São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2010

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Retalhos entopem os bueiros no Bom Retiro

Após ser posto em sacos, atraindo catadores, lixo das confecções ajuda a inundar o bairro

Chuva arrasta os retalhos para as galerias de águas pluviais; em reunião, lojistas pediram à prefeitura uma solução para o problema

JAMES CIMINO
DA REPORTAGEM LOCAL

Todos os dias, as confecções da rua José Paulino, no Bom Retiro (região central de São Paulo), produzem cerca de dez toneladas de retalhos que entopem galerias pluviais e causam enchentes na região.
Para resolver o problema, que há 15 anos incomoda os comerciantes, a Câmara de Dirigentes Lojistas do Bom Retiro se reuniu na tarde de ontem com o subprefeito da Sé, Nevoral Alves Bucheroni.
Mas o encontro terminou sem uma solução efetiva, já que o caso envolve um impasse ambiental: entre 80% e 90% dos retalhos da José Paulino não são recicláveis.
Fora isso, parte dos lojistas coloca os sacos de lixo nas calçadas antes da hora da coleta pelos caminhões da prefeitura.
À mercê dos moradores de rua e dos catadores de material reciclável, que se interessam apenas pelo saco plástico, os retalhos acabam no meio da rua. A chuva os arrasta para as galerias de águas pluviais, que entopem e inundam a região.
"Se a gente descesse às galerias da José Paulino, iria encontrar as 15 últimas coleções que passaram pelas vitrines", ironiza Kelly Cristina Lopes, secretária-executiva da câmara.
A negligência já levou alguns lojistas para a delegacia. Segundo Dorival Cecconello, comerciante no Bom Retiro há 30 anos, a Polícia Civil deu flagrantes por crime ambiental há alguns meses.
Assustados, os donos de confecções pararam por um tempo. Mas, como o comércio fecha às 17h30, ninguém espera até as 20h para colocar o lixo.
O subprefeito da Sé ressaltou, durante a reunião, que os grandes geradores de lixo têm obrigação legal de dar destinação a seus detritos. Pediu também que os lojistas dificultem o acesso dos moradores de rua ao lixo. "Se não tiver lixo, eles vão para outra região."
Em resposta, o dirigentes da câmara disseram já ter contratado um serviço de coleta. "Acontece que não tem onde pôr esses retalhos. O aterro não aceita. Gostaríamos que a prefeitura nos ajudasse a dar um destino para esse material", pediu um dos lojistas.

Roupa tóxica
Dorival Cecconello conta que, nesses 15 anos, já tentou fazer de tudo para se livrar dos retalhos. "Já demos para ONGs, mandei para índios de Mato Grosso do Sul, mas eles não dão conta da produção."
Segundo a secretária da câmara, o Senai desenvolveu uma técnica de prensagem desses retalhos que os transformava em enchimento para divisórias de compensado, mas a Cetesb vetou, porque a prensa do material gerava gases tóxicos.
Enquanto isso, na rua dos Italianos, paralela à José Paulino, a Folha encontrou um ponto de comércio de recicláveis.
Uma van vai parando em diversos pontos de "desova" de retalhos. Homens esvaziam os sacos no meio-fio. Depois pesam-nos em uma balança e carregam o veículo, deixando para trás um rastro de sujeira.


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