São Paulo, Segunda-feira, 04 de Outubro de 1999
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SAÚDE
34% das adolescentes com até três anos de escolaridade são mães
Estudo relaciona falta de escolaridade com gravidez

GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial

O melhor método anticoncepcional para as adolescentes é a escola: quanto maior a escolaridade, menor a fecundidade e maior a proteção contra doenças sexualmente transmissíveis.
Com apoio do Unicef e do Ministério da Saúde, uma pesquisa, realizada pela Bemfam (Sociedade Civil Bem-Estar do Brasil), ouviu 4.528 mulheres de 15 a 24 anos, de várias regiões do país, constatando a relação direta entre escolaridade e gravidez.
Cerca de 34% das mulheres entre 15 e 19 anos, com até três anos de escolaridade, já são mães ou estão grávidas do primeiro filho.
Com quatro anos de estudo, a fecundidade baixa para 25%; de cinco a oito anos, para 18%.
Quando a adolescente estuda entre nove e 11 anos, a fecundidade vai para 6% - a diferença entre quem tem de até três anos a 11 anos de escolaridade decai de 34% para 6%. À medida em que a jovem estuda, ela passa a ter mais perspectivas de vida, apostando numa profissão. Tende, portanto, a retardar a gravidez.
A informação é especialmente relevante, considerando-se que, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 1 milhão de adolescentes engravidam por ano no país.
Tão importante como as campanhas educativas e mesmo a distribuição gratuita de anticoncepcionais, manter a jovem estudando é a receita para reduzir a gravidez e as doenças sexualmente transmissíveis.
De acordo com a pesquisa, a baixa escolaridade, um dos sinais também de reduzido poder aquisitivo, significa desinformação sobre formas de evitar a gravidez e falta de capacidade de argumentar diante do parceiro.
O projeto familiar das mulheres ricas e pobres é ter, em média, dois filhos - mas, por acesso à informação e métodos contraceptivos, as mais ricas e educadas conseguem uma família menor.
Intitulado "Adolescente, Jovens e a Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde", o estudo informa que cerca de 11% das mulheres com até três anos de escolaridade usaram, antes de se casar, algum método anticoncepcional.
Para quem tem nove ou mais anos de escolaridade, essa percentagem sobe para 57%.
A própria educação fornece treinamento de diálogo da adolescente com os pais, capaz de servir como orientação. A pesquisa revela ser menor a gravidez entre jovens que conversam com os pais sobre saúde reprodutiva.
Quanto maior o nível de instrução dos jovens, maior a prevalência de uso total de anticoncepção, conclui o estudo.
As mulheres com menor escolaridade começam a vida sexual mais cedo. Até três anos de escolaridade, é de 47% aquelas que iniciam a vida sexual antes do casamento; baixa para 38,3% para aquelas com mais de nove anos de estudo.
Para as mulheres de mais baixa renda, impera, em vez da pílula ou camisinha, a esterilização. A esterilização em massa é uma das causas da redução do crescimento populacional no Brasil.
Os métodos anticoncepcionais seguem escala inversa à da fecundidade: 37% dos jovens, homens e mulheres, com mais de nove anos de escolaridade usam camisinha.
A pesquisa detecta que, apesar de todas as campanhas educativas, as mensagens sobre os perigos de doenças ainda não chegaram para a maioria dos adolescentes. Apenas 33%, tanto de homens como mulheres, usaram algum método antes da primeira relação.


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