População incorporou novas necessidades; um amplo campo de trabalho está aberto para os jovens arquitetos

EM CALOROSAS REUNIÕES DOS CONDÔMINOS SÃO DEBATIDOS OS PRÓS E CONTRAS DA COZINHA INTEGRADA À SALA

ELISABETE FRANÇA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Aos poucos, a urbanização de favelas vai sendo incorporada ao campo da arquitetura e do urbanismo como um de seus objetos de intervenção. Porém ainda são poucos os que se dedicam ao tema.
A transformação de partes do território municipal, incorretamente denominadas informais, ocasionam mudanças profundas no cotidiano das famílias, desde a sua inclusão na cidade formal até o despertar da cidadania.
Mesmo os que trabalham com o assunto há algum tempo são pegos de surpresa com tais transformações.
O que mais chama a atenção no momento é o trato dado à decoração dos novos apartamentos populares, a preocupação com a organização do espaço interno.
Os projetos de arquitetura adotados nas urbanizações resultaram na incorporação de novas necessidades.
Em calorosas reuniões dos futuros condôminos são debatidos os prós e contras da cozinha integrada à sala, da possibilidade de reversão e remoção de paredes, tudo com vistas ao planejamento da compra e disposição do novo mobiliário e das peças de decoração do ambiente.
Um novo e amplo campo de trabalho está aberto para os jovens arquitetos.
É um desafio para uma profissão vista por grande parte da sociedade como elitista, quando não supérflua.
Trata-se, porém, de um desafio fácil de ser enfrentado, porque nos assentamentos mais precários da cidade encontra-se uma qualidade de relações comunitárias, de amizade e convívio, que certamente não existe em nenhum bairro de São Paulo.
A apropriação da boa arquitetura é um momento importante da incorporação dos moradores das favelas à cidade formal. As fotos dos apartamentos decorados são uma imagem da diferença que isso faz.