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São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003

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CRIME ORGANIZADO

Em ação da Polícia Federal, 30 pessoas tiveram prisão decretada por tráfico, roubo e lavagem de dinheiro

Presa no AM quadrilha com 14 policiais

Antonio Menezes/"A Crítica"
Policiais federais na casa do delegado José Cavalcante Filho (de branco), preso ontem


KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

A Polícia Federal prendeu ontem 26 pessoas, entre elas 14 policiais, acusadas de envolvimento numa organização criminosa que atuava, entre Manaus e Tabatinga (AM) e em São Paulo, no tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro, roubo, clonagem de veículos e extorsão.
Denominada Operação Águia, a ação teve início em fevereiro com a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico dos acusados. Foi deflagrada ontem com os decretos de prisão temporária de 30 acusados e mais 29 mandados de busca e apreensão expedidos pelo juiz da 4ª Vara da Justiça Federal, Boaventura João Andrade. Quatro acusados estavam foragidos até a conclusão desta edição.
De acordo com o delegado Reinaldo de Almeida César, deslocado de Brasília para presidir as investigações em Manaus, a operação da PF é o início "do desmantelamento de uma organização criminosa". "É uma organização que tem um perfil clássico da legislação do crime organizado, com estrutura piramidal, divisão de tarefas e relação hierárquica."
Entre os crimes atribuídos pela PF aos acusados estão a extorsão de dinheiro de donos de postos de combustíveis que fazem rota pelo rio Solimões. Os acusados também se apropriariam de droga confiscada de traficantes. O roubo e a clonagem de veículos teriam ligação com uma empresa de São Paulo.
"As provas são incontestáveis", disse o delegado César, que não estimou o valor da movimentação financeira da quadrilha.
Segundo o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, delegado José Sales, o atual governador, Eduardo Braga (PPS), foi notificado da operação antes da sua posse, em janeiro, já que três dos supostos envolvidos eram delegados que pertenciam à cúpula da Secretaria de Estado da Segurança Pública, durante a administração do ex-governador Amazonino Mendes (PFL).
"Houve um comprometimento nosso de informar o novo governador sobre a existência da investigação, pois necessitávamos do seu apoio", disse o delegado Sales, em entrevista que contou com a presença do atual secretário da Segurança Pública, Júlio Pinheiro.
Ele anunciou o afastamento dos delegados José Cavalcante Filho -que foi titular da Delegacia de Furtos de Veículos-, Raimundo Nunes Amazonas -titular de Roubos e Furtos- e Arlindo Almeida -do 5º Distrito Policial.
O comando da PM afastou o capitão Adrião Severiano Nunes Júnior, preso com os outros policiais. "Estamos separando o joio do trigo", disse Pinheiro.
Cerca de 300 agentes federais, dos quais 160 foram deslocados do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Pernambuco, participam da Operação Águia.
A ação teve apoio dos ministérios públicos Federal e Estadual, do governo do Amazonas, da Polícia Militar do Amazonas e da Força Aérea Brasileira.
As prisões ocorreram nas primeiras horas da manhã, surpreendendo muitos dos acusados em suas casas. Por volta das 6h, cerca de 60 policiais cercaram a casa do delegado José Cavalcante Filho, no Parque das Laranjeiras -bairro nobre da cidade.
Ali estavam 6 dos 34 veículos apreendidos na ação. Cavalcante Filho tinha na garagem um veículo da marca alemã BMW, conversível, avaliado em US$ 150 mil, com a placa FBI 0007.
Na casa foram encontrados dólares, armas, silenciadores de pistolas e balança, que seria usada para a pesagem de drogas.

Outras operações
Desde o final do ano passado, pelo menos outras duas grandes operações da Polícia Federal em busca de grupos envolvidos com o crime organizado terminaram com a prisão de policiais.
Em março deste ano, 22 policiais federais foram presos acusados de receber propina para não fiscalizar carros que transportavam ilegalmente mercadorias na ponte da Amizade, na fronteira do Brasil com o Paraguai.
A operação Sucuri, como ficou conhecida a ação, envolveu cerca de cem homens de quatro Estados e levou cinco meses reunindo provas.
As investigações da PF apontaram que os envolvidos na quadrilha cobravam propina de R$ 200 por carro não fiscalizado na ponte -cerca de 20 por dia. O dinheiro arrecadado era dividido entre os integrantes do grupo.
Três fiscais da Receita Federal e nove supostos contrabandistas também foram presos. Os agentes federais e os funcionários públicos foram indiciados por facilitar o contrabando, corrupção passiva e formação de quadrilha.
Devido ao desfalque provocado pelas prisões dos policiais, agentes de outros Estados foram deslocados para Foz do Iguaçu para garantir os trabalhos.
Em novembro de 2002, seis policiais civis acusados de envolvimento com furto e roubo de cargas e veículos foram detidos em ação que envolveu 250 agentes federais enviados a Goiânia (GO).
Na operação, batizada de Carga Pesada, 28 pessoas foram presas ao todo nos Estados de GO, MG, MT, RO e AC. Em Goiânia, a Delegacia de Furto e Roubo de Veículos foi cercada e os seis policias suspeitos foram capturados.
Desde janeiro daquele ano a PF investigava o grupo. Além de policiais, faziam parte da quadrilha despachantes, agiotas e fornecedores de peças. O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), sabia que a ação seria realizada.


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