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"Fiquei chocada", diz irmã, ao saber que corpo tinha sido trocado
RAFAEL TARGINO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A família do empresário
Márcio Andrade, vítima do acidente com o Airbus da TAM,
reviveu nesta semana a dor de
enterrá-lo. O motivo é que o
IML (Instituto Médico Legal)
havia entregue o caixão aos parentes com um corpo que não
era o de Márcio, mas de outra
vítima. O equívoco só foi percebido duas semanas depois.
A irmã de Márcio, Cláudia
Andrade, que mora em Monte
Aprazível (475 km da capital
paulista), conta que achou estranho a diretoria do instituto
ligar à noite para ela para tratar
de um assunto que só poderia
ser resolvido pessoalmente.
"Fiquei chocada", diz, quando
soube do que se tratava a visita.
Márcio estava com a mulher,
Melissa, a filha, Alanis, e o cunhado André Ura. Todos os
corpos já foram identificados.
FOLHA - Como a família ficou sabendo da troca dos corpos?
CLÁUDIA ANDRADE - Recebemos
um telefonema da diretoria do
IML na terça-feira à tarde, perguntando se poderíamos receber na nossa casa, às 19h30, um
dos responsáveis pela identificação dos corpos do acidente.
Disseram que não podia ser por
telefone. Só que eles não chegavam. A gente achou que era trote. Eles chegaram por volta de
23h30. Disseram que o avião
deles levou três horas para decolar de Congonhas. Quando
chegaram, explicaram que tínhamos enterrado um corpo
não-identificado. Saíram lá de
casa às 2h.
FOLHA - Qual foi sua reação?
CLÁUDIA - Fiquei chocada. Percebi que realmente não era um
trote, mas não dava nem para
imaginar que era algo assim. É
um choque, um choque. Ninguém merece isso. Para a família toda, é dolorido mesmo.
FOLHA - Seus pais ficaram sabendo
da troca nesse momento?
CLÁUDIA - Inicialmente, não.
Eles estavam na residência deles, e o pessoal do IML aconselhou que não disséssemos nada
por enquanto para evitar mais
dor. Nós e um casal amigo chegamos à conclusão de que seria
melhor poupá-los.
FOLHA - Quando você contou?
CLÁUDIA - Não cheguei a contar.
Meus pais viram a notícia de
que haviam trocado o corpo do
Márcio durante o almoço, na
TV. Eu ainda não tinha chegado
em casa, vindo do novo enterro
[em Birigüi, a 518 km de SP].
Minha mãe ficou estarrecida.
Foi muito ruim. Mesmo a gente
tendo pedido sigilo, divulgaram
o nome. Mas é uma coisa que
não dá para controlar.
FOLHA - Para a família, quem é o
maior responsável pelo erro?
CLÁUDIA - Na verdade, o processo todo -baseado no que
comentaram- é muito falho.
Como vão lá, pegam um corpo e
não têm um controle, não checam? Não entendo como deixam isso ficar a cargo do agente
funerário. Imagino que foi uma
fatalidade. Eles não queriam,
mas aconteceu.
FOLHA - Vocês pretendem processar o governo por causa da troca?
CLÁUDIA - Para ser superfranca,
a gente não chegou a cogitar isso ainda. Nem meu pai nem minha mãe sequer pensaram nisso. Isso não quer dizer que, no
futuro, a gente faça algo.
FOLHA - Depois do acidente e do
erro do IML, como está a família?
CLÁUDIA - É difícil dimensionar, não tem uma palavra. Nada
vai ser igual. Não tem nem como dizer. Nós pelo menos ficamos tranqüilos, porque ele era
uma boa pessoa. As lembranças
que ficam são sempre boas.
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