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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003

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COMPORTAMENTO

Casal foi advertido por segurança após beijo

Homossexuais organizam "beijaço" em shopping center de São Paulo

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grande beijo. Essa é a resposta que entidades de defesa dos direitos de homossexuais querem dar hoje a um incidente ocorrido no começo do mês passado no Shopping Frei Caneca, localizado na região da avenida Paulista.
Está marcado para as 17h um "beijaço", que deverá contar com participação de simpatizantes de quatro associações, lideradas pelo Grupo Corsa.
Tudo teria começado com um beijo, mas virou caso de polícia e queixa na Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania. Opõe um casal de rapazes homossexuais, que afirma ter "apenas trocado um beijo", e a direção do shopping, para quem eles agiram de forma "questionável" e cometeram "excessos".
No dia 6 de julho, o jornalista João Xavier, 25, e seu namorado Rodrigo Rocha, 22, publicitário, encontraram-se no shopping para ir ao cinema. Segundo Xavier, trocaram um beijo ("tipo selinho") e deram um abraço, quando foram interpelados por um segurança. "Na hora eu não entendi direito. Mas, quando ele falou que era por causa do beijo, não acreditei", diz Xavier. "Eu falei que eu tinha o direito de fazer aquilo, que há uma lei que garante isso."
A lei é estadual, nš 10.948, e está em vigor desde 2001. Tem por objetivo coibir a discriminação à orientação sexual e garante o direito à "expressão da afetividade".
Ainda segundo Xavier, foi com base nessa legislação que ele chamou a polícia. Acabaram todos (ele, o namorado mais o pessoal do shopping) na delegacia.
Em nota divulgada na quinta-feira, a direção do shopping afirmou que o casal foi tratado com "cortesia e respeito" e que "só foi abordado pelo segurança porque estava cometendo excessos".
A Folha solicitou à direção do shopping que especificasse que tipo de excesso fora cometido. Wilson Pelizaro, superintendente, disse o seguinte: "A orientação da nossa equipe de segurança é de, utilizando bom senso, solicitar a interrupção de atitudes que causem constrangimento às outras pessoas, partam elas de casais homo ou heterossexuais. A informação que tenho é de que o casal de rapazes estava agindo de forma questionável e foi a eles solicitado a interrupção do ato."
Estabelecido o impasse, uma comissão da Secretaria da Justiça vai agora avaliar o caso.
De acordo com Lula Ramirez, coordenador do Grupo Corsa, a intenção do "beijaço" de hoje não é protestar contra o estabelecimento nem hostilizar ninguém.
"O shopping se localiza numa área de grande concentração de homossexuais. Nós queremos continuar a frequentá-lo. Por isso queremos que as pessoas saibam que nós existimos e que nos beijamos", afirma Ramirez.
Se depender da disposição da direção do local, o "beijaço" ocorrerá sem problemas. Wilson Pelizaro afirmou que acredita tratar-se de "um ato pacífico e importante para a consolidação de uma sociedade que convive em harmonia com a diversidade".


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