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SP expulsou só 6 policiais por tortura desde 2003
Número equivale a 0,2% dos 2.544 policiais expulsos em todo o Estado até 2008
Foram cinco demitidos pela Polícia Civil e um pela PM; para socióloga Alba Zaluar, principal motor da prática de tortura é a impunidade
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Números da Secretaria da
Segurança Pública de São Paulo
mostram que a tortura é um
crime sem punição no Estado.
Só 0,2% -ou exatos seis policiais- dos 2.544 expulsos entre
2003 e 2008 receberam a chancela de "tortura" no processo
de exclusão.
Entre os policiais civis, só
cinco dos 697 demitidos foram
acusados de tortura nesse período. O número corresponde a
0,7% dos casos. Em três anos
seguidos (2005 a 2007), não
houve nenhum afastamento
sob acusação de tortura.
Na Polícia Militar, os dados
sob o ponto de vista da impunidade são piores. Entre os 1.847
casos de expulsão nos seis anos,
só um segundo-tenente foi acusado de tortura.
A assessoria da secretaria diz
que o caso único da PM não retrata a realidade. A regra da PM
é expulsar por violação de normas; por isso, os casos não são
contabilizados como tortura.
A socióloga Alba Zaluar, uma
das principais pesquisadoras
de violência no país, acha que a
impunidade é o principal motor da prática de tortura. "Tortura tem de ser crime hediondo, e os torturadores têm de pagar. É uma vergonha para o país
que não se puna a tortura dentro da polícia como se deveria."
Na esfera federal, nem dá para saber quantos são os casos de
tortura punidos no país. A Secretaria Especial de Direitos
Humanos iniciou um levantamento, pedindo dados ao Ministério Público dos Estados.
Após três depois, constatou que
aquele não era o melhor método porque os números não
eram enviados.
A secretaria deve contratar
uma instituição universitária
para levantar os casos de punição por tortura, prevista em lei
aprovada em 1997.
O sistema de informação do
Ministério da Justiça confirma
que ninguém dá muita bola para a tortura nas secretarias da
Segurança dos Estados.
O governo incluiu os casos de
tortura no Infoseg justamente
para saber se a lei havia pegado.
O dado foi retirado por inconsistência -só um Estado informou que lá havia uma única
acusação de tortura. A inexistência do dado estatístico é o
melhor indicador do peso que a
tortura tem para as secretarias.
Pedro Montenegro, coordenador do Comitê Nacional de
Prevenção e Combate à Tortura da Secretaria Especial de Direitos Humanos, diz que o governo estuda formas de induzir
os Estados a atacar a prática.
Uma das idéias é condicionar
o repasse de verbas para o sistema penitenciário e para a segurança à aplicação de normas recomendas pela ONU (Organização das Nações Unidas).
O Brasil é signatário desde
1989 de convenção internacional que prevê a aplicação de políticas para prevenir a tortura.
Outra idéia é a criação de
uma unidade móvel contra a
tortura. O modelo são as unidades de combate ao trabalho escravo, consideradas um sucesso na secretaria. Esse grupo faria blitze de surpresa em presídios, quartéis e unidades de internação de menores. A principal dúvida é se os Estados vão
tolerar esse tipo de vistoria.
Montenegro diz que o problema nessa área não é a falta
de leis, mas o preconceito dos
aplicadores da lei. "Os juízes e
os promotores menosprezam a
palavra do preso que se diz torturado. Isso é um erro brutal.
Não tem que duvidar nem acreditar no preso. Tem de investigar o que o preso diz."
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