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SAÚDE
Estudo da USP mostra que, para cada queda de 1C em temperaturas abaixo de 20C, óbitos de idosos aumentam 5,5%
Ondas de frio causam mais mortes em SP
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mudanças bruscas de temperatura, especialmente as chamadas
ondas de frio, têm relação direta
com aumento no índice de mortalidade em São Paulo, principalmente entre as crianças e os idosos.
É o que aponta um estudo epidemiológico realizado pelo médico Nélson da Cruz Gouveia, do
Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina
da USP (Universidade de São
Paulo) de São Paulo, publicado
neste mês no "International Journal of Epidemiology", uma das revistas científicas mais renomadas
na área de epidemiologia.
O trabalho, que analisou
212.577 mortes de causas não-externas ocorridas entre 1991 e 1994
na capital paulista, faz parte de
uma pesquisa mais ampla realizada pela faculdade de higiene e medicina tropical da London School,
que reúne informações de outras
12 cidades pelo mundo. Na Europa, por exemplo, há um maior aumento de mortes durante os dias
mais quentes.
Segundo Gouveia, para cada diminuição de 1C em temperatura
abaixo de 20C, foi verificado um
aumento de 2,6% na mortalidade
de adultos, 4% de crianças e 5,5%
de idosos.
Já para cada aumento de 1C na
temperatura ambiente, acima de
20C, observou-se um aumento
de 1,5% na mortalidade geral entre adultos, de 2,6% entre as crianças e de 2,5% entre os idosos.
Ele afirma que o efeito da temperatura foi observado em todas
as faixas etárias, mas com maior
frequência nos grupos de zero a 14
anos e acima de 65 anos.
As mortes ocorridas durante as
temperaturas mais frias, diz o médico, estiveram mais associadas
com doenças respiratórias, embora também houvesse relação com
as cardiorrespiratórias.
Para o pneumologista Clystenes
Soares da Silva, coordenador do
pronto-atendimento da pneumologia da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo), no caso das
doenças respiratórias, "essa é
uma verdade que nem precisa de
estatística para ser comprovada".
Além do frio e do tempo seco,
afirma o pneumologista, o organismo interage com o ar poluído
da capital, o que leva a uma maior
incidência de doenças alérgicas,
gripes, resfriados e pneumonias e,
nos casos mais graves, à morte.
No ambulatório da Unifesp, por
exemplo, há um aumento de 30%
a 40% no número de atendimentos durante os dias frios.
Na opinião do médico, muitas
das mortes associadas ao frio podem ocorrer quando a temperatura já subiu, o que, geralmente,
passa despercebido nos estudos
epidemiológicos. "A pessoa pode
pegar uma pneumonia, ir para o
hospital, ter complicações e só
morrer um mês depois", afirma.
Segundo Gouveia, a pesquisa
feita em São Paulo analisou não
apenas a temperatura do dia em
que a morte ocorreu, como também a temperatura média dos
dias que antecederam o registro
do óbito.
O pesquisador afirma que o objetivo do estudo foi identificar os
grupos mais vulneráveis em termos de idade e de condição socioeconômica. No aspecto socioeconômico, porém, não foi encontrada nenhuma diferença, ou seja,
ricos e pobres sofreriam a mesma
influência das mudanças bruscas
de temperatura.
Para Gouveia, a pesquisa tem
grande importância do ponto de
vista de saúde pública. Em razão
do já comprovado aquecimento
global do planeta, prevê-se que,
em diversas regiões, ocorrerão
com maior frequência e intensidade as chamadas ondas de calor
e de frio, ou seja, períodos curtos
com temperaturas extremas.
"Sob o ponto de vista da saúde
pública, é importante conhecer
melhor o impacto imediato da
temperatura ambiente na saúde
da população", alerta o epidemiologista, ressaltando que, individualmente, podem ser reforçados
os cuidados com as pessoas mais
vulneráveis a essas mudanças.
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