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Atriz vive reviravolta na carreira aos 70 anos
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 72, há três dias fazendo
uma dieta de doces, a atriz Maria Alice Vergueiro explica que
não está com as taxas do sangue
alteradas, "mas não dá pra ficar
com 80 kg [para 1,70 m]". Com
mais de cinco décadas de carreira no teatro, há pouco mais
de um ano Maria Alice viveu
uma reviravolta, após a veiculação pela internet do vídeo "Tapa na Pantera", em que ela aparece explicando por que fuma
maconha diariamente.
Quem a conhece apenas desde então pode não saber que ela
acumulou um repertório de
histórias até mais incríveis que
a do "Tapa": mãe de dois filhos,
fez pedagogia, teatro estudantil, trabalhou com Zé Celso
Martinez Corrêa, experimentou ácido, bissexualismo, foi alcoólatra, teve câncer, sofre de
mal de Parkinson, mas não perdeu o humor. "Nada foi com tédio, que é um sentimento anti-revolucionário, coisa daquelas
mulheres vagabundas que nunca trabalharam e ficam em casa
o dia inteiro. Nunca me reprimi, mas também nunca fingi
que era louca, tipo quero ser
doidona. Respeitei as minhas
vontades, e isso me fez bem."
FOLHA - Você toma antioxidantes?
MARIA ALICE VERGUEIRO - (Risada).
Olha: não como mais fritura
nem encho o prato à noite. Há
três dias estou numa dieta de
doces. A beleza não vem mais
da estética, mas da saúde. Agora é importante ter dentes, um
certo brilho no olho, entende?
FOLHA - A sra. cuidava do corpo?
MARIA ALICE - Fiz regime a vida
inteira. Na época, o ginecologista mesmo receitava anfetamina para emagrecer. E eu tomava com álcool.
FOLHA - Bebia muito? Chegou a ser
alcoólatra?
MARIA ALICE - Eu não cheguei a
ser alcoólatra, eu sou. De freqüentar o AA. Estou há 25 anos
sem beber, mas a gente nunca
deixa de ser.
FOLHA - A sra. é compulsiva?
MARIA ALICE - Sou. O que às vezes dá certo. Quando você se
apaixona por um projeto... O
diabo é conseguir o controle.
FOLHA - A sra. viveu bem a década
dos 60 e 70...
MARIA ALICE - Era guerrilheira,
saía com arma imitando o Che
Guevara. Tomava ácido, fazia
filme...
FOLHA - Cheirou cocaína também?
MARIA ALICE - Não. O ácido era
uma experiência ritualizada, de
mostrar que ninguém mandava
na gente...
FOLHA - A sra. teve dois filhos...
MARIA ALICE - Nunca fui "aquela
mãe". Meus filhos sentiram.
FOLHA - Era tida como meio louca?
MARIA ALICE - Era. E o pior: na
família, eu era louca; no Teatro
Oficina, careta.
FOLHA - Quando olha para o futuro, a sra. vê o quê?
MARIA ALICE - Não penso na Copa de 2014. Não chego mais lá.
Acho. A morte tá por aí.
FOLHA - Humor é importante?
MARIA ALICE - Você tem de rir de
si. A gente é mortal, não adianta. Pode empurrar a degeneração um pouco pra lá, ter uma
certa independência do corpo.
Agora: minha saúde é boa...
FOLHA - O que é uma saúde boa?
MARIA ALICE - Não tenho colesterol alto, diabetes. Tenho Parkinson, mas muito no início
ainda. Tive um câncer na garganta há 14 anos, diagnosticaram logo.
FOLHA - Se apaixonou muito?
MARIA ALICE - Nossa! Tudo o que
aconteceu foi intenso. Nada foi
com tédio, que é um sentimento anti-revolucionário, coisa
daquelas mulheres vagabundas
que nunca trabalharam.
FOLHA - As experiências sexuais foram importantes?
MARIA ALICE - Sim, mas não foram a baliza. Porque você não
pode, de uma hora para a outra,
criada por uma família de classe média, dizer: "Oba! Vamos
agora fazer uma suruba".
FOLHA - Mas a sra. chegou a fazer?
MARIA ALICE - Não, quer dizer, a
gente dormia todo mundo junto. Mas tinha uma busca, uma
tentativa de se conhecer.
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