São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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Ex-militar é suspeito do roubo de fuzis da Aeronáutica

DA SUCURSAL DO RIO

Investigações reservadas da Drae (Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos da Polícia Civil) indicam que um ex-militar que serviu no Depósito de Aeronáutica do Rio até 2003 pode estar envolvido no roubo de 22 fuzis, uma pistola, quatro carregadores e uma Kombi ocorrido anteontem, na própria unidade, em Bonsucesso (zona norte). O nome do suspeito é mantido em sigilo.
O promotor do Ministério Público Militar, Aílton José da Silva, que está acompanhando o IPM (Inquérito Policial Militar) aberto pela Aeronáutica para apurar o episódio, disse "não ter dúvidas" de que militares ou ex-militares estejam envolvidos no roubo.
"Em praticamente 100% dos casos de roubos e furtos de armas em quartéis, há a participação de militares ou ex-militares que trabalhavam nas unidades", disse.
Segundo ele, o roubo foi praticado por alguém que conhecia muito bem a rotina e os métodos de segurança da unidade.
O ex-militar moraria no complexo de favelas do Dendê (Ilha do Governador, zona norte) e teria ajudado os traficantes da favela a invadirem o depósito, segundo as investigações.
A polícia tem informações de que o armamento foi roubado por traficantes do Dendê. Um telefone celular que foi levado de um dos guardas rendidos na invasão foi achado em um dos acessos ao morro, o que reforça a suspeita.
Ontem à tarde, os policiais fizeram uma operação no Dendê para procurar o ex-militar e as armas roubadas. Assim que chegaram na favela, foram recebidos a tiros por traficantes, mas não houve feridos. Nada foi achado.
A polícia passou a suspeitar do ex-militar após ouvirem informalmente os cinco militares que foram rendidos. Eles disseram que o ex-colega tinha um comportamento suspeito, falava muito sobre a facção criminosa TCP (Terceiro Comando Puro) -que controla o tráfico no Dendê- e, em uma ocasião, chegou a disparar tiros a esmo dentro do quartel.
Os militares disseram que o suspeito foi visto próximo ao quartel dias antes da invasão.
Do material roubado do depósito, apenas a Kombi foi recuperada. Nela, havia um carregador que estava pintado com a sigla ADA, facção Amigo dos Amigos, rival do TCP. Segundo a Drae, isso teria sido uma manobra do TCP para jogar a culpa no grupo inimigo.
O TCP é chefiado pelo traficante Róbson André da Silva, o Robinho Pinga, dono do arsenal encontrado pela polícia há duas semanas na favela da Coréia (Senador Camará, zona oeste). No paiol, havia oito minas terrestres, 161 granadas e 19 mil munições.
A Procuradoria da Justiça Militar do Rio instituiu ontem um grupo de trabalho para levantar casos de desvio de armamento e munição de quartéis das Forças Armadas nos Estados do Rio e do Espírito Santo ocorridos desde o dia 1º de janeiro de 1990.

Só um afastado
A Aeronáutica informou ontem que apenas uma pessoa foi afastada depois do roubo no depósito: o diretor da unidade. A nota divulgada anteontem dizia que havia sido determinado o afastamento "dos militares que integram a direção da Darj (Depósito de Aeronáutica do Rio de Janeiro)".
O coronel Ronaldo Silva, ex-comandante da unidade, teve o afastamento publicado ontem no "Diário Oficial", mas atendeu ao telefonema da Folha, que procurou o comandante do quartel. Segundo o Centro de Comunicação da Aeronáutica, ele prestava orientações ao novo comandante.
Além de Silva, integram a diretoria os comandantes de três divisões: Suprimento, Transporte e Administrativa. A Força Aérea disse ontem que não comentará as condições de segurança no quartel. Só afirmou que havia mais de cinco militares na unidade no momento da invasão.
De acordo com a Aeronáutica, os cinco soldados que ficaram reféns dos ladrões estão sendo investigados -as versões que eles deram sobre onde estavam no momento da invasão são contraditórias. (MHM e FABIANA CIMIERI)


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