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Em 1 ano, quase dobra nº de adolescentes internados por tráfico
Entrada de jovens na antiga Febem por crimes como roubo qualificado ou homicídio doloso se estabilizou ou até caiu
Em dezembro de 2006, tráfico era responsável por 18,1% das internações na instituição; no mesmo mês de 2007, subiu para 28%
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele diz que nunca consumiu
drogas nem usou armas. Desde
os 13 anos, ganhava mais dinheiro do que o pai, um pedreiro em Biritiba-Mirim (Grande
São Paulo). Construiu sua própria casa ainda adolescente.
Carlos (nome fictício), agora
com 18 anos, enumera assim
sua lista de motivos que o fizeram entrar para o tráfico de
drogas. "Foi por dinheiro mesmo", resume ele, interno de
uma unidade da Fundação Casa (ex-Febem), no Arujá, na
Grande São Paulo.
O dinheiro supostamente fácil que atraiu Carlos também
ajuda a explicar, segundo a fundação, a explosão de internações pelo crime de tráfico de
drogas em 2007.
O número de internações
quase dobrou em apenas 12
meses. Em dezembro de 2007,
1.651 jovens cumpriam medida
de internação internação ou de
semi-liberdade (passa os finais
de semana com a família) por
esse crime. No mesmo mês, em
2006, eram 912 jovens -aumento de 81%.
O roubo qualificado continua
sendo a principal causa de internação. Mas o tráfico, segundo no ranking, apresenta um
grande crescimento. Em dezembro de 2006, o tráfico era
responsável por 18,1% das internações. No mês passado, o
percentual cresceu para 28%.
Mesmo sem um levantamento específico, especialistas e autoridades ligados à área da infância e juventude acreditam
que esse aumento tenha duas
explicações: o maior envolvimento dos jovens com o tráfico
(em detrimento de crimes como roubos e latrocínios) e o
crescimento do rigor da Justiça
com os adolescentes.
Pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), o jovem
só pode ser internado se for
reincidente no tráfico de drogas -na primeira vez em que o
adolescente é detido, é encaminhado para liberdade assistida.
Mas juízes, muitas vezes, decidem aplicar a punição mais
severa a jovens já na primeira
prisão, segundo Karyna Sposato, consultora da Unicef para
assuntos da infância e juventude. "Para dar uma resposta à sociedade, acaba-se tendo uma
maior intolerância com os jovens envolvidos com o tráfico",
disse Karyna.
Segundo ela, o fenômeno pode significar também o aumento da repressão policial, e não o
crescimento do envolvimento
dos jovens com o tráfico. "Eles
são a parte mais descartável e
vulnerável. São os primeiros a
serem capturados pela repressão policial."
Para Flávio Frasseto, coordenador do núcleo especializado
de infância e juventude da Defensoria Pública de São Paulo, o
aumento do rigor da Justiça em
relação ao envolvimento dos
jovens pode ser a causa principal do aumento das internações, mas ainda faltam dados
científicos para explicar o fenômeno. "O que temos são apenas
impressões empíricas."
O desembargador Antonio
Carlos Malheiros, da coordenadoria de infância e juventude
do Tribunal de Justiça de São
Paulo, admite que o rigor de alguns juízes pode explicar parte
do aumento das internações.
Mas ele afirma que a principal causa é o aumento do envolvimento de jovens com o tráfico. "Por culpa do Estado, o tráfico se transformou, entre aspas, em um emprego excelente
para os jovens da periferia. Isso
não há como negar."
Carlos garante que nunca
usou nenhuma droga. "Eu não
gosto do jeito como as pessoas
ficam. E também gastam dinheiro demais", afirmou. Internado há sete meses, ele afirma
ter apreendido a dar valor ao
trabalho do pai. "Quero trabalhar, estudar", diz ele, pai de um
garoto de um ano e três meses.
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