|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOVERNO LULA
Divergências entre integrantes da área social faz União limitar programa, antes implantado em 8 cidades, a apenas 3
Corte afeta projeto para catadores de lixo
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal irá reduzir o
programa de inclusão social dos
catadores de lixo, em razão de desentendimentos entre integrantes
da área social e falta de recursos.
Implantado em oito cidades, o
programa será mantido em três.
A informação foi dada por integrantes do Ministério do Desenvolvimento Social à direção da
Fundação Zerbini, de São Paulo,
que executa o projeto. O programa Erradicação dos Lixões e Inclusão Social dos Catadores, criado em 2003, pelo então ministro
José Graziano (Segurança Alimentar), tem orçamento de R$
2,9 milhões, beneficia 2.697 catadores diretamente e 10.684 pessoas indiretamente.
As cidades beneficiadas eram:
Natal (RN), Aracaju (SE), Belford
Roxo (RJ), Campo Grande (MS),
Maringá (PR), Maceió (AL), São
Paulo (SP) e Belém (PA). Nas
duas últimas o projeto ainda está
sendo implantado. Por isso, seus
catadores ainda não foram cadastrados e contabilizados. As duas
cidades contam com cerca de
3.300 pessoas que vivem da venda
de recicláveis -papelão, latinhas
e garrafas plásticas.
No dia 18 passado, em reunião
no Ministério do Desenvolvimento Social, Heliana Kátia, assessora
do ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e futura
subsecretária-executiva da pasta,
informou a Ricardo Verginelli, diretor da Fundação Zerbini, que o
programa se resumiria a Natal,
Belford Roxo e Campo Grande.
Kátia é considerada uma das
maiores especialistas em lixo do
Brasil. Trabalhou na Prefeitura de
Santo André, na gestão de Celso
Daniel, assassinado em janeiro de
2002, no consórcio municipal das
cidades do ABC paulista e foi consultora do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
A Fundação Zerbini, com um
orçamento anual de R$ 270 milhões, é gestora de 14 unidades do
programa Saúde da Família em
São Paulo e da sua totalidade no
Distrito Federal, além de gerenciar o Instituto do Coração. Trabalha como agência cujo objetivo
é estimular a inclusão social.
Depois da reunião do dia 18, iniciou-se uma briga nos bastidores
da Esplanada dos Ministérios
-que já chegou ao Congresso
Nacional. "É inaceitável interromper uma coisa que está dando
certo", diz a presidente da fundação, Márcia Verginelli.
Ao saber que seu projeto seria
reduzido a três cidades, Verginelli
telefonou para o ministro Patrus
Ananias, mandou carta ao senador Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA) e conseguiu que a secretária-executiva da pasta, Ana
Fonseca, fosse à fundação para
conhecer o programa.
Na sexta-feira passada, Fonseca
disse à Folha que não irá "discutir
com Heliana Kátia por meio da
imprensa", mas disse não ver razão para interromper o convênio.
Kátia é subordinada de Fonseca,
mas é uma das assessoras mais
antigas e próximas de Patrus Ananias. Já Fonseca é nova na equipe.
Heliana Kátia disse que, com a
fusão das pastas sociais, os convênios estão sendo revistos. Ela disse ainda que o programa de catadores deve abranger o maior número possível de cidades e não se
ater a pilotos.
A maior crítica dela à fundação
-além de eles não terem experiência com catadores de lixo- é
a de que a base do trabalho é um
cadastro digital capaz de cruzar
todo o tipo de informação sobre
os catadores. É possível identificar, por exemplo, quantas catadoras de Natal menores de 15 anos
estão grávidas e são analfabetas.
Com base nesses dados, pode-se
mapear a demanda dos catadores
e incluí-los em programas sociais.
"Eles produzem informações
que estão à frente das políticas públicas. O que vamos fazer com tudo isso?", questiona. Kátia diz que
as prioridades dos programas deveriam ser a instalação de um galpão de trabalho em cada cidade
com equipamentos necessários
para prensar os materiais recicláveis, que são a base da renda dos
catadores. Segundo ela, se a fundação mudar seu programa e se
adequar a essas prioridades, tem
chances de manter o convênio.
O catador de lixo Severino Júnior, de Natal, concorda com a
permanência da fundação. Já Alexandre Camboim, do Rio Grande
do Sul, não. Representantes da direção nacional do movimento,
eles dizem que, em vez de brigar
por uma verba tão pequena, os
técnicos da área social deveriam
se empenhar para obter mais dinheiro e expandir o programa.
Texto Anterior: Patrimônio: Juíza pede dados sobre reforma do Obelisco e túnel Próximo Texto: Administração: Prazo para início de desconto na taxa do lixo continua indefinido Índice
|