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Antigos moradores se mobilizam contra Morumbi "popular"
Trânsito, barulho de festas em casarões desocupados e,
agora, desapropriações do Metrô são algumas das queixas
Bairro nobre paulistano ganhou mais de cem prédios voltados para classe média durante as últimas duas décadas
TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO
O Morumbi das casas luxuosas e das árvores que
sombreiam as calçadas não é
mais o mesmo. Os moradores
de classe alta do bairro, localizado na zona oeste de São
Paulo, reclamam da "popularização" do local, que trouxe junto trânsito, barulho e
brigas antes inesperadas.
O crescimento do bairro
não foi acompanhado de investimento na infraestrutura, dizem antigos moradores.
Nos últimos 17 anos, mais
de cem prédios residenciais
foram lançados. "As avenidas não comportam mais e
não tem ônibus. Para ir à casa da minha irmã, a 4 km daqui, tenho que usar o carro e
ficar no congestionamento",
diz Bruna De Felice, 62, que
desde que mudou para o
bairro, há 28 anos, "aguenta"
o incômodo gerado pelos jogos no estádio do Morumbi.
Recentemente, a dona-de-casa passou a enfrentar um
trânsito ainda mais complicado. Proibidos de circular
pela marginal Pinheiros, caminhões passaram a usar as
ruas principais do bairro, como a Giovanni Gronchi. A rota foi proibida na semana
passada, mas os caminhões
continuam, já que ainda não
estão recebendo multas.
Agora, diz ter ganho uma
nova dor de cabeça: a casa
que construiu com o marido
pode ser desapropriada para
dar espaço ao projeto da linha 17-ouro do Metrô -a briga mais nova dos moradores.
O projeto terá um monotrilho (trem que trafega sobre
vias elevadas) cortando as
ruas próximas do estádio e
do cemitério do Morumbi.
Moradores têm se mobilizado por meio de abaixo-assinados e reuniões contra o
que, afirmam eles, será o novo Minhocão de São Paulo.
O Metrô afirma que o projeto do monotrilho terá impacto visual menor do que o
do Minhocão, como é conhecido o elevado Costa e Silva.
Para moradores, o monotrilho, que irá até o aeroporto
de Congonhas, trará benefício só à população de Paraisópolis, segunda maior favela em número de habitantes
da cidade que pertence ao
distrito vizinho de Vila Andrade, já na zona sul.
NOVOS VIZINHOS
Os moradores dizem que o
bairro se tornou mais heterogêneo nos últimos anos, com
presença maior da classe média. Apartamentos próximos
à avenida Morumbi foram
lançados, recentemente, a
menos de R$ 100 mil.
A chegada dos novos vizinhos coincidiu com a saída
de muitos moradores tradicionais do bairro. "Ficou
muito diferente. As pessoas
têm preferido morar em apartamento porque é mais seguro. E aqui está perdendo a característica de bairro mais
nobre", diz o aposentado
Otávio Miniguini, 77, vizinho
do clube Paineiras e morador
do Morumbi desde 1971.
As casas desocupadas
trouxeram um novo problema: costumam ser alugadas
para festas barulhentas que
chegam a atrair 2.000 pessoas em uma única noite.
A urbanista Marta Grostein, do Lume (Laboratório
de Urbanismo da Metrópole),
da USP, diz entretanto que
essa "popularização" do
bairro é positiva. "É uma região que é parte da cidade,
não uma ilha isolada. E o
transporte público é sempre
um benefício, desde que o
projeto tenha qualidade."
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