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BATICUM
RUY CASTRO
Com glamour, bailes voltaram para ficar
À ZERO HORA de ontem,
quando a orquestra de 20 figuras comandada pelo maestro
Ruy Quaresma surgiu no palco
do Armazém 4 e atacou de "Cidade Maravilhosa" (a marchinha de André Filho que abre e
fecha os bailes do Carnaval carioca), o primeiro Carnaval da
zona portuária -onde se
aposta que será o Rio do futuro
-abriu-se também para seu
primeiro teste: o Baile de Gala
da cidade, patrocinado pela
prefeitura.
Durante cinco horas, num
cenário em homenagem ao
paisagista Burle Marx, 2.000
pessoas pularam ao som de
antigas marchinhas (com os
cantores Sanny Alves e Makley
Mattos), do bloco Suvaco de
Cristo, da bateria e passistas
da Portela e de shows dos sambistas Jorge Aragão e Diogo
Nogueira.
Tudo isto e mais o desfile
dos campeões de um concurso
de fantasias e a entrada do rei
Momo (um Momo saudável e
alegremente gordo, como deve
ser) empenharam-se em trazer
de volta o glamour e a euforia
dos tempos (anos 30 a 80) em
que o Baile de Gala era no Teatro Municipal.
Do glamour, ninguém se
queixou: um baile de Carnaval
a 15 m da baía de Guanabara e
à sombra de dois transatlânticos supera qualquer expectativa. No salão, muitas fantasias,
mulheres bonitas e homens de
calças brancas -ninguém de
bermuda. Já o celebritismo teve
de se contentar com o charme
local: o artista plástico Vik Muniz (fantasiado de Andy Warhol), a socialite Daniela Sarahyba, os inevitáveis globais.
Já a animação, apesar da
pista lotada, ficou a dever
-talvez por um dos próprios
trunfos do evento: a grande
quantidade de jovens. Depois
de 40 anos de desprestígio dos
bailes, as pessoas, em vez de
marchar em círculos pelo salão, levadas pela música e seguindo o ritmo (por isto se chamam marchinhas), limitavam-se a pular sem sair do lugar,
como fazem nos shows de rock
ou estádios de futebol.
Outro estímulo à relativa
frieza, além da falta de confete
e serpentina, foi, literalmente,
o ar-condicionado perfeito. No
passado, o calor no salão e o
suor eram um convite aos
abraços, ao contato e à troca
de fluidos (às vezes, às catadupas) entre os foliões.
Pode ter sido uma opção
consciente dos organizadores,
decididos a sanear os excessos
dos bailes e voltar a atrair as
famílias e as chamadas elites.
Para isso, Ricardo Amaral, André Accioly e Luiz Calainho terão de continuar trabalhando
-os camarotes e mesas vazios
de ontem indicam que elas ainda não se convenceram.
Mas é só uma questão de
tempo. Há dez anos, o Carnaval de rua do Rio estava morto
-hoje, com quase 500 blocos
legalizados, voltou a ser o
maior do Brasil. O Carnaval
das escolas de samba continua firme, o que se provará a
partir de amanhã no Sambódromo, inclusive nas que sofreram com o recente incêndio. E
vêm aí de novo os bate-bolas,
os blocos de embalo e, quem
sabe, os corsos. Os bailes voltaram para ficar.
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