São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2007 |
Próximo Texto | Índice
1/3 do leite brasileiro não passa por fiscalização
A cada três litros produzidos, um, em média, é feito no mercado informal e não é tributado
RENATA BAPTISTA JOÃO CARLOS MAGALHÃES DA AGÊNCIA FOLHA A cada três litros de leite produzidos no Brasil, um, em média, é feito no mercado informal, não passa por fiscalização do governo e não é tributado. Por não pagar impostos e gastar pouco com equipamentos para a conservação do leite, os produtores informais conseguem vendê-lo por preço abaixo do de mercado. A produção de leite no Brasil foi colocada em xeque após a Polícia Federal prender 28 pessoas acusadas de adulterar o produto, adicionando substâncias impróprias como soda cáustica e água oxigenada. Dados da Leite Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Leite) mostram que, dos 26 bilhões de litros de leite obtidos anualmente no país, ao menos 9 bilhões (34%) não obedecem a instrução normativa nº 51, de 2002, do Ministério da Agricultura, que estabelece critérios de qualidade. A associação chegou a esse número subtraindo da quantidade total de leite produzido o que as cooperativas e empresas do setor dizem processar. O total é calculado pelo IBGE. Normalmente, o produtor informal mora em regiões pouco urbanizadas e tem uma pequena propriedade, com poucos animais e de baixa produtividade. A retirada, o manuseio e a conservação são com técnicas caseiras. Quase toda essa produção paralela é vendida de porta em porta, em feiras livres e em estradas. O destino mais comum desse leite é ser transformado em queijo. Assim, fica mais fácil o transporte e a conservação, já que queijos duram mais mesmo sem refrigeração. Para Marcos Veiga dos Santos, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, a produção desse mercado informal gera um problema de saúde pública e concorrência desleal. Como esses produtos não sofrem a pasteurização -aplicação de uma grande diferença de temperatura ao leite-, podem conter microorganismos transmitidos pelo bovino, entre eles os causadores da tuberculose e da brucelose (infecção que provoca febre, anemia, nevralgias). O presidente da Leite Brasil, Jorge Rubez, afirmou que as condições higiênicas dos pequenos produtores nem sempre são ruins. "A ordenha manual pode ser mais eficaz do que a mecânica. Tudo depende dos cuidados de cada produtor." Mesmo assim, ele vê necessidade de mais fiscalização. Produtores confirmaram que, por não terem máquinas que purifiquem o leite, os fabricantes informais tendem a ser mais cuidadosos. Mas como não são fiscalizados pelo governo, não há dados oficiais que mostrem o grau de pureza ou de higiene. O leite ou o queijo produzido informalmente não tem a marca em sua embalagem do SIF (Serviço de Inspeção Federal), órgão de fiscalização do Ministério da Agricultura. Próximo Texto: No Norte e no Nordeste, legislação é só "educativa" Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |