São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2007

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"Fiquei chocada", diz irmã, ao saber que corpo tinha sido trocado

RAFAEL TARGINO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A família do empresário Márcio Andrade, vítima do acidente com o Airbus da TAM, reviveu nesta semana a dor de enterrá-lo. O motivo é que o IML (Instituto Médico Legal) havia entregue o caixão aos parentes com um corpo que não era o de Márcio, mas de outra vítima. O equívoco só foi percebido duas semanas depois. A irmã de Márcio, Cláudia Andrade, que mora em Monte Aprazível (475 km da capital paulista), conta que achou estranho a diretoria do instituto ligar à noite para ela para tratar de um assunto que só poderia ser resolvido pessoalmente. "Fiquei chocada", diz, quando soube do que se tratava a visita. Márcio estava com a mulher, Melissa, a filha, Alanis, e o cunhado André Ura. Todos os corpos já foram identificados.

 

FOLHA - Como a família ficou sabendo da troca dos corpos?
CLÁUDIA ANDRADE -
Recebemos um telefonema da diretoria do IML na terça-feira à tarde, perguntando se poderíamos receber na nossa casa, às 19h30, um dos responsáveis pela identificação dos corpos do acidente. Disseram que não podia ser por telefone. Só que eles não chegavam. A gente achou que era trote. Eles chegaram por volta de 23h30. Disseram que o avião deles levou três horas para decolar de Congonhas. Quando chegaram, explicaram que tínhamos enterrado um corpo não-identificado. Saíram lá de casa às 2h.

FOLHA - Qual foi sua reação? CLÁUDIA - Fiquei chocada. Percebi que realmente não era um trote, mas não dava nem para imaginar que era algo assim. É um choque, um choque. Ninguém merece isso. Para a família toda, é dolorido mesmo.

FOLHA - Seus pais ficaram sabendo da troca nesse momento?
CLÁUDIA -
Inicialmente, não. Eles estavam na residência deles, e o pessoal do IML aconselhou que não disséssemos nada por enquanto para evitar mais dor. Nós e um casal amigo chegamos à conclusão de que seria melhor poupá-los.

FOLHA - Quando você contou?
CLÁUDIA -
Não cheguei a contar. Meus pais viram a notícia de que haviam trocado o corpo do Márcio durante o almoço, na TV. Eu ainda não tinha chegado em casa, vindo do novo enterro [em Birigüi, a 518 km de SP]. Minha mãe ficou estarrecida. Foi muito ruim. Mesmo a gente tendo pedido sigilo, divulgaram o nome. Mas é uma coisa que não dá para controlar.

FOLHA - Para a família, quem é o maior responsável pelo erro?
CLÁUDIA -
Na verdade, o processo todo -baseado no que comentaram- é muito falho. Como vão lá, pegam um corpo e não têm um controle, não checam? Não entendo como deixam isso ficar a cargo do agente funerário. Imagino que foi uma fatalidade. Eles não queriam, mas aconteceu.

FOLHA - Vocês pretendem processar o governo por causa da troca?
CLÁUDIA -
Para ser superfranca, a gente não chegou a cogitar isso ainda. Nem meu pai nem minha mãe sequer pensaram nisso. Isso não quer dizer que, no futuro, a gente faça algo.

FOLHA - Depois do acidente e do erro do IML, como está a família?
CLÁUDIA -
É difícil dimensionar, não tem uma palavra. Nada vai ser igual. Não tem nem como dizer. Nós pelo menos ficamos tranqüilos, porque ele era uma boa pessoa. As lembranças que ficam são sempre boas.


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