São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2007

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Atriz vive reviravolta na carreira aos 70 anos

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 72, há três dias fazendo uma dieta de doces, a atriz Maria Alice Vergueiro explica que não está com as taxas do sangue alteradas, "mas não dá pra ficar com 80 kg [para 1,70 m]". Com mais de cinco décadas de carreira no teatro, há pouco mais de um ano Maria Alice viveu uma reviravolta, após a veiculação pela internet do vídeo "Tapa na Pantera", em que ela aparece explicando por que fuma maconha diariamente.
Quem a conhece apenas desde então pode não saber que ela acumulou um repertório de histórias até mais incríveis que a do "Tapa": mãe de dois filhos, fez pedagogia, teatro estudantil, trabalhou com Zé Celso Martinez Corrêa, experimentou ácido, bissexualismo, foi alcoólatra, teve câncer, sofre de mal de Parkinson, mas não perdeu o humor. "Nada foi com tédio, que é um sentimento anti-revolucionário, coisa daquelas mulheres vagabundas que nunca trabalharam e ficam em casa o dia inteiro. Nunca me reprimi, mas também nunca fingi que era louca, tipo quero ser doidona. Respeitei as minhas vontades, e isso me fez bem."

 

FOLHA - Você toma antioxidantes?
MARIA ALICE VERGUEIRO -
(Risada). Olha: não como mais fritura nem encho o prato à noite. Há três dias estou numa dieta de doces. A beleza não vem mais da estética, mas da saúde. Agora é importante ter dentes, um certo brilho no olho, entende?

FOLHA - A sra. cuidava do corpo?
MARIA ALICE -
Fiz regime a vida inteira. Na época, o ginecologista mesmo receitava anfetamina para emagrecer. E eu tomava com álcool.

FOLHA - Bebia muito? Chegou a ser alcoólatra?
MARIA ALICE -
Eu não cheguei a ser alcoólatra, eu sou. De freqüentar o AA. Estou há 25 anos sem beber, mas a gente nunca deixa de ser.

FOLHA - A sra. é compulsiva?
MARIA ALICE -
Sou. O que às vezes dá certo. Quando você se apaixona por um projeto... O diabo é conseguir o controle.

FOLHA - A sra. viveu bem a década dos 60 e 70...
MARIA ALICE -
Era guerrilheira, saía com arma imitando o Che Guevara. Tomava ácido, fazia filme...

FOLHA - Cheirou cocaína também?
MARIA ALICE -
Não. O ácido era uma experiência ritualizada, de mostrar que ninguém mandava na gente...

FOLHA - A sra. teve dois filhos...
MARIA ALICE -
Nunca fui "aquela mãe". Meus filhos sentiram.

FOLHA - Era tida como meio louca?
MARIA ALICE -
Era. E o pior: na família, eu era louca; no Teatro Oficina, careta.

FOLHA - Quando olha para o futuro, a sra. vê o quê?
MARIA ALICE -
Não penso na Copa de 2014. Não chego mais lá. Acho. A morte tá por aí.

FOLHA - Humor é importante?
MARIA ALICE -
Você tem de rir de si. A gente é mortal, não adianta. Pode empurrar a degeneração um pouco pra lá, ter uma certa independência do corpo. Agora: minha saúde é boa...

FOLHA - O que é uma saúde boa?
MARIA ALICE -
Não tenho colesterol alto, diabetes. Tenho Parkinson, mas muito no início ainda. Tive um câncer na garganta há 14 anos, diagnosticaram logo.

FOLHA - Se apaixonou muito?
MARIA ALICE -
Nossa! Tudo o que aconteceu foi intenso. Nada foi com tédio, que é um sentimento anti-revolucionário, coisa daquelas mulheres vagabundas que nunca trabalharam.

FOLHA - As experiências sexuais foram importantes?
MARIA ALICE -
Sim, mas não foram a baliza. Porque você não pode, de uma hora para a outra, criada por uma família de classe média, dizer: "Oba! Vamos agora fazer uma suruba".

FOLHA - Mas a sra. chegou a fazer?
MARIA ALICE -
Não, quer dizer, a gente dormia todo mundo junto. Mas tinha uma busca, uma tentativa de se conhecer.


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