São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

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Classe média escolhe Moema e Jardins

DA REPORTAGEM LOCAL

Há um perfil bastante comum entre moradores solitários que residem em bairros como Moema, Pinheiros e Jardim Paulista, de classe média e classe média alta. Eles estão na faixa dos 30 anos, têm vida profissional estável e um bom padrão de vida.
A arquiteta Beatriz Santocchi, 39, vive sozinha em Moema há dois anos e meio, desde que deixou a casa dos pais. "Foi uma opção", conta. Ela pára pouco em casa: trabalha dez horas por dia e no tempo livre faz ginástica, aulas de língua estrangeira e vai com os amigos ao teatro e ao cinema.
Beatriz afirma que não abre mão da liberdade. "Não dividiria o apartamento com ninguém. Já pensei em ter um bicho, mas ficaria presa por causa dele, teria problemas para viajar, por exemplo."
O engenheiro Marcos Maluf, 37, que mora sozinho há três anos, considera que a oferta de serviços para quem vive sozinho pode se tornar um fator para que haja menos relações entre os solitários. "Com tanta facilidade, as pessoas não precisam de mais ninguém."
Outro fator apontado por ele é o espaço dos apartamentos de um e dois dormitórios. "O lugar onde vivo tem 50 mē, é bem adaptado para uma pessoa só. Se fosse morar com mais alguém, procuraria um espaço maior", diz.
No prédio do engenheiro, na alameda Franca, no Jardim Paulista, há uma ampla área de lazer, com piscina de 25 metros coberta e sala de ginástica. Segundo ele, o espaço acaba contribuindo para que ele conheça os vizinhos.
"As pessoas se encontram na área comum do prédio, já conheci outros moradores com perfil parecido com o meu. Mas isso aconteceu da mesma forma que aconteceria em um clube", explica.
Maluf conta que não conhece os vizinhos do seu andar, mas fez amizade com duas pessoas do prédio na área de lazer. "Minha impressão é que quem vive sozinho estabelece uma espécie de proteção", diz Maluf.
O publicitário Danilo Castro, 31, dividiu casa com amigos durante 13 anos. Desde o ano passado mora sozinho, em Pinheiros. "Queria ter meu canto, é um processo natural de crescimento pessoal", diz.
O publicitário conta que mantém boas relações com os vizinhos. Mas ele admite que isso é raro. "Eu me surpreendi. Quando me mudei, as pessoas quiseram me conhecer, me desejavam boa sorte e boas-vindas."
De acordo com ele, a maioria dos moradores é formada também por solitários. "Em uma emergência, poderia recorrer a eles", conta. Ele próprio já ajudou uma vizinha. "Ela foi viajar para os EUA e eu cuidei das plantas enquanto ela esteve fora."
Ele afirma não sentir solidão. "Se você tem uma ocupação e um grupo de amigos próximos, dificilmente vai se sentir só."

Solidão
A estudante de medicina Ana Paula Cardoso, 21, veio de São José do Rio Preto (450 km de SP) há quatro anos para fazer faculdade em São Paulo. Até o ano passado, ela dividia o apartamento de quatro quartos, no Jardim Paulista, com a irmã. Neste ano, passou a morar sozinha. "O apartamento é grande para mim, acabo ocupando apenas meu quarto e a cozinha", conta.
Apesar de a empregada dormir no apartamento e da boa relação que mantém com os vizinhos, ela sente solidão. "Sinto falta da minha família", diz.
Ela costuma viajar para sua cidade natal uma vez por mês. Os pais também vêm visitá-la. No próximo ano, a estudante deve ganhar a companhia do irmão e de um animal de estimação.
(TEREZA NOVAES)

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