São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2010

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Antigos moradores se mobilizam contra Morumbi "popular"

Trânsito, barulho de festas em casarões desocupados e, agora, desapropriações do Metrô são algumas das queixas

Bairro nobre paulistano ganhou mais de cem prédios voltados para classe média durante as últimas duas décadas

TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO

O Morumbi das casas luxuosas e das árvores que sombreiam as calçadas não é mais o mesmo. Os moradores de classe alta do bairro, localizado na zona oeste de São Paulo, reclamam da "popularização" do local, que trouxe junto trânsito, barulho e brigas antes inesperadas.
O crescimento do bairro não foi acompanhado de investimento na infraestrutura, dizem antigos moradores.
Nos últimos 17 anos, mais de cem prédios residenciais foram lançados. "As avenidas não comportam mais e não tem ônibus. Para ir à casa da minha irmã, a 4 km daqui, tenho que usar o carro e ficar no congestionamento", diz Bruna De Felice, 62, que desde que mudou para o bairro, há 28 anos, "aguenta" o incômodo gerado pelos jogos no estádio do Morumbi.
Recentemente, a dona-de-casa passou a enfrentar um trânsito ainda mais complicado. Proibidos de circular pela marginal Pinheiros, caminhões passaram a usar as ruas principais do bairro, como a Giovanni Gronchi. A rota foi proibida na semana passada, mas os caminhões continuam, já que ainda não estão recebendo multas.
Agora, diz ter ganho uma nova dor de cabeça: a casa que construiu com o marido pode ser desapropriada para dar espaço ao projeto da linha 17-ouro do Metrô -a briga mais nova dos moradores.
O projeto terá um monotrilho (trem que trafega sobre vias elevadas) cortando as ruas próximas do estádio e do cemitério do Morumbi.
Moradores têm se mobilizado por meio de abaixo-assinados e reuniões contra o que, afirmam eles, será o novo Minhocão de São Paulo.
O Metrô afirma que o projeto do monotrilho terá impacto visual menor do que o do Minhocão, como é conhecido o elevado Costa e Silva.
Para moradores, o monotrilho, que irá até o aeroporto de Congonhas, trará benefício só à população de Paraisópolis, segunda maior favela em número de habitantes da cidade que pertence ao distrito vizinho de Vila Andrade, já na zona sul.

NOVOS VIZINHOS
Os moradores dizem que o bairro se tornou mais heterogêneo nos últimos anos, com presença maior da classe média. Apartamentos próximos à avenida Morumbi foram lançados, recentemente, a menos de R$ 100 mil.
A chegada dos novos vizinhos coincidiu com a saída de muitos moradores tradicionais do bairro. "Ficou muito diferente. As pessoas têm preferido morar em apartamento porque é mais seguro. E aqui está perdendo a característica de bairro mais nobre", diz o aposentado Otávio Miniguini, 77, vizinho do clube Paineiras e morador do Morumbi desde 1971.
As casas desocupadas trouxeram um novo problema: costumam ser alugadas para festas barulhentas que chegam a atrair 2.000 pessoas em uma única noite.
A urbanista Marta Grostein, do Lume (Laboratório de Urbanismo da Metrópole), da USP, diz entretanto que essa "popularização" do bairro é positiva. "É uma região que é parte da cidade, não uma ilha isolada. E o transporte público é sempre um benefício, desde que o projeto tenha qualidade."


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