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CUBATÃO
Divisória, com 7,5 km de extensão, foi exigida pelo Ministério Público para conter as invasões e a consequente degradação
Cerca vai separar favelas de área de mangue
FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUBATÃO
Uma cerca de metal e arame farpado com 7,5 km de extensão vai
separar totalmente, até o final do
ano, um conjunto de cinco favelas
do mangue do rio Paranhos, em
Cubatão (58 km de SP).
A construção da cerca, com
pouco mais de dois metros de altura e sustentada por mourões de
concreto, começou em janeiro e já
alcançou 3,5 km.
O objetivo é limitar a expansão
mangue adentro das favelas Vila
Caic, Vila Esperança, Ilha Bela, Sítio Novo e São Simão, maior área
de invasão da cidade, onde vivem
20 mil pessoas em 5.000 moradias, segundo a prefeitura, responsável pela obra.
A implantação da cerca é decorrência de uma liminar (decisão
provisória) obtida pelo Ministério
Público, cuja finalidade é conter o
processo de degradação do manguezal motivado pelas frequentes
invasões de áreas no local.
Desde junho de 2001, dois mutirões realizados por voluntários,
com apoio das sociedades de melhoramentos dos bairros, removeram do mangue e do rio 78 toneladas de lixo atiradas pelos próprios moradores.
O fim das invasões é colocado
pelo Ministério Público como
condição para que se desencadeie
o processo de urbanização das favelas. Por isso, a expectativa dos
moradores é que, com a conclusão da cerca, comecem a chegar
serviços básicos, como fornecimento regular de energia elétrica
e abastecimento de água, atualmente captada clandestinamente
de uma rede da Sabesp.
A complementação da urbanização implicará a extinção dos
bairros Vila Caic, Sítio Novo e Ilha
Bela e a transferência dos moradores para conjuntos habitacionais a serem erguidos noutros locais pela CDHU (Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e
Urbano), do governo do Estado.
O início da implantação da cerca já exigiu a remoção para a área
interna das favelas de mais de 400
barracos apoiados em palafitas
sobre o mangue, de acordo com o
secretário municipal do Meio
Ambiente de Cubatão, Eduardo
Silveira Bello.
Segundo ele, o custo total para
cercar o mangue deverá alcançar
R$ 1,2 milhão. Até agora, a obra já
consumiu R$ 600 mil, obtidos por
meio de patrocínio da Petrobras e
da BR Distribuidora.
Trabalho educativo
A instalação da cerca foi precedida de um trabalho educativo
acerca da necessidade de preservação do mangue e dos benefícios
que a suspensão das invasões traria para os moradores, segundo o
presidente da Sociedade de Melhoramentos do Ilha Bela, Sebastião Ribeiro do Nascimento, 33.
Ele afirma que a contenção das
invasões era assunto tabu no bairro. De acordo com Nascimento,
era considerado "perigoso" protestar porque invasores que já tinham suas casas ocupavam novas
áreas com a finalidade de erguer
barracos para alugar ou vender.
Com a instalação da rede clandestina, segundo Nascimento, os
moradores perceberam que mais
gente significaria menos água.
Mesmo na condição atual, a água
chega com pressão muito baixa às
torneiras.
"Somos invasores, mas, se vier
mais gente, não haverá benefício
algum para ninguém. A presença
de novos moradores significa a
piora da qualidade de vida de
quem já está aqui. Por isso, estamos dando exemplo, parando
com as invasões e ajudando a preservar o ambiente", declarou.
Além de evitar novas invasões,
moradores vêem na cerca uma
barreira para impedir a chegada
do lixo ao mangue.
"A maré traz todo o lixo que o
pessoal joga. Agora, o lixo vai ficar
retido na cerca, será mais fácil para recolher e vai juntar menos ratos nas casas", disse Nathalie Tatiane Arruda Silva Caria, 19, mãe
de um filho e moradora há cinco
anos na região.
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