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Projeto oferece apoio psicológico às famílias
DA REPORTAGEM LOCAL
Além da coleta do DNA e do
cruzamento das informações, o
projeto da USP, chamado Caminho de Volta, está fornecendo
apoio psicológico às famílias desde o início do processo de busca,
com a realização do boletim de
ocorrência, até a criança ser encontrada e reintegrada à família.
Segundo Gilka Gattás, o desaparecimento causa um desequilíbrio
emocional familiar muito grande.
"A família de uma pessoa desaparecida é uma família doente e precisa de ajuda", afirma.
Nesse primeiro mês de funcionamento do projeto, os psicólogos também se depararam com
um grande número de fugas, provocados, na maioria das vezes,
por situações de conflito familiar.
Das 33 crianças e adolescentes
desaparecidas cadastradas no
projeto, apenas dois casos se caracterizam como seqüestro. No
primeiro, um menino de quatro
anos foi levado de um carro enquanto o pai entrou na padaria
para comprar água. No outro,
uma menina foi arrancada dos
braços da mãe a mando do pai,
um presidiário. Os demais desaparecimentos são, na realidade,
fugas. Tanto que 11 deles haviam
sido esclarecidos até a última sexta-feira, após o retorno espontâneo dos "desaparecidos" às suas
casas. Um dos meninos, de 14
anos, já tinha fugido quatro vezes.
De acordo com a psicóloga
Cláudia Garcia, coordenadora da
área psicológica do projeto, é fundamental o apoio a essas famílias
para evitar a reincidência das fugas. Além disso, explica ela, somente após a compreensão dos
motivos que estão levando essas
crianças a saírem de casa é que será possível estabelecer medidas
eficazes de prevenção. Acredita-se que a maioria dos casos esteja
relacionada à violência familiar,
abuso sexual e miséria.
"Temos desde adolescentes que
saem para viver uma aventura até
aqueles que preferem a rua porque encontram o que comer", diz.
Após o acompanhamento inicial,
a proposta é encaminhar as famílias a serviços psicológicos ligados
às instituições de ensino.
Cláudia Garcia afirma que as informações coletadas devem compor um levantamento epidemiológico sobre desaparecimento de
crianças e adolescentes, o primeiro do gênero no país. "Sem um estudo abrangente sobre as causas
[dos desaparecimentos], fica difícil pensar em medidas preventivas", explica a psicóloga.
Hoje, segundo ela, muitas famílias que reencontram seus desaparecidos não retornam à delegacia para esclarecer os fatos.
Atendimento imediato
Os psicólogos do projeto ficam
em uma sala dentro do DHPP para atender imediatamente as famílias que forem fazer queixa de
desaparecimento. Além do atendimento psicossocial, são eles que
fazem a coleta do sangue e da saliva e encaminham o material ao
banco de DNA. As ocorrências registradas em outras delegacias
também são repassadas ao grupo,
que convida a família a fazer parte
do projeto.
(CC)
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