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PREFEITURA
Primeira-dama se irrita ao saber que prefeito não pretende demitir secretários nem colocá-la em secretaria
Vetada para secretariado, Nicéa anuncia separação e diz que Pitta não tem pulso
MALU GASPAR
de Nova York
CHICO DE GOIS
da Reportagem Local
A primeira-dama de São Paulo,
Nicéa Pitta, afirmou ontem que
vai se separar de seu marido, Celso Pitta, que ela considera um homem "sem pulso".
"Eu tenho vergonha de estar casada com um homem assim",
afirmou Nicéa, em reação às declarações do prefeito paulistano
de que não pretende demitir nenhum de seus secretários.
"Se ele prefere os secretários, ele
que saia de casa. Se é assim, eu assumo uma separação agora." A
frase resume a reação da primeira-dama, que está em Nova York
desde agosto fazendo curso de inglês na Universidade Columbia.
Em entrevista à Folha, publicada domingo, Nicéa afirmou que
voltaria a São Paulo em dezembro
para assumir uma secretaria. Disse que isso já estava acertado com
o prefeito e que se sentia preparada para atuar em "qualquer área".
Disse também que o prefeito
deveria demitir três secretários: o
de Governo, Carlos Augusto
Meinberg, o da Saúde, Jorge Roberto Pagura, e Alda Marco Antonio, da Família e do Bem-Estar
Social.
Mas Pitta afirmou ontem que
não pretende fazer nenhuma troca e descartou a nomeação da
mulher. "Não havendo substituição (de secretários) à vista, embora ela seja uma pretendente, ela
(Nicéa) é apenas uma pretendente", declarou ele.
Ao saber das declarações do
prefeito, Nicéa disse que estava
"fora". "Uma mulher que passou
uma vida inteira com ele, passando pelo sacrifício que passei, não
precisa pretender cargo nenhum.
Mas, se ele optou por três secretários que caíram de pára-quedas
na vida dele, eu estou fora."
À noite, ao tomar conhecimento da reação da mulher à sua declaração, Pitta se recusou a fazer
mais comentários.
Falta de escrúpulos
Para Nicéa, se Pitta mantiver os
secretários, será uma prova de
que ele "não tem escrúpulos".
Para justificar a afirmação, ela
diz que o prefeito nomeou Dinorá
Rodrigues, uma "funcionária fantasma", para ser presidente-executiva do Casa (Centro de Apoio
Social e Atendimento, cuja presidência de honra é exercida por
Nicéa). "Ela morava em Campinas e nunca trabalhou", diz.
Dinorá Rodrigues ficou no cargo de maio a julho deste ano. Nicéa afirma ter sido a responsável
pela sua demissão.
Na opinião da primeira-dama,
o prefeito não demite os secretários porque não tem coragem. Segundo ela, o episódio lembra a
atitude do prefeito quando de seu
rompimento com Paulo Maluf.
"Para ele romper com o Maluf,
precisou eu enfrentar, porque ele
não teve coragem para isso. Eu é
que tive de ligar para o senhor
Paulo Maluf e dizer umas poucas
e boas para ele. Senão, não teria
havido o rompimento."
Para Nicéa, se os três secretários
continuarem na administração, o
governo Pitta acabará indo por
um rumo "muito errado".
O maior problema, diz Nicéa, é
a manutenção de Meinberg. Ela
afirma que tenta tirá-lo do cargo
desde que ele assumiu a secretaria
porque ele é da "mesma quadrilha" do ex-secretário de Governo
de Paulo Maluf e Pitta, Edevaldo
Alves da Silva.
Meinberg, que fez campanha
para o ex-prefeito na eleição para
o governo de São Paulo, representaria a continuidade do esquema
de Paulo Maluf na administração.
"Com o Meinberg continuando
lá, me custa a acreditar que esse
rompimento (com Paulo Maluf)
foi para valer."
Nicéa disse estranhar a declaração de Pitta de que manterá os secretários, porque ele se dizia insatisfeito com eles havia bastante
tempo. "Acho que ele deve estar
sofrendo uma pressão muito
grande." Para ela, o marido é
"muito influenciável".
Segundo Nicéa, o prefeito havia
dito ao filho do casal, Vitor, que
demitiria Meinberg depois que
um secretário indicado por ele,
Marco Aurélio de Abreu (PTN),
foi preso no dia da posse.
Nicéa afirma que o prefeito estava insatisfeito também com Pagura. "Pelo menos é o que ele comentava comigo. A não ser que
ele tenha duas caras."
Vereador
Nicéa respondeu também ao
vereador do PT José Eduardo
Cardozo, de que ela deveria ser intimada para depor sobre as irregularidades que diz ter presenciado no governo. "A minha vida foi
devassada pela Receita Federal,
pela polícia e pela imprensa. Ele
que procure explicar por que andou tanto tempo com um carro
blindado dado pela GM para se
proteger", afirmou.
Nicéa afirma em sua defesa que
sempre tomou providências
quando constatou irregularidades. "Eu suspendi o selo de publicidade para o Casa, o que deixou
muitos vereadores loucos."
Diz também que suspendeu a
construção do Centro de Integração Social, inaugurado recentemente, quando constatou que a
obra, que havia ficado parada um
ano, acabou sendo entregue com
acabamento de má qualidade.
"No lugar do meu marido, eu teria anulado a licitação, que foi ganha pela Enterpa. E ninguém fez
nada."
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