São Paulo, sábado, 05 de março de 2011

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BATICUM

RUY CASTRO

Com glamour, bailes voltaram para ficar

À ZERO HORA de ontem, quando a orquestra de 20 figuras comandada pelo maestro Ruy Quaresma surgiu no palco do Armazém 4 e atacou de "Cidade Maravilhosa" (a marchinha de André Filho que abre e fecha os bailes do Carnaval carioca), o primeiro Carnaval da zona portuária -onde se aposta que será o Rio do futuro -abriu-se também para seu primeiro teste: o Baile de Gala da cidade, patrocinado pela prefeitura.
Durante cinco horas, num cenário em homenagem ao paisagista Burle Marx, 2.000 pessoas pularam ao som de antigas marchinhas (com os cantores Sanny Alves e Makley Mattos), do bloco Suvaco de Cristo, da bateria e passistas da Portela e de shows dos sambistas Jorge Aragão e Diogo Nogueira.
Tudo isto e mais o desfile dos campeões de um concurso de fantasias e a entrada do rei Momo (um Momo saudável e alegremente gordo, como deve ser) empenharam-se em trazer de volta o glamour e a euforia dos tempos (anos 30 a 80) em que o Baile de Gala era no Teatro Municipal.
Do glamour, ninguém se queixou: um baile de Carnaval a 15 m da baía de Guanabara e à sombra de dois transatlânticos supera qualquer expectativa. No salão, muitas fantasias, mulheres bonitas e homens de calças brancas -ninguém de bermuda. Já o celebritismo teve de se contentar com o charme local: o artista plástico Vik Muniz (fantasiado de Andy Warhol), a socialite Daniela Sarahyba, os inevitáveis globais.
Já a animação, apesar da pista lotada, ficou a dever -talvez por um dos próprios trunfos do evento: a grande quantidade de jovens. Depois de 40 anos de desprestígio dos bailes, as pessoas, em vez de marchar em círculos pelo salão, levadas pela música e seguindo o ritmo (por isto se chamam marchinhas), limitavam-se a pular sem sair do lugar, como fazem nos shows de rock ou estádios de futebol.
Outro estímulo à relativa frieza, além da falta de confete e serpentina, foi, literalmente, o ar-condicionado perfeito. No passado, o calor no salão e o suor eram um convite aos abraços, ao contato e à troca de fluidos (às vezes, às catadupas) entre os foliões.
Pode ter sido uma opção consciente dos organizadores, decididos a sanear os excessos dos bailes e voltar a atrair as famílias e as chamadas elites. Para isso, Ricardo Amaral, André Accioly e Luiz Calainho terão de continuar trabalhando -os camarotes e mesas vazios de ontem indicam que elas ainda não se convenceram.
Mas é só uma questão de tempo. Há dez anos, o Carnaval de rua do Rio estava morto -hoje, com quase 500 blocos legalizados, voltou a ser o maior do Brasil. O Carnaval das escolas de samba continua firme, o que se provará a partir de amanhã no Sambódromo, inclusive nas que sofreram com o recente incêndio. E vêm aí de novo os bate-bolas, os blocos de embalo e, quem sabe, os corsos. Os bailes voltaram para ficar.


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