São Paulo, domingo, 04 de maio de 2008

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Adultos gastam "fortunas" para colecionar brinquedos

Valor varia conforme data de fabricação, material, cor e tamanho; originalidade e manual de instrução são levados em conta também

Mercado de brinquedos raros no país ainda engatinha, mas procura cresce

RAFAEL BALSEMÃO
ROBERTO DE OLIVEIRA

DA REVISTA DA FOLHA

Quanto você pagaria por uma miniatura de um carrinho que não deu certo? Mais precisamente por um protótipo de uma Kombi, cor de rosa, que saiu estreito demais? O americano Bruce Pascal desembolsou US$ 70 mil pelo brinquedo, um Beach Bomb da linha Hot Wheels. O lance pela raridade -única no mundo e que estava desaparecida- deixou milhares de colecionadores ao redor do mundo morrendo de inveja.
No mercado de compra e venda de brinquedos raros ou de peças que são ícones do mundo infantil, um Ferrorama Estrela SL 5000 -lançado no início dos anos 90, com todas as peças do trilho, as pontes, o trenzinho funcionando, ainda dentro da caixa- custa R$ 600, enquanto um novo é achado nas lojas pela metade disso. Um Forte Apache, de 1966, completinho, sai por R$ 1.500. Na Galeria Itapetininga, no centro de São Paulo, ponto de referência para colecionadores, todo brinquedo tem seu preço.
"Aqui só vem adultos", avisa o vendedor Celso Lopes, 52. "O perfil do nosso cliente é o cara que não pôde ter um brinquedo e vem aqui para sanar essa frustração, ou o que teve o brinquedo, se desfez e quer recuperá-lo para guardar uma recordação."
Celso conta que uma vez comprou de um senhor uma coleção inteira dos Comandos em Ação, sem saber que se tratava de um xodó de preço inestimável. "Ele chegou com uma caixa. Começou a tirar as peças e a beijar uma por uma, se despedindo. Fiquei tão comovido que quase desisti do negócio."
A paixão por um brinquedo pode se transformar num meio de vida para um colecionador. No caso do ex-vendedor Carlos Keffer, 39, esse sentimento é por uma boneca. Uma não, 400.
Formado em psicologia, ele roda o Brasil levando suas Barbies por lugares como Feira de Santana (BA) e Campo Grande (MS). Ganha mais dinheiro com o que era hobby do que com o antigo emprego, em uma empresa de máquinas de café.
A indústria de brinquedo tem plena consciência do fascínio que seus produtos exercem sobre colecionadores. E, claro, exploram esse nicho. Fabricante da Barbie, a Mattel, percebendo o mercado específico para as versões antigas da boneca, lançou uma linha especial para colecionadores em 1986. E a mantém até hoje.
Datas comemorativas também garantem a festa dos fabricantes. Neste ano, no aniversário de 40 anos da linha Hot Wheels, os carrinhos vão receber presentes da fabricante. O principal deles é uma versão cravejada com 2.700 diamantes. Avaliada em US$ 140 mil, a peça corre exposições mundo afora e, depois, será leiloada.
Dez anos longe do Brasil, o clássico Playmobil também está de volta. Para relançá-lo, a importadora Sunny fez uma pesquisa pela internet e descobriu muitos colecionadores por aqui. Um desses fãs é Pedro Gabriel Paschoalotti, 32, dono de 3.000 bonecos. Mas a venda em lojas não será suficiente para saciá-lo. "Vou continuar comprando fora, pela internet e de amigos que viajam para fora."

Soldadinhos na Christie's
O mercado brasileiro de brinquedos raros ainda engatinha. Mas, a cada dia, começa a atrair um número maior de colecionadores, principalmente nos grandes centros, como São Paulo. Ainda não há números disponíveis desse segmento.
Nos EUA, na Europa e no Japão, é um setor gigante. Existem lojas, sites e leilões específicos para cada tipo de brinquedo. Em Londres, a casa de leilão Vectis, especializada em brinquedos, é uma das mais badaladas, com faturamento anual que supera US$ 1 bilhão. Os leilões são abertos a estrangeiros, que podem participar pelo site www.vectis.co.uk. Outra casa leiloeira concorridíssima é a Christie's, também na capital britânica.
Data de fabricação, material, cor e tamanho podem interferir no valor. Originalidade e até manual de instrução são levados em conta. Comum lá fora, o estado de conservação da caixa começou a despertar a atenção de colecionadores brasileiros.
Da próxima vez que encontrar um carrinho na casa de seu avô, ainda mais se estiver dentro da caixa, saiba que talvez você possa estar diante de um bom negócio.


Colaborou GUSTAVO FIORATTI


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