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Retalhos entopem os bueiros no Bom Retiro
Após ser posto em sacos, atraindo catadores, lixo das confecções ajuda a inundar o bairro
Chuva arrasta os retalhos para as galerias de águas pluviais; em reunião, lojistas pediram à prefeitura uma solução para o problema
JAMES CIMINO
DA REPORTAGEM LOCAL
Todos os dias, as confecções
da rua José Paulino, no Bom
Retiro (região central de São
Paulo), produzem cerca de dez
toneladas de retalhos que entopem galerias pluviais e causam
enchentes na região.
Para resolver o problema,
que há 15 anos incomoda os comerciantes, a Câmara de Dirigentes Lojistas do Bom Retiro
se reuniu na tarde de ontem
com o subprefeito da Sé, Nevoral Alves Bucheroni.
Mas o encontro terminou
sem uma solução efetiva, já que
o caso envolve um impasse ambiental: entre 80% e 90% dos
retalhos da José Paulino não
são recicláveis.
Fora isso, parte dos lojistas
coloca os sacos de lixo nas calçadas antes da hora da coleta
pelos caminhões da prefeitura.
À mercê dos moradores de
rua e dos catadores de material
reciclável, que se interessam
apenas pelo saco plástico, os retalhos acabam no meio da rua.
A chuva os arrasta para as galerias de águas pluviais, que entopem e inundam a região.
"Se a gente descesse às galerias da José Paulino, iria encontrar as 15 últimas coleções que
passaram pelas vitrines", ironiza Kelly Cristina Lopes, secretária-executiva da câmara.
A negligência já levou alguns
lojistas para a delegacia. Segundo Dorival Cecconello, comerciante no Bom Retiro há 30
anos, a Polícia Civil deu flagrantes por crime ambiental há
alguns meses.
Assustados, os donos de confecções pararam por um tempo. Mas, como o comércio fecha às 17h30, ninguém espera
até as 20h para colocar o lixo.
O subprefeito da Sé ressaltou, durante a reunião, que os
grandes geradores de lixo têm
obrigação legal de dar destinação a seus detritos. Pediu também que os lojistas dificultem o
acesso dos moradores de rua ao
lixo. "Se não tiver lixo, eles vão
para outra região."
Em resposta, o dirigentes da
câmara disseram já ter contratado um serviço de coleta.
"Acontece que não tem onde
pôr esses retalhos. O aterro não
aceita. Gostaríamos que a prefeitura nos ajudasse a dar um
destino para esse material", pediu um dos lojistas.
Roupa tóxica
Dorival Cecconello conta
que, nesses 15 anos, já tentou
fazer de tudo para se livrar dos
retalhos. "Já demos para
ONGs, mandei para índios de
Mato Grosso do Sul, mas eles
não dão conta da produção."
Segundo a secretária da câmara, o Senai desenvolveu uma
técnica de prensagem desses
retalhos que os transformava
em enchimento para divisórias
de compensado, mas a Cetesb
vetou, porque a prensa do material gerava gases tóxicos.
Enquanto isso, na rua dos
Italianos, paralela à José Paulino, a Folha encontrou um ponto de comércio de recicláveis.
Uma van vai parando em diversos pontos de "desova" de
retalhos. Homens esvaziam os
sacos no meio-fio. Depois pesam-nos em uma balança e carregam o veículo, deixando para
trás um rastro de sujeira.
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