São Paulo, segunda-feira, 04 de junho de 2007

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30 vôos à Europa ficam sem controle aéreo

Houve falhas nas freqüências de rádio, de acordo com documento oficial; avião ficou em rota de colisão

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Há uma semana, na madrugada do dia 27 de maio, os vôos rumo à Europa pelo Atlântico ficaram sem controle de tráfego aéreo, de acordo com registro do livro de ocorrências do centro. O Cindacta-3 (Recife), responsável por parte do trajeto, teve falhas nas freqüências de rádio, única ferramenta para orientar os pilotos na travessia. O caso já virou foco de uma sindicância interna no centro.
O livro de ocorrências é o documento oficial interno da situação operacional. A falha deixou 30 aviões sem contato. Uma das conseqüências registradas: um piloto da TAM precisou desviar, sem auxílio do controle aéreo, por causa de problemas meteorológicos e ficou em rota de colisão com outro vôo da mesma empresa.
A Aeronáutica foi procurada durante a última semana para explicar o ocorrido. Em conseqüência disso, foi aberta uma sindicância para investigar o vazamento à imprensa.
A denúncia foi recebida por meio do procurador do Trabalho Fábio Fernandes, que investiga a situação da categoria. Controladores e seus chefes travam uma batalha com relação aos vazamentos para a imprensa sobre a situação.
Oficiais têm garantido em depoimentos nas CPIs do Congresso que não existem falhas, apenas "características". Os controladores, que não podem falar publicamente porque são militares, enviam documentos à imprensa para rebater.
Na semana passada, a Folha revelou que no Cindacta-4 (Manaus) os profissionais fazem o controle sem uso do radar porque há muita duplicação de alvos e informações incorretas sobre os vôos -isso suscitou a emissão de uma norma operacional da FAB.
Na sexta, a ABCTA (Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo) emitiu um "boletim de segurança" orientado os associados a não realizar vigilância radar se houver falhas e até a encerrar totalmente o controle aéreo se não houver freqüências funcionando ou autorizadas para determinado setor.
A assessoria de imprensa da FAB confirmou a autenticidade da cópia do documento enviado à Folha, mas nega o conteúdo -insinua o que trecho foi forjado. Uma vistoria chegou a ser realizada para averiguar as freqüências, mas a FAB se negou a divulgar o relatório.
Nos oceanos, o controle é "padrão", ou seja, é feito sem o auxílio de radares. Por isso, a falha de rádio, segundo os controladores, causou a falta de controle aéreo.
Segundo o livro de ocorrências, o centro "ficou impossibilitado de prover o serviço de controle de tráfego aéreo, deixando as acft [aeronaves] em risco potencial, comprometendo a segurança". Isto porque os pilotos fizeram desvios, a exemplo do vôo TAM 8084 (São Paulo a Londres), que precisou evitar uma formação meteorológica e ficou em rumo convergente com o TAM 8054 (Rio de Janeiro a Paris). O segundo avião teve sua altitude alterada pelos controladores para evitar um incidente.
Segundo o documento, 30 vôos ficaram "sem contato". "Já pedimos para melhorarem essas freqüências e nada fizeram (...) Estamos pedindo socorro, pois assim não dá para controlar", diz o manifesto.


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