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Ex-militar é suspeito do roubo de fuzis da Aeronáutica
DA SUCURSAL DO RIO
Investigações reservadas da
Drae (Delegacia de Repressão a
Armas e Explosivos da Polícia Civil) indicam que um ex-militar
que serviu no Depósito de Aeronáutica do Rio até 2003 pode estar
envolvido no roubo de 22 fuzis,
uma pistola, quatro carregadores
e uma Kombi ocorrido anteontem, na própria unidade, em Bonsucesso (zona norte). O nome do
suspeito é mantido em sigilo.
O promotor do Ministério Público Militar, Aílton José da Silva,
que está acompanhando o IPM
(Inquérito Policial Militar) aberto
pela Aeronáutica para apurar o
episódio, disse "não ter dúvidas"
de que militares ou ex-militares
estejam envolvidos no roubo.
"Em praticamente 100% dos casos de roubos e furtos de armas
em quartéis, há a participação de
militares ou ex-militares que trabalhavam nas unidades", disse.
Segundo ele, o roubo foi praticado por alguém que conhecia
muito bem a rotina e os métodos
de segurança da unidade.
O ex-militar moraria no complexo de favelas do Dendê (Ilha
do Governador, zona norte) e teria ajudado os traficantes da favela a invadirem o depósito, segundo as investigações.
A polícia tem informações de
que o armamento foi roubado por
traficantes do Dendê. Um telefone celular que foi levado de um
dos guardas rendidos na invasão
foi achado em um dos acessos ao
morro, o que reforça a suspeita.
Ontem à tarde, os policiais fizeram uma operação no Dendê para procurar o ex-militar e as armas roubadas. Assim que chegaram na favela, foram recebidos a
tiros por traficantes, mas não
houve feridos. Nada foi achado.
A polícia passou a suspeitar do
ex-militar após ouvirem informalmente os cinco militares que
foram rendidos. Eles disseram
que o ex-colega tinha um comportamento suspeito, falava muito sobre a facção criminosa TCP
(Terceiro Comando Puro) -que
controla o tráfico no Dendê- e,
em uma ocasião, chegou a disparar tiros a esmo dentro do quartel.
Os militares disseram que o suspeito foi visto próximo ao quartel
dias antes da invasão.
Do material roubado do depósito, apenas a Kombi foi recuperada. Nela, havia um carregador que
estava pintado com a sigla ADA,
facção Amigo dos Amigos, rival
do TCP. Segundo a Drae, isso teria sido uma manobra do TCP para jogar a culpa no grupo inimigo.
O TCP é chefiado pelo traficante
Róbson André da Silva, o Robinho Pinga, dono do arsenal encontrado pela polícia há duas semanas na favela da Coréia (Senador Camará, zona oeste). No
paiol, havia oito minas terrestres,
161 granadas e 19 mil munições.
A Procuradoria da Justiça Militar do Rio instituiu ontem um
grupo de trabalho para levantar
casos de desvio de armamento e
munição de quartéis das Forças
Armadas nos Estados do Rio e do
Espírito Santo ocorridos desde o
dia 1º de janeiro de 1990.
Só um afastado
A Aeronáutica informou ontem
que apenas uma pessoa foi afastada depois do roubo no depósito: o
diretor da unidade. A nota divulgada anteontem dizia que havia
sido determinado o afastamento
"dos militares que integram a direção da Darj (Depósito de Aeronáutica do Rio de Janeiro)".
O coronel Ronaldo Silva, ex-comandante da unidade, teve o afastamento publicado ontem no
"Diário Oficial", mas atendeu ao
telefonema da Folha, que procurou o comandante do quartel. Segundo o Centro de Comunicação
da Aeronáutica, ele prestava
orientações ao novo comandante.
Além de Silva, integram a diretoria os comandantes de três divisões: Suprimento, Transporte e
Administrativa. A Força Aérea
disse ontem que não comentará
as condições de segurança no
quartel. Só afirmou que havia
mais de cinco militares na unidade no momento da invasão.
De acordo com a Aeronáutica,
os cinco soldados que ficaram reféns dos ladrões estão sendo investigados -as versões que eles
deram sobre onde estavam no
momento da invasão são contraditórias.
(MHM e FABIANA CIMIERI)
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