São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2004

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Projeto oferece apoio psicológico às famílias

DA REPORTAGEM LOCAL

Além da coleta do DNA e do cruzamento das informações, o projeto da USP, chamado Caminho de Volta, está fornecendo apoio psicológico às famílias desde o início do processo de busca, com a realização do boletim de ocorrência, até a criança ser encontrada e reintegrada à família.
Segundo Gilka Gattás, o desaparecimento causa um desequilíbrio emocional familiar muito grande. "A família de uma pessoa desaparecida é uma família doente e precisa de ajuda", afirma.
Nesse primeiro mês de funcionamento do projeto, os psicólogos também se depararam com um grande número de fugas, provocados, na maioria das vezes, por situações de conflito familiar.
Das 33 crianças e adolescentes desaparecidas cadastradas no projeto, apenas dois casos se caracterizam como seqüestro. No primeiro, um menino de quatro anos foi levado de um carro enquanto o pai entrou na padaria para comprar água. No outro, uma menina foi arrancada dos braços da mãe a mando do pai, um presidiário. Os demais desaparecimentos são, na realidade, fugas. Tanto que 11 deles haviam sido esclarecidos até a última sexta-feira, após o retorno espontâneo dos "desaparecidos" às suas casas. Um dos meninos, de 14 anos, já tinha fugido quatro vezes.
De acordo com a psicóloga Cláudia Garcia, coordenadora da área psicológica do projeto, é fundamental o apoio a essas famílias para evitar a reincidência das fugas. Além disso, explica ela, somente após a compreensão dos motivos que estão levando essas crianças a saírem de casa é que será possível estabelecer medidas eficazes de prevenção. Acredita-se que a maioria dos casos esteja relacionada à violência familiar, abuso sexual e miséria.
"Temos desde adolescentes que saem para viver uma aventura até aqueles que preferem a rua porque encontram o que comer", diz. Após o acompanhamento inicial, a proposta é encaminhar as famílias a serviços psicológicos ligados às instituições de ensino.
Cláudia Garcia afirma que as informações coletadas devem compor um levantamento epidemiológico sobre desaparecimento de crianças e adolescentes, o primeiro do gênero no país. "Sem um estudo abrangente sobre as causas [dos desaparecimentos], fica difícil pensar em medidas preventivas", explica a psicóloga.
Hoje, segundo ela, muitas famílias que reencontram seus desaparecidos não retornam à delegacia para esclarecer os fatos.

Atendimento imediato
Os psicólogos do projeto ficam em uma sala dentro do DHPP para atender imediatamente as famílias que forem fazer queixa de desaparecimento. Além do atendimento psicossocial, são eles que fazem a coleta do sangue e da saliva e encaminham o material ao banco de DNA. As ocorrências registradas em outras delegacias também são repassadas ao grupo, que convida a família a fazer parte do projeto. (CC)


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