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Adultos gastam "fortunas" para colecionar brinquedos
Valor varia conforme data de fabricação, material, cor e tamanho; originalidade e manual de instrução são levados em conta também
Mercado de brinquedos raros no país ainda engatinha, mas procura cresce
RAFAEL BALSEMÃO
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA
Quanto você pagaria por uma
miniatura de um carrinho que
não deu certo? Mais precisamente por um protótipo de
uma Kombi, cor de rosa, que
saiu estreito demais? O americano Bruce Pascal desembolsou US$ 70 mil pelo brinquedo,
um Beach Bomb da linha Hot
Wheels. O lance pela raridade
-única no mundo e que estava
desaparecida- deixou milhares de colecionadores ao redor
do mundo morrendo de inveja.
No mercado de compra e
venda de brinquedos raros ou
de peças que são ícones do
mundo infantil, um Ferrorama
Estrela SL 5000 -lançado no
início dos anos 90, com todas as
peças do trilho, as pontes, o
trenzinho funcionando, ainda
dentro da caixa- custa R$ 600,
enquanto um novo é achado
nas lojas pela metade disso. Um
Forte Apache, de 1966, completinho, sai por R$ 1.500.
Na Galeria Itapetininga, no
centro de São Paulo, ponto de
referência para colecionadores,
todo brinquedo tem seu preço.
"Aqui só vem adultos", avisa o
vendedor Celso Lopes, 52. "O
perfil do nosso cliente é o cara
que não pôde ter um brinquedo
e vem aqui para sanar essa frustração, ou o que teve o brinquedo, se desfez e quer recuperá-lo
para guardar uma recordação."
Celso conta que uma vez
comprou de um senhor uma
coleção inteira dos Comandos
em Ação, sem saber que se tratava de um xodó de preço inestimável. "Ele chegou com uma
caixa. Começou a tirar as peças
e a beijar uma por uma, se despedindo. Fiquei tão comovido
que quase desisti do negócio."
A paixão por um brinquedo
pode se transformar num meio
de vida para um colecionador.
No caso do ex-vendedor Carlos
Keffer, 39, esse sentimento é
por uma boneca. Uma não, 400.
Formado em psicologia, ele roda o Brasil levando suas Barbies por lugares como Feira de
Santana (BA) e Campo Grande
(MS). Ganha mais dinheiro
com o que era hobby do que
com o antigo emprego, em uma
empresa de máquinas de café.
A indústria de brinquedo tem
plena consciência do fascínio
que seus produtos exercem sobre colecionadores. E, claro, exploram esse nicho. Fabricante
da Barbie, a Mattel, percebendo o mercado específico para as
versões antigas da boneca, lançou uma linha especial para colecionadores em 1986. E a mantém até hoje.
Datas comemorativas também garantem a festa dos fabricantes. Neste ano, no aniversário de 40 anos da linha Hot Wheels, os carrinhos vão receber presentes da fabricante. O
principal deles é uma versão
cravejada com 2.700 diamantes. Avaliada em US$ 140 mil, a
peça corre exposições mundo
afora e, depois, será leiloada.
Dez anos longe do Brasil, o
clássico Playmobil também está de volta. Para relançá-lo, a
importadora Sunny fez uma
pesquisa pela internet e descobriu muitos colecionadores por
aqui. Um desses fãs é Pedro Gabriel Paschoalotti, 32, dono de
3.000 bonecos. Mas a venda em
lojas não será suficiente para
saciá-lo. "Vou continuar comprando fora, pela internet e de
amigos que viajam para fora."
Soldadinhos na Christie's
O mercado brasileiro de
brinquedos raros ainda engatinha. Mas, a cada dia, começa a
atrair um número maior de colecionadores, principalmente
nos grandes centros, como São
Paulo. Ainda não há números
disponíveis desse segmento.
Nos EUA, na Europa e no Japão, é um setor gigante. Existem lojas, sites e leilões específicos para cada tipo de brinquedo. Em Londres, a casa de leilão
Vectis, especializada em brinquedos, é uma das mais badaladas, com faturamento anual
que supera US$ 1 bilhão. Os leilões são abertos a estrangeiros,
que podem participar pelo site
www.vectis.co.uk. Outra casa
leiloeira concorridíssima é a
Christie's, também na capital
britânica.
Data de fabricação, material,
cor e tamanho podem interferir no valor. Originalidade e até
manual de instrução são levados em conta. Comum lá fora, o
estado de conservação da caixa
começou a despertar a atenção
de colecionadores brasileiros.
Da próxima vez que encontrar um carrinho na casa de seu
avô, ainda mais se estiver dentro da caixa, saiba que talvez
você possa estar diante de um
bom negócio.
Colaborou GUSTAVO FIORATTI
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