São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2006

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Albergues mudam o perfil de vila em Ipanema

Alguns estão no guia de viagens Lonely Planet; diária fica em torno de R$ 40

Convivência entre os poucos moradores e os mochileiros é ponto alto do lugar, diz neozelandês, proprietário de um dos estabelecimentos

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Dia e noite é um tremendo entra-e-sai de estrangeiros. Jovens mochileiros de várias partes do mundo descobriram o que muitos cariocas não sabem. No coração de Ipanema, área nobre da zona sul do Rio, há uma vila com 11 albergues. Próximos a hotéis chiques e caros, oferecem cama e café da manhã por apenas R$ 40.
A vila de 20 casas existe há pelo menos 60 anos. A primeira casa a se transformar em albergue foi a de número 18, há cerca de seis anos. Depois, outras foram aderindo à moda. Hoje, há apenas cinco casas familiares.
Alguns albergues já fazem parte do guia Lonely Planet, bíblia do viajante, e de outros guias de viagem. É o caso do Karisma Ipanema Hostel, uma casa com quatro quartos mobiliados com beliches, com lugar para 16 mochileiros. A cozinha também é dividida e o café da manhã (pão, manteiga, queijo, geléia, café e chá) é garantido.
Renata Pinheiro, 19, estudante de turismo, trabalha há dois meses no Karisma. Também trabalhou em outro albergue ali mesmo e adora o lugar. O mesmo sentimento é compartilhado por Rob, um neozelandês de 33 anos que gerencia o mais novo albergue da vila, The Lighthouse, com dez vagas.
Ele e a mulher, uma brasileira chamada Sílvia, resolveram, há um ano e seis meses, alugar uma casa na vila para morar e para fazer dela um albergue. "Eu já fiquei em albergues aqui nas minhas viagens ao Brasil e achei que era o lugar ideal para morar e trabalhar. Gosto dessa vida, de estar sempre em contato com gente de várias países", afirma, com o sotaque típico de quem ainda está aprendendo o português.
O neozelandês conta que a maior parte dos albergues se vale da propaganda boca-a-boca. "Os backpackers [mochileiros] vêm para cá e levam a boa impressão para os amigos, que acabam retornando. Eles se sentem em casa, aqui, até porque estamos sempre dando dicas de lugares para visitar, e também dicas de segurança."
A segurança, aliás, apesar de os roubos terem aumentado no primeiro semestre desde ano quase 7%, em relação ao mesmo período do ano passado, não é preocupação para Rob. No albergue gerenciado por ele estava hospedado o grupo de turistas assaltado na Lapa há duas semanas. "Isso foi um acaso, assaltos têm em todas as grandes cidades", diz.
Para ele, o clima de convivência ali, entre os mochileiros e os poucos moradores, é o ponto alto da vila. Bárbara Dalincourt, 32, que administra o Wave Hostel, com 14 lugares, concorda. "Depois das 22h, não tem barulho. Os alberguistas são muito educados e gostam de ficar por aqui tocando violão e conversando, mas não são barulhentos. Sabem das regras da vila", afirma.
Bárbara conta que cada albergue tem um perfil e que, por isso, não há concorrência entre os estabelecimentos. "No nosso vêm mais surfistas, mas às vezes está lotado ou a pessoa não gostou do quarto e a gente indica outro. Não há problemas por isso", diz.

Sem alvará
Alguns dos albergues não têm alvará de funcionamento e seus moradores, claro, negam a atividade comercial. É o caso dos moradores da casa número 10. Mas pela janela pode-se ver, nas paredes, mapas de turismo e vários cartazes em inglês.
As reclamações passam despercebidas pelos turistas. O casal Richard Fulachiron, 28, e Helen, 29, ele americano e ela inglesa, estão no Brasil pela primeira vez. Descobriram a vila no Lonely Planet. A idéia de estar num lugar que concentra tantos pequenos albergues atraiu o casal. "É aconchegante e temos a oportunidade de conhecer outras pessoas. Essa vila, para nós, está perfeita."


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