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Pedreiro fica preso por crime anterior ao seu nascimento
João Batista é homônimo de acusado por homicídio ocorrido quatro anos antes de ele nascer
Ele ficou 44 dias preso; juiz que o soltou disse que pedreiro foi submetido a essa situação por ser um "joão-ninguém como tantos"
FELIPE BÄCHTOLD
DA AGÊNCIA FOLHA
Um pedreiro passou 44 dias
preso em Goiânia por causa de
um crime ocorrido quatro anos
antes de ele nascer. O detido,
João Batista Rodrigues da Silva, é homônimo do verdadeiro
acusado por um homicídio, o
que, segundo policiais militares
e civis, provocou o engano.
Silva ficou preso na Casa de
Prisão Provisória de Goiânia,
que abriga 1.240 detidos que
aguardam julgamento. O erro
só foi percebido quando ele ia
ser liberado por outro motivo.
O juiz que cuidava do caso percebeu que o crime prescreveria
antes do julgamento e determinou que o preso fosse solto.
No entanto, o alvará que traria a liberdade, porém, acabou
prejudicando o detento. Como
o documento não se referia ao
João Batista preso -e sim ao
homônimo acusado do crime-
ele ficou mais 21 dias na prisão.
No momento da liberação,
agentes viram os documentos
dele com a data de nascimento:
novembro de 1985. O crime a
ele atribuído ocorreu em maio
de 1981, também em Goiânia.
A situação só foi resolvida no
dia 25 de maio, quando um juiz
expediu um alvará de soltura se
referindo expressamente ao
pedreiro, mencionando a idade
e a filiação dele.
No alvará, o juiz responsável,
Antônio Fernandes de Oliveira,
ironizou a situação, que classificou como "kafkiana" -o adjetivo, relativo ao escritor Franz
Kafka (1883-1924), evoca a
obrigação de provar inocência
sem a existência de nenhuma
prova incriminatória.
O juiz disse que Silva foi submetido a essa situação por ser
um "joão-ninguém como tantos que devem existir por aí nos
presídios da vida". "Quantos
condenados não passam por isso também?", disse à Folha.
O pedreiro foi preso em 11 de
abril pela PM. Ao checar os dados de Silva com a central da
corporação, policiais constataram que havia um mandado de
prisão -em aberto desde
1995- contra uma pessoa com
o mesmo nome. Ele foi levado à
Delegacia de Capturas da Polícia Civil e, mais tarde, para a
Casa de Prisão Provisória.
A direção da Casa de Prisão
Provisória diz que a situação
era "anômala", e que não poderia liberar o preso quando o
equívoco foi percebido porque
o primeiro alvará de soltura
não se referia a ele.
A Polícia Civil afirma que Silva não fez nenhuma reclamação aos agentes nas poucas horas em que ficou detido.
Ligações da cadeia
O assessor do juiz que concedeu o alvará de soltura, Tomaz
Rangel, disse que Silva fez diversas ligações da cadeia para a
Vara Criminal da cidade pedindo informações sobre os motivos de sua prisão. Nos telefonemas, ele se dizia inocente. Foi
aconselhado a procurar um defensor público.
Segundo o Tribunal de Justiça de Goiás, o pedreiro vive em
Goiânia e não chegou a constituir advogado. Ele não foi localizado pela Folha ontem.
O paradeiro do João Batista
Rodrigues da Silva acusado de
fato pelo homicídio, que se livrou do processo com a prescrição do crime, permanece
desconhecido.
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