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EXCLUSÃO SOCIAL
Secretário diz que irá encaminhar crianças às famílias ou a abrigos; para ele, entidade deve propor parcerias
Para Serra, dar "casinha" é solução absurda
DA REPORTAGEM LOCAL
A Prefeitura de São Paulo tentará descobrir de onde as crianças
que moravam nas "casas de bonecas" perto do shopping Tatuapé
vieram e se ainda têm família. Segundo o secretário municipal da
Assistência e Desenvolvimento
Social, Floriano Pesaro, o objetivo
da administração é, primeiro, tentar levá-las de volta ao antigo lar.
Se isso não for possível, elas serão
encaminhadas a um abrigo.
As duas casas em que três crianças viviam foram retiradas ontem
pela Subprefeitura da Mooca. Os
meninos, porém, continuaram na
rua. As moradias foram instaladas pela Associação Casa da
Criança de Nossa Senhora Aparecida nesse local. Uma casinha em
Aricanduva (zona leste da cidade)
também foi retirada.
"Pensamos em dar uma bolsa
do Peti [Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil] às famílias
dessas crianças. Faremos o diagnóstico e depois decidiremos o
que fazer", diz o secretário.
De acordo com ele, a entidade
não deveria ter atuado dessa maneira. "Faço um apelo para que
façamos um trabalho articulado,
de parcerias", diz.
Ele disse que foram criadas
6.700 vagas em albergues em sete
anos e que, neste ano, na operação de inverno da prefeitura, mil
vagas surgiram. Para as crianças,
foram criadas 145 vagas -além
das 700 já existentes.
O prefeito José Serra (PSDB)
disse ontem que acha um "absurdo completo" a iniciativa da Associação Casa da Criança Nossa Senhora Aparecida de disponibilizar pequenas casas feitas de madeira com teto de zinco para os
moradores de rua da cidade.
"Botar casinha de cachorro para
morador de rua ficar é querer perpetuar a condição desse morador.
É uma solução absurda e que a
prefeitura não vai permitir."
Serra disse que os moradores de
rua devem procurar os albergues
da prefeitura, onde terão bom
atendimento e orientação adequada, voltada a um trabalho de
recuperação.
O prefeito afirmou ainda que
não discute as intenções da associação, mas acha que o resultado é
desastroso. Ele lembrou que saiu
em uma madrugada fria para
conversar com os moradores de
rua e, dos cinco que ele abordou,
apenas um quis ir ao albergue.
"Se você colocar casinha para
eles ficarem, eles não sairão nunca
mais. E é um prejuízo para eles
próprios, evidentemente, pois casinha de cachorro é para cachorro, e não para ser humano."
Investigação
O promotor de Justiça da Infância e da Juventude, Eduardo Dias
de Souza Ferreira, diz que irá averiguar se a entidade agiu de forma
irregular ao doar as casinhas.
"A princípio, não gostaria de dizer se o que eles fizeram foi certo
ou errado. A gente tem que ver o
contexto como um todo. As casinhas não são adequadas e o poder
público as desmanchou. Mas a
pergunta é: tirando as casinhas, o
que foi oferecido para preservar a
dignidade dessas crianças?"
Segundo ele, a entidade poderia
ter ajudado as crianças encaminhando-as para um serviço de
abrigo ou denunciando a situação
delas para o Conselho Tutelar.
"Essa história traz à baila de uma
forma bem chocante essa questão
social", diz o promotor.
O padre Júlio Lancellotti, da
Pastoral do Menor, diz que amanhã será realizada uma reunião
entre diversas entidades que
atuam com moradores de rua para propor sugestões de habitação
para a prefeitura.
"Não queremos promessas.
Queremos um cronograma."
(AFRA BALAZINA, RENATA BAPTISTA E AMARÍLIS LAGE)
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