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JUSTIÇA
Decisão tem como base lei que beneficia servidor e opõe Judiciário e Executivo; Estado não quer manter pagamento
Juiz aposentado ganha salário extra na BA
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Decisão do Tribunal de Justiça
da Bahia, que obrigou o governo a
pagar um salário a mais por ano
para todos os aposentados da magistratura, colocou em rota de colisão o Judiciário e o Executivo.
Baseado em uma lei estadual de
março de 78, que prevê o pagamento de mais um salário para todos os funcionários públicos civis
e militares, o TJ julgou procedente
um mandado de segurança impetrado, em dezembro, por três magistrados aposentados.
"A partir de agora, qualquer
funcionário público ou associação que ingressar na Justiça terá
tratamento igualitário", disse o
presidente do TJ da Bahia, Carlos
Alberto Dultra Cintra.
Segundo o desembargador, a
Constituição brasileira estabelece
que os benefícios concedidos aos
funcionários da ativa também devem ser incorporados aos proventos dos inativos.
"Fica assegurado ao servidor
público civil e militar do Estado, o
direito de receber anualmente
mais um vencimento ou soldo básico do seu cargo efetivo, que lhe
será pago na folha do mês imediatamente anterior ao que corresponder ao gozo das férias regulares", diz o texto da lei que serviu
de base à interpretação do TJ para
decretar o 14º salário para os magistrados aposentados.
Segundo o Tribunal de Justiça
da Bahia, 68 magistrados foram
beneficiados pela decisão (concedida em março), o que provocou
um impacto na folha estadual de
cerca de R$ 700 mil. O primeiro
benefício será pago na folha de junho, a ser creditada no dia 5.
"A decisão de pagar um salário
por ano a mais para aposentados
é um absurdo e agride a realidade
de milhões de aposentados baianos e brasileiros, que não têm nenhum privilégio", disse o governador Otto Alencar (PL).
O ex-senador Antonio Carlos
Magalhães também endossa a
opinião do governador. "Acho
que o governo não deveria pagar
absolutamente nada", disse. Segundo ACM, a decisão produz
um efeito cascata. "A cada ano, o
Estado terá que desembolsar mais
para pagar juízes e desembargadores que irão se aposentar."
"Certa ou errada, o governador
tem que cumprir a decisão judicial e ponto final", disse Carlos Alberto Dultra Cintra.
No final do ano passado, Cintra
disputou e venceu a eleição para a
presidência do TJ concorrendo
contra um candidato que tinha o
apoio de todo o grupo político comandado pelo ex-senador ACM.
Desde a sua posse, em fevereiro
último, as relações entre o Judiciário baiano e o Executivo estão
"estremecidas".
O benefício aos aposentados havia sido suspenso na gestão do desembargador Robério Braga, antecessor de Cintra, que acatou recurso do Estado pedindo a suspensão do pagamento.
Com 248 mil funcionários
-170 mil na ativa-, o governo
baiano poderá enfrentar problemas de caixa para efetuar o pagamento de todos os servidores, caso a decisão do TJ, que beneficiou
os magistrados, seja estendida a
todos os empregados.
Em média, um juiz aposentado
no Estado recebe cerca de R$ 10
mil por mês, desde que tenha sido
promovido pelo menos a juiz de
entrância especial (capital).
Na ativa, um juiz iniciante recebe R$ 5.100 por mês. Em Salvador,
o salário sobe para R$ 8.210,00. Os
30 desembargadores que compõem o Tribunal de Justiça da Bahia ganham mensalmente R$ 9.152,00.
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