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Só 3,2% dos analfabetos do país estudam
Nos últimos 25 anos, nenhum governo no Brasil conseguiu atrair essa população para a sala de aula; 38% têm mais de 60 anos
Promessa de Lula de
erradicar o analfabetismo
até 2006 não foi cumprida;
governo anuncia mudanças
para melhorar o cenário
Tuca Vieira - 28abr2004/Folha Imagem
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Aluna em aula de alfabetização em Uiramutã, em Roraima; segundo dados do IBGE, 14,6 milhões de pessoas com mais de 15 anos não sabem ler nem escrever
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nos últimos 25 anos, o Brasil
fez a transição da ditadura militar para a democracia e teve
seis presidentes. Todos, com
maior ou menor ênfase, tentaram atacar o problema do analfabetismo adulto. Todos fracassaram no mesmo ponto: não
conseguiram atrair os analfabetos para a sala de aula.
Dados da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios do
IBGE tabulados pela Folha
mostram que o percentual de
analfabetos que freqüentam
escola ou curso de alfabetização variou de um percentual de
apenas 1,0% em 1981 a uma
proporção igualmente ínfima
de 3,2% em 2005. O Brasil tem,
segundo os dados do IBGE,
14,6 milhões de pessoas com
mais de 15 anos que não sabem
ler nem escrever, o que dá 11%
da população adulta.
Um dos motivos que explicam a dificuldade de trazer essa população para a sala de aula
é o fato de mais de um terço dela (38% do total) ter mais de 60
anos. Esse grupo, segundo o
MEC, é o que menos procura
os cursos de alfabetização.
No caso dos que têm menos
de 60 anos, o Inep (Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) elaborou um
estudo, apresentado aos governadores do Nordeste no mês
passado, que traça o perfil desses analfabetos.
Desse contingente de analfabetos entre 15 e 60 anos (9,6
milhões no total), 40% moram
na zona rural, onde o acesso à
escola é mais difícil, 38% têm
mais de 30 anos e 48% já freqüentaram a escola. A maioria
(69%) é economicamente ativa
(trabalha ou procura emprego). Porém, dos empregados
com carteira assinada, apenas
2,8% são analfabetos, significando que programas de alfabetização em fábricas ou empresas são pouco eficazes.
Descompasso
A promessa de campanha no
primeiro mandato de Lula era
erradicar o analfabetismo em
quatro anos, atendendo 20 milhões de analfabetos. Os resultados, no entanto, não apareceram e o ritmo de redução da taxa de analfabetismo, em vez de
acelerar, diminuiu. De 2002 a
2005, o número de analfabetos
caiu em apenas 213 mil.
O descompasso entre os resultados obtidos e os investidos
no programa levaram o MEC a
anunciar mudanças no mês
passado. Só em 2006 foram investidos R$ 200 milhões para
atender 1,5 milhão de alunos.
Além de continuar não
atraindo a população analfabeta para sala de aula, uma pesquisa do próprio MEC divulgada no mês passado apontou que
um terço dos matriculados falta de duas a três vezes por semana às aulas, comprometendo o aprendizado, já que o curso dura até oito meses.
"Nos últimos 40 anos, a efetividade dos programas de alfabetização, incluindo a primeira
etapa do Brasil Alfabetizado, foi
baixa, mesmo quando os atendidos foram somente os analfabetos", avalia o ministro Fernando Haddad (Educação).
Após três anos de funcionamento, o Brasil Alfabetizado terá a partir deste ano a alfabetização de jovens e adultos feita
por professores das redes estaduais e municipais.
Até 2006, as aulas eram ministradas apenas por alfabetizadores leigos-pessoas que faziam cursos de capacitação para alfabetizar jovens e adultos.
Esses leigos continuarão em
turmas oferecidas por ONGs.
Porém, o MEC pretende incentivar os governos estaduais
e municipais a apresentarem
planos de trabalho para reduzir
o analfabetismo até 2010, com
a inclusão de professores da rede pública no programa.
Os governos ficarão responsáveis pela identificação e abordagem dos analfabetos, além da
seleção e capacitação de professores alfabetizadores da rede
pública. Essa atribuição de capacitação poderá ser repassada
a ONGs ou universidades.
O ministério pagará bolsa
mensal entre R$ 120 e R$ 260
diretamente ao professor que
aceitar participar do programa
em turno diferente do que ele
ministra aula na rede pública.
Para fazer o pagamento, será
necessário um projeto de lei ou
medida provisória, já que esse
tipo de repasse extra não é previsto na legislação atual.
O MEC pretende oferecer
transporte escolar e recursos
para óculos aos alunos com
problemas de visão. Estuda-se
também o fornecimento de
merenda aos estudantes.
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