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Governo quer mudar regra para identificar cão de raça
Ministério da Agricultura deixaria de fiscalizar registro feito pelas sociedades de cinofilia
Justificativa do governo é que não tem capacidade operacional; registro não é obrigatório, mas é condição para o obtenção de pedigree
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Agricultura
estuda editar um decreto que
altera as regras de identificação
dos cães de raça. A mudança
não afeta diretamente os animais, mas causa polêmica entre
seus donos, principalmente os
ligados aos "cartórios" que fazem o RG canino.
Hoje, o governo fiscaliza as
entidades que registram as
principais características dos
cães de raça e de seus ancestrais. O registro não é obrigatório para todos os cachorros,
mas é condição para o pedigree.
Na ficha, vêm os nomes do cão,
dos pais, avós e bisavós e as características do animal.
A fiscalização do Ministério
da Agricultura inclui a execução de testes de paternidade
em cães para saber se o registro
de seus ancestrais está correto,
explica Cláudia Inês Pereira Lima, coordenadora de Produção
Integrada da Cadeia Pecuária
do Ministério da Agricultura.
Isso valoriza o animal na hora
em que é vendido ou participa
de uma exposição.
Se o governo editar o decreto
-a minuta já está na Casa Civil-, o documento de identidade continuará existindo, mas o
ministério deixará de fiscalizar
o registro feito pelas sociedades
de cinofilia. O governo diz não
ter capacidade operacional e
que há outras prioridades, como a inspeção da identificação
de animais para o agronegócio.
Segundo Lima, a mudança só
afeta o registro genealógico de
cães e não o controle da população canina ou de zoonoses, que
não eram regidos pelo decreto.
As entidades de registro canino, porém, se dividem. "Eles
[ministério] não têm fiscal nem
pra fiscalizar febre aftosa em
boi, vão fiscalizar cachorro?",
diz Sérgio de Castro, presidente
da Confederação Brasileira de
Cinofilia. Segundo ele, cada registro sai por R$ 32. Em 2007,
foram emitidos 90 mil registros, no total de R$ 2,9 milhões.
Wilson Protásio, vice-presidente da Sociedade Brasileira
de Cães Pastores Alemães, argumenta, por outro lado, que,
com o decreto atual, o governo
pode controlar raças consideradas perigosas, como pit bull.
Membro da comissão de biotecnologia e biossegurança do
Conselho Federal de Medicina
Veterinária, Vasco Ariston de
Carvalho Azevedo afirma que,
sem controle sobre o registro,
pode haver problema com a
criação de animais mais agressivos. O ministério, porém, diz
que a proibição de raças perigosas só pode ser feita mediante
lei aprovada pelo Congresso.
A fiscalização do governo iniciou em 1970. Em 1980, os cães
foram excluídos, mas incluídos
de novo por Lula, em 2004.
Defensores da mudança na
legislação atual, que pediram
anonimato, afirmam que a fiscalização do governo sobre o
registro de cães só foi possível
devido ao lobby de Francisco
Sampaio de Carvalho no Ministério da Agricultura. Ele era, na
época, consultor da presidência
do Senado na gestão Renan Calheiros (PMDB-AL) e presidente da Sociedade Brasileira de
Cães Pastores Alemães. Seu
contato seria Luiz Carlos de
Oliveira, atual diretor do Departamento de Negociações Sanitárias e Fitossanitárias e que
seria ligado à entidade.
A Folha procurou Oliveira,
mas a assessoria de imprensa
do ministério disse que não
conseguiu achá-lo. A reportagem ligou para a casa de Campos, mas um homem disse que
ele estava em viagem, não levara telefone nem tinha e-mail.
Colaboraram IURI DANTAS e ADRIANO
CEOLIN
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