São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2007

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MARIA INÊS DOLCI

Palavras, palavras e IDHahahaha

As lojas estão, na surdina, transferindo para o consumidor os custos dos cartões de débito e de crédito

PALAVRAS, NO BRASIL, preferencialmente quando ditas por autoridades, raramente podem ser assinadas embaixo. Vale, para essas pessoas, o que dizia Fernando Pessoa no magistral poema "Não: não digas nada!": "És melhor do que tu não digas nada, sê...".
Pessoa sabia das coisas de ontem e de hoje.
No país do IDHahahaha alto, não valeu nada, por exemplo, a "garantia" do ministro das Comunicações, Hélio Costa, de que o decodificador da TV digital custaria em torno de R$ 250. O aparelho mais barato anunciado até agora custa o dobro disso.
"Não: não digas nada..."
As lojas estão, na surdina, transferindo para o consumidor os custos dos cartões de débito e de crédito. Em lugar de brincar com os bancos e com as administradoras de cartões por taxas mais adequadas à inflação atual, os lojistas jogam pesado com os compradores.
Quem paga com cartão de débito ou de crédito, tem perdido, digamos, um desconto em torno de 10% no preço, que obteriam se pagassem em espécie ou em cheque. Ocorre que os cartões de débito são bem mais seguros do que carregar dinheiro ou talões de cheque.
Além disso, os bancos estão cobrando -afinal seus lucros são somente bilionários- cada folha de cheque do correntista. Entre o mar e o rochedo, a ostra, ou melhor, o consumidor, fica com a conta. As autoridades, até agora, só falaram que isso não pode acontecer.
"Não, não digas nada!"
Dentro de algumas semanas, os proprietários de veículos automotivos começarão a receber as faturas do IPVA, o principal imposto dos veículos.
Mas, senhor prefeito, senhor governador, o trânsito de São Paulo está por conta da irresponsabilidade dos motoristas. Caminhões transitam em qualquer bairro; carros são estacionados em fila dupla à frente de escolas; não cruzar o sinal vermelho e não trancar o cruzamento estão em franco desuso, assim como o chapéu panamá e as polainas.
Sem falar nos motociclistas que ultrapassam pela direita, cortam a frente de vários carros e colocam a vida (a sua e a dos demais) em constante risco.
Arriscamos nossas vidas diariamente, para ir e voltar ao trabalho, aos compromissos diários e até ao lazer, sem serviços de trânsito -exceto a indústria das multas.
Em meio às suas ocupações, os senhores governantes não poderiam nos ajudar um pouco em meio a esse caos hiperinflado pelas compras de Natal.
Continuamos esperando ação.
"Não, não digas nada!"
Com tudo isso, digamos não às patriotadas tolas e vivas à nossa ascensão, por assim dizer, no Índice de Desenvolvimento Humano. Principalmente quando, aqui, não se respeitam mendigos, meninas de 15 anos seviciadas em calabouços, consumidores tratados como trouxas, trabalhadores escravizados, idosos indigentes. Isso nos dá o direito a completar a sigla IDH com a onomatopéia das risadas.
Autoridades cepeemeefizantes, não digam nada. Supor o que farão, mesmo com suas bocas veladas, é ouvi-los já.


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