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São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003

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SAÚDE

Empresa pode ter usado bário mais barato para fabricar o medicamento Celobar, suspeito de causar pelo menos 17 mortes

Anvisa investiga origem de matéria-prima

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) concentra suas investigações sobre a procedência e qualidade da matéria-prima usada no medicamento Celobar, o sulfato de bário.
Pelo menos 17 mortes podem ter sido causadas pelo lote 3040068 do contraste [droga utilizada para destacar determinados órgãos em exames de imagem], fabricado pelo laboratório Enila do Rio de Janeiro. Outros dois óbitos foram confirmados por vigilâncias estaduais, mas ainda não informados à Anvisa.
Por precaução, todos os medicamentos produzidos pelo Enila tiveram as vendas suspensas pela agência na semana passada.
Os técnicos da Anvisa checam se a empresa comprou, recentemente, matéria-prima sem marca e mais barata, um "blend" -combinação de produtos de várias origens. Também verificam se a empresa alemã Sachtleben Chemie GmbH, uma fabricante de ponta do bário, cujo produto é mais caro, ainda fornecia para o laboratório fluminense.
A literatura científica aponta que drogas à base de sulfato de bário são seguras, pois o elemento não é solúvel -ou seja, é totalmente eliminado pelo corpo.
Mas outros sais de bário, como o sulfito de bário, podem ser absorvidos pelo organismo e levar à morte, segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Medicamentos, de Brasília.
Há interesse dos técnicos também sobre a rota de distribuição do contraste. O Enila informou que foram para o mercado 4.500 frascos do lote suspeito. A relação de distribuidores fornecida pela empresa à vigilância sanitária de Goiás mostra que não havia nenhuma parte do lote destinada ao Estado do Maranhão, mas uma das mortes associadas a ele foi registrada em Imperatriz (MA).
Segundo a lista de distribuidores do laboratório, dez unidades da Federação receberam o lote (Pernambuco, Bahia, Alagoas, Espírito Santo, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, São Paulo e o Distrito Federal).
As mortes se concentram em Goiás porque 1.600 frascos foram parar no Estado. Até agora, o Enila confirmou o recolhimento de metade das 4.500 unidades.

Faltam frascos
Outra dúvida dos técnicos refere-se justamente ao número de frascos do lote suspeito. Inicialmente o Enila havia informado que eram 4.620 unidades no lote. Depois, disse que eram 4.500.
Técnicos da Anvisa passaram o dia inteiro no laboratório ontem, avaliando as instalações e cadeia de produção do Enila. O balanço dos trabalhos só deve sair hoje. Procurados diversas vezes na tarde de ontem, responsáveis pelo laboratório não se manifestaram.
Além das 17 mortes contabilizadas pela Anvisa, outros dois óbitos foram confirmados ontem por vigilâncias sanitárias estaduais. Um em Goiás (sobe para 14 o número de vítimas do Estado) e uma segunda morte em Minas Gerais.
Maria Rufino de Oliveira, 75, morreu em Uberaba (MG), no dia 23. Além desse caso, uma segunda morte está sendo investigada no Estado. Em Igarapava, região de Ribeirão Preto (SP), a vigilância sanitária também apura se uma morte foi causada pelo Celobar.


Colaboraram a Agência Folha e a Folha Ribeirão


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