São Paulo, quinta-feira, 05 de fevereiro de 2009

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Alunos são acusados de dar trote e agredir morador de rua

Testemunhas confirmam agressões praticadas por grupo de universitários em Campinas

Levados à delegacia, dois alunos negaram acusações; morador de rua diz que, além de agredido, teve cabelo e sobrancelha raspados

Augusto de Paiva/AAN
Irenaldo Onofre Salvador Jr., 42, diz que seu cabelo e sua sobrancelha foram raspados à força

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS

Dois estudantes de direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em Campinas (93 km de SP), foram parar na delegacia ontem durante um trote em uma praça ao lado da universidade após pessoas ligarem para a polícia dizendo que um morador de rua estava sofrendo agressões e humilhações.
Nascido em Recife (PE), Irenaldo Onofre Salvador Jr., 42, teve o cabelo e a sobrancelha raspados à força e tinta foi jogada pelo seu corpo. Ele disse que foi agarrado, jogado no chão e agredido com socos e pontapés por um grupo de estudantes.
Os alunos Victor Hugo Guerra Bovelin, 21, e Thiago Godilho Blanco Fernandez Rodrigues, 23, foram ouvidos no 3º DP de Campinas e liberados em seguida. Eles não quiseram comentar as acusações. Em depoimento, negaram os fatos.
Salvador Jr., que passou por exame de corpo de delito, disse à Folha que o grupo despejou pinga em seu rosto com uma caneca em formato de pênis enquanto ele era segurado por outros alunos. Ele afirmou que a única coisa que carregava era uma Bíblia, com cópias de documentos dentro e uma quantia em dinheiro não especificada. "Minha Bíblia sumiu durante a agressão", disse ele, que se identificou como artesão e morador de rua.
Segundo a PM, havia cerca de 50 estudantes no local, e eles realizavam um trote de alunos novatos no curso de direito nas imediações da universidade, no Jardim Guanabara.
Duas testemunhas que trabalham em estabelecimentos em frente à universidade confirmaram a agressão à polícia.
"Eles [estudantes] me atraíram com o álcool, pois sou alcoólatra. Uns seis estudantes me jogaram no chão e deram socos e chutes. Depois me agarraram e pegaram uma máquina de raspar. Passaram na minha cabeça e na minha sobrancelha. Também jogaram tinta", disse Salvador Jr. à Folha.
Uma testemunha que trabalha em uma concessionária de veículos nas proximidades da universidade contou à Folha que o morador de rua foi agarrado e derrubado no chão por um grupo de estudantes. Depois, segundo a testemunha, houve uma série de agressões.
"Na hora eu tentei reagir, tentei me defender, mas eram muitos em cima. Tinha até mulheres no meio. Quero que todos eles sejam julgados e condenados", disse Salvador Jr.
O soldado da PM Sérgio Luís Matias, que atendeu à ocorrência, confirmou que, ao chegar ao local, ainda havia um grupo de estudantes e bebidas alcoólicas na rua e na calçada.
A Polícia Civil registrou contra os dois estudantes levados ao 3º DP um TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), por lesão corporal, que prevê pena de três meses a um ano de prisão. De acordo com a polícia, o TCO é um registro de um fato tipificado como infração de menor potencial ofensivo, com pena máxima de até dois anos de prisão ou multa.
O delegado Luís Paulo de Oliveira Silva disse que Salvador Jr. reconheceu apenas um aluno. A polícia tentará identificar os demais envolvidos.


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