricos e pobres sofreriam a mesma influência das mudanças bruscas de temperatura.
Para Gouveia, a pesquisa tem grande importância do ponto de vista de saúde pública. Em razão do já comprovado aquecimento global do planeta, prevê-se que, em diversas regiões, ocorrerão com maior frequência e intensidade as chamadas ondas de calor e de frio, ou seja, períodos curtos com temperaturas extremas.
"Sob o ponto de vista da saúde pública, é importante conhecer melhor o impacto imediato da temperatura ambiente na saúde da população", alerta o epidemiologista, ressaltando que, individualmente, podem ser reforçados os cuidados com as pessoas mais vulneráveis a essas mudanças.


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