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MARIA INÊS DOLCI
Palavras, palavras e IDHahahaha
As lojas estão, na surdina, transferindo para o consumidor os custos dos cartões de débito e de crédito
PALAVRAS, NO BRASIL, preferencialmente quando ditas por
autoridades, raramente podem ser assinadas embaixo. Vale,
para essas pessoas, o que dizia Fernando Pessoa no magistral poema
"Não: não digas nada!": "És melhor
do que tu não digas nada, sê...".
Pessoa sabia das coisas de ontem
e de hoje.
No país do IDHahahaha alto, não
valeu nada, por exemplo, a "garantia" do ministro das Comunicações, Hélio Costa, de que o decodificador da TV digital custaria em
torno de R$ 250. O aparelho mais
barato anunciado até agora custa o
dobro disso.
"Não: não digas nada..."
As lojas estão, na surdina, transferindo para o consumidor os custos dos cartões de débito e de crédito. Em lugar de brincar com os
bancos e com as administradoras
de cartões por taxas mais adequadas à inflação atual, os lojistas jogam pesado com os compradores.
Quem paga com cartão de débito
ou de crédito, tem perdido, digamos, um desconto em torno de
10% no preço, que obteriam se pagassem em espécie ou em cheque.
Ocorre que os cartões de débito são
bem mais seguros do que carregar
dinheiro ou talões de cheque.
Além disso, os bancos estão cobrando -afinal seus lucros são somente bilionários- cada folha de
cheque do correntista. Entre o mar
e o rochedo, a ostra, ou melhor, o
consumidor, fica com a conta. As
autoridades, até agora, só falaram
que isso não pode acontecer.
"Não, não digas nada!"
Dentro de algumas semanas, os
proprietários de veículos automotivos começarão a receber as faturas do IPVA, o principal imposto
dos veículos.
Mas, senhor prefeito, senhor governador, o trânsito de São Paulo
está por conta da irresponsabilidade dos motoristas. Caminhões
transitam em qualquer bairro; carros são estacionados em fila dupla
à frente de escolas; não cruzar o sinal vermelho e não trancar o cruzamento estão em franco desuso,
assim como o chapéu panamá e
as polainas.
Sem falar nos motociclistas que
ultrapassam pela direita, cortam a
frente de vários carros e colocam a
vida (a sua e a dos demais) em
constante risco.
Arriscamos nossas vidas diariamente, para ir e voltar ao trabalho,
aos compromissos diários e até ao
lazer, sem serviços de trânsito
-exceto a indústria das multas.
Em meio às suas ocupações, os
senhores governantes não poderiam nos ajudar um pouco em
meio a esse caos hiperinflado pelas
compras de Natal.
Continuamos esperando ação.
"Não, não digas nada!"
Com tudo isso, digamos não às
patriotadas tolas e vivas à nossa ascensão, por assim dizer, no Índice
de Desenvolvimento Humano.
Principalmente quando, aqui, não
se respeitam mendigos, meninas
de 15 anos seviciadas em calabouços, consumidores tratados como
trouxas, trabalhadores escravizados, idosos indigentes. Isso nos dá
o direito a completar a sigla IDH
com a onomatopéia das risadas.
Autoridades cepeemeefizantes,
não digam nada. Supor o que farão,
mesmo com suas bocas veladas, é
ouvi-los já.
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