UOL


São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CUBATÃO

Divisória, com 7,5 km de extensão, foi exigida pelo Ministério Público para conter as invasões e a consequente degradação

Cerca vai separar favelas de área de mangue

FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUBATÃO

Uma cerca de metal e arame farpado com 7,5 km de extensão vai separar totalmente, até o final do ano, um conjunto de cinco favelas do mangue do rio Paranhos, em Cubatão (58 km de SP).
A construção da cerca, com pouco mais de dois metros de altura e sustentada por mourões de concreto, começou em janeiro e já alcançou 3,5 km.
O objetivo é limitar a expansão mangue adentro das favelas Vila Caic, Vila Esperança, Ilha Bela, Sítio Novo e São Simão, maior área de invasão da cidade, onde vivem 20 mil pessoas em 5.000 moradias, segundo a prefeitura, responsável pela obra.
A implantação da cerca é decorrência de uma liminar (decisão provisória) obtida pelo Ministério Público, cuja finalidade é conter o processo de degradação do manguezal motivado pelas frequentes invasões de áreas no local.
Desde junho de 2001, dois mutirões realizados por voluntários, com apoio das sociedades de melhoramentos dos bairros, removeram do mangue e do rio 78 toneladas de lixo atiradas pelos próprios moradores.
O fim das invasões é colocado pelo Ministério Público como condição para que se desencadeie o processo de urbanização das favelas. Por isso, a expectativa dos moradores é que, com a conclusão da cerca, comecem a chegar serviços básicos, como fornecimento regular de energia elétrica e abastecimento de água, atualmente captada clandestinamente de uma rede da Sabesp.
A complementação da urbanização implicará a extinção dos bairros Vila Caic, Sítio Novo e Ilha Bela e a transferência dos moradores para conjuntos habitacionais a serem erguidos noutros locais pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), do governo do Estado.
O início da implantação da cerca já exigiu a remoção para a área interna das favelas de mais de 400 barracos apoiados em palafitas sobre o mangue, de acordo com o secretário municipal do Meio Ambiente de Cubatão, Eduardo Silveira Bello.
Segundo ele, o custo total para cercar o mangue deverá alcançar R$ 1,2 milhão. Até agora, a obra já consumiu R$ 600 mil, obtidos por meio de patrocínio da Petrobras e da BR Distribuidora.

Trabalho educativo
A instalação da cerca foi precedida de um trabalho educativo acerca da necessidade de preservação do mangue e dos benefícios que a suspensão das invasões traria para os moradores, segundo o presidente da Sociedade de Melhoramentos do Ilha Bela, Sebastião Ribeiro do Nascimento, 33.
Ele afirma que a contenção das invasões era assunto tabu no bairro. De acordo com Nascimento, era considerado "perigoso" protestar porque invasores que já tinham suas casas ocupavam novas áreas com a finalidade de erguer barracos para alugar ou vender.
Com a instalação da rede clandestina, segundo Nascimento, os moradores perceberam que mais gente significaria menos água. Mesmo na condição atual, a água chega com pressão muito baixa às torneiras.
"Somos invasores, mas, se vier mais gente, não haverá benefício algum para ninguém. A presença de novos moradores significa a piora da qualidade de vida de quem já está aqui. Por isso, estamos dando exemplo, parando com as invasões e ajudando a preservar o ambiente", declarou.
Além de evitar novas invasões, moradores vêem na cerca uma barreira para impedir a chegada do lixo ao mangue.
"A maré traz todo o lixo que o pessoal joga. Agora, o lixo vai ficar retido na cerca, será mais fácil para recolher e vai juntar menos ratos nas casas", disse Nathalie Tatiane Arruda Silva Caria, 19, mãe de um filho e moradora há cinco anos na região.


Texto Anterior: Presos 8 PMs por ações de extermínio
Próximo Texto: Sentença determina retirada em um ano
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.