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Albergues mudam o perfil de vila em Ipanema
Alguns estão no guia de viagens Lonely Planet; diária fica em torno de R$ 40
Convivência entre os poucos moradores e os mochileiros é ponto alto do lugar, diz neozelandês, proprietário de um dos estabelecimentos
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
Dia e noite é um tremendo
entra-e-sai de estrangeiros. Jovens mochileiros de várias partes do mundo descobriram o
que muitos cariocas não sabem.
No coração de Ipanema, área
nobre da zona sul do Rio, há
uma vila com 11 albergues. Próximos a hotéis chiques e caros,
oferecem cama e café da manhã
por apenas R$ 40.
A vila de 20 casas existe há
pelo menos 60 anos. A primeira
casa a se transformar em albergue foi a de número 18, há cerca
de seis anos. Depois, outras foram aderindo à moda. Hoje, há
apenas cinco casas familiares.
Alguns albergues já fazem
parte do guia Lonely Planet, bíblia do viajante, e de outros
guias de viagem. É o caso do Karisma Ipanema Hostel, uma casa com quatro quartos mobiliados com beliches, com lugar para 16 mochileiros. A cozinha
também é dividida e o café da
manhã (pão, manteiga, queijo,
geléia, café e chá) é garantido.
Renata Pinheiro, 19, estudante de turismo, trabalha há
dois meses no Karisma. Também trabalhou em outro albergue ali mesmo e adora o lugar.
O mesmo sentimento é compartilhado por Rob, um neozelandês de 33 anos que gerencia
o mais novo albergue da vila,
The Lighthouse, com dez vagas.
Ele e a mulher, uma brasileira chamada Sílvia, resolveram,
há um ano e seis meses, alugar
uma casa na vila para morar e
para fazer dela um albergue.
"Eu já fiquei em albergues aqui
nas minhas viagens ao Brasil e
achei que era o lugar ideal para
morar e trabalhar. Gosto dessa
vida, de estar sempre em contato com gente de várias países",
afirma, com o sotaque típico de
quem ainda está aprendendo o
português.
O neozelandês conta que a
maior parte dos albergues se
vale da propaganda boca-a-boca. "Os backpackers [mochileiros] vêm para cá e levam a boa
impressão para os amigos, que
acabam retornando. Eles se
sentem em casa, aqui, até porque estamos sempre dando dicas de lugares para visitar, e
também dicas de segurança."
A segurança, aliás, apesar de
os roubos terem aumentado no
primeiro semestre desde ano
quase 7%, em relação ao mesmo período do ano passado,
não é preocupação para Rob.
No albergue gerenciado por ele
estava hospedado o grupo de
turistas assaltado na Lapa há
duas semanas. "Isso foi um acaso, assaltos têm em todas as
grandes cidades", diz.
Para ele, o clima de convivência ali, entre os mochileiros e os
poucos moradores, é o ponto
alto da vila. Bárbara Dalincourt, 32, que administra o Wave Hostel, com 14 lugares, concorda. "Depois das 22h, não
tem barulho. Os alberguistas
são muito educados e gostam
de ficar por aqui tocando violão
e conversando, mas não são barulhentos. Sabem das regras da
vila", afirma.
Bárbara conta que cada albergue tem um perfil e que, por
isso, não há concorrência entre
os estabelecimentos. "No nosso
vêm mais surfistas, mas às vezes está lotado ou a pessoa não
gostou do quarto e a gente indica outro. Não há problemas por
isso", diz.
Sem alvará
Alguns dos albergues não
têm alvará de funcionamento e
seus moradores, claro, negam a
atividade comercial. É o caso
dos moradores da casa número
10. Mas pela janela pode-se ver,
nas paredes, mapas de turismo
e vários cartazes em inglês.
As reclamações passam despercebidas pelos turistas. O casal Richard Fulachiron, 28, e
Helen, 29, ele americano e ela
inglesa, estão no Brasil pela primeira vez. Descobriram a vila
no Lonely Planet. A idéia de estar num lugar que concentra
tantos pequenos albergues
atraiu o casal. "É aconchegante
e temos a oportunidade de conhecer outras pessoas. Essa vila, para nós, está perfeita."
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