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Mudar encarece tarifa, dizem aéreas
Presidente do sindicato das companhias diz que mudança na estrutura de vôos significará o fim da passagem a R$ 50
Parte dos analistas afirma que empresas fazem ameaças para pressionar
o governo e manter o patamar atual de lucros
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente do Snea (Sindicato Nacional das Empresas
Aeroviárias), José Márcio Mollo, reafirmou ontem que uma
mudança significativa na malha das companhias aéreas terá
como resultado o aumento no
preço das passagens. Segundo
ele, a mudança vai afetar especialmente as classes C e D.
"É o fim das passagens a R$
50. Hoje, 20% das passagens
das duas principais empresas
do país são vendidas para pessoas das classes C e D", disse.
A afirmação de que o consumidor acabará pagando a conta
caso o governo opte por mudar
a estrutura de vôos das companhias é um dos principais argumentos usados na negociação
com a Anac (Agência Nacional
de Aviação Civil).
O aumento da concorrência
no setor nos últimos anos levou
a uma corrida pela redução de
custos. As empresas aumentaram o número de horas em que
as aeronaves permanecem
voando e também as operações
de vôos com diversos trechos
em seqüência, afirma o Snea.
Segundo Mollo, em 2006, cada aeronave voava em média
oito horas por dia. O patamar
atual é de 13 a 14 horas. No ano
marcado pela crise da Varig e
pelo acidente da Gol, a demanda por transporte aéreo doméstico cresceu 12,3%.
Na terça-feira, em reunião
com diretores da Anac e representantes do Comando da Aeronáutica, as empresas alegaram que fizeram investimentos
nos últimos anos para atender
o crescimento da demanda e sinalizaram que não aceitam reduzir a concentração de vôos
em horários de pico nem as horas de uso de cada aeronave.
A discussão sobre os efeitos
da mudança da malha para as
companhias é polêmica. Parte
dos analistas ouvidos pela Folha afirma que as empresas estão fazendo ameaças e pressionando o governo para manter o
patamar atual de lucros.
Lúcia Helena Salgado, economista do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada),
afirma que a discussão resulta
da falta de condução da Anac.
"As empresas não estão submetidas a qualquer tipo de regulação econômica. Num cenário em que não são obrigadas a
prestar serviço adequado, sem
quase nenhuma concorrência,
quem perde é o consumidor."
"Está na hora de ter uma
pressão de cima para baixo, das
autoridades aeronáuticas sobre
as empresas. Elas são fornecedoras de serviço público. Por
que não usam outros aeroportos?", diz Paulo Bittencourt
Sampaio, consultor em aviação.
Segundo ele, não há espaço
para aumento de tarifa. "A
TAM vai receber 16 aviões nos
próximos meses, a Gol, 12, e a
Varig, cinco. Para preencher os
assentos, as companhias vão
ter que usar tarifa baixa", disse.
Para Respício Antonio do Espírito Santo, presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicas em Transporte Aéreo, uma
eventual mudança na malha teria efeito significativo sobre os
custos. "Aeronave no chão é
prejuízo. O preço pode subir
muito. Indiretamente, o governo está culpando o passageiro
por a demanda ter crescido."
As empresas argumentam
que contribuíram para a popularização do transporte aéreo.
Segundo levantamento da FGV
(Fundação Getúlio Vargas), os
preços das passagens aéreas
caíram 26,57% desde 2003.
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