|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Súmula vinculante é um retrocesso, afirma D'Urso
Em entrevista, presidente reeleito da OAB de SP diz que medida cerceará juízes
Para o advogado, alto índice de reprovação em exames da ordem é "preocupante" e revela que formação de estudantes é inadequada
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Responsável pela polêmica
lista dos "inimigos da advocacia", o criminalista Luiz Flávio
Borges D'Urso, 46, foi reeleito
presidente da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil) de São
Paulo na última quinta-feira
com a promessa de manter o
enfrentamento aos desrespeitos ao exercício da profissão.
"A lista não é de inimigos,
não é uma lista negra", disse ele
logo após o resultado que lhe
deu 50,13% dos votos (62.841).
Em entrevista à Folha em
duas partes, a primeira por telefone, e a outra por e-mail, o
advogado também se mostra
contrário a pelo menos um
ponto da minirreforma do Judiciário: a súmula vinculante,
aprovada na quinta-feira e que
vai à sanção presidencial.
"Constitui verdadeiramente
um retrocesso", disse D'Urso.
A súmula é um dispositivo
que obriga juízes das instâncias
inferiores a seguir o entendimento adotado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), aplicando sentenças semelhantes
em processos similares.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida à Folha:
FOLHA - Reeleito presidente, e agora, o que deverá ser feito?
LUIZ FLÁVIO BORGES D'URSO - Agora, nós vamos continuar esse
trabalho, fortalecer esse trabalho, de defesa da advocacia, de
defesa das prerrogativas profissionais. Continuar colocando a
OAB em todas as questões de
interesse da cidadania e, nessa
linha, trabalhar para melhorar
o Judiciário de São Paulo.
FOLHA - Como o sr. vê o alto índice
de reprovação nos exames da OAB?
D'URSO - De forma preocupante. O objetivo do exame é verificar se bacharel detém os conhecimentos mínimos para
exercer a profissão de advogado. Certamente, os resultados
negativos do exame da ordem
refletem a má formação dos estudantes de direito e o decréscimo na qualidade do ensino jurídico, desencadeado pela
proliferação indiscriminada de
cursos jurídicos. São mais de
200 cursos em São Paulo e mais
de mil no Brasil. A OAB-SP
quer ajudar essas faculdades a
melhorar, mas faz um combate
àquelas que transformam o bacharel na grande vítima do ensino sem qualidade, porque
nunca conseguirá exercer a
profissão que escolheu.
FOLHA - Como vê a elevação do teto dos salários do Judiciário?
D'URSO - Devemos, inicialmente, avaliar o efeito cascata que
este reajuste ao Judiciário pode
trazer aos salários do funcionalismo. Afinal, cabe à sociedade
arcar com os custos da máquina pública e hoje o peso da carga tributária sufoca a todos, uma vez que de cada R$ 10 produzidos pelos brasileiros, R$ 4
vão para os cofres públicos. É
um tema que deve ser debatido
com a sociedade de forma ampla e transparente.
FOLHA - O sr. concorda com a aprovação da súmula vinculante?
D'URSO - A súmula vinculante
entrou na pauta da reforma do
Judiciário como instrumento
para dinamizar a prestação jurisdicional, mas constitui verdadeiramente um retrocesso.
Amparada na hipótese de diminuir os trabalhos das altas cortes, a súmula produz vícios insanáveis, ao privar os magistrados de autonomia e crítica na
interpretação da lei, prejudicando os cidadãos que terão
seus direitos cerceados. A súmula retira do juiz a sua capacidade de entendimento e a sua
livre convicção, ou seja, a sua
independência para julgar.
Texto Anterior: SP inaugura hoje a árvore de Natal do Ibirapuera Próximo Texto: FGV e PUC-SP fazem vestibulares hoje Índice
|