São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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Foco

Após receber carta com atraso, carteiro decide se acorrentar aos Correios

Reprodução/Agência RBS
O carteiro Rudimar Cruz Machado, acorrentado aos Correios

GILMAR PENTEADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Um carteiro se acorrentou ao prédio dos Correios onde trabalha, na cidade de Rio Grande (RS), para protestar contra o atraso de uma carta.
O destinatário da correspondência era ele mesmo e a demora na entrega, segundo o carteiro, fez com que perdesse a bolsa de estudos oferecida pelo ProUni (Programa Universidade para Todos) para cursar uma faculdade particular de direito.
"Sou carteiro, mas estou aqui como cliente", disse Rudimar Cruz Machado, 34, carteiro há um ano e meio. Na última sexta, ele recebeu uma carta do Ministério da Educação, com data do dia 13 de fevereiro, comunicando que estava entre os 42.557 estudantes selecionados na segunda chamada do programa.
A correspondência chegou, no entanto, dois dias após o final das inscrições, encerradas em 27 de fevereiro. A carta foi entregue a Machado por um colega, na própria sede dos Correios. A faculdade se recusou a matriculá-lo. "Não sei quem foi o culpado. Mas a gente vive em um país democrático e estou aqui como cidadão."
No sábado pela manhã, ele decidiu acorrentar uma das pernas e usou um cadeado para prender as correntes no portão de entrada do CDD (Centro de Distribuição Domiciliar) dos Correios. Ficou acorrentado por 46 horas até a manhã de ontem, quando saiu para entregar cartas. Ele deve voltar a se acorrentar até que haja uma solução.
"Só vou protestar no finais de semana e nos horários fora de expediente para mostrar que não é o profissional que está aqui", disse Machado. Como carteiro, ele afirmou saber o que causou o atraso, mas que não podia se pronunciar.
Casado, pai de uma menina de um ano e meio, Machado já havia sido reprovado quatro vezes na Furg (Fundação Universidade Federal de Rio Grande). Sem a bolsa, que representa 50% do valor da mensalidade, gastaria quase todo o salário líquido de R$ 550 para pagar o novo curso.
A assessoria de imprensa dos Correios em Porto Alegre afirmou que a entrega de correspondências em Rio Grande está em dia e que a empresa está tomando as providências administrativas para apurar se houve atraso na entrega da carta destinada a Machado.
O Ministério da Educação disse que o regulamento do ProUni estabelece que o acompanhamento de prazos é de responsabilidade do estudante e que, para isso, coloca os dados na internet e mantém um telefone 0800. A carta, segundo o ministério, tem caráter "complementar".


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