São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2007

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Mudar encarece tarifa, dizem aéreas

Presidente do sindicato das companhias diz que mudança na estrutura de vôos significará o fim da passagem a R$ 50

Parte dos analistas afirma que empresas fazem ameaças para pressionar o governo e manter o patamar atual de lucros

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente do Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias), José Márcio Mollo, reafirmou ontem que uma mudança significativa na malha das companhias aéreas terá como resultado o aumento no preço das passagens. Segundo ele, a mudança vai afetar especialmente as classes C e D.
"É o fim das passagens a R$ 50. Hoje, 20% das passagens das duas principais empresas do país são vendidas para pessoas das classes C e D", disse.
A afirmação de que o consumidor acabará pagando a conta caso o governo opte por mudar a estrutura de vôos das companhias é um dos principais argumentos usados na negociação com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
O aumento da concorrência no setor nos últimos anos levou a uma corrida pela redução de custos. As empresas aumentaram o número de horas em que as aeronaves permanecem voando e também as operações de vôos com diversos trechos em seqüência, afirma o Snea.
Segundo Mollo, em 2006, cada aeronave voava em média oito horas por dia. O patamar atual é de 13 a 14 horas. No ano marcado pela crise da Varig e pelo acidente da Gol, a demanda por transporte aéreo doméstico cresceu 12,3%.
Na terça-feira, em reunião com diretores da Anac e representantes do Comando da Aeronáutica, as empresas alegaram que fizeram investimentos nos últimos anos para atender o crescimento da demanda e sinalizaram que não aceitam reduzir a concentração de vôos em horários de pico nem as horas de uso de cada aeronave.
A discussão sobre os efeitos da mudança da malha para as companhias é polêmica. Parte dos analistas ouvidos pela Folha afirma que as empresas estão fazendo ameaças e pressionando o governo para manter o patamar atual de lucros.
Lúcia Helena Salgado, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), afirma que a discussão resulta da falta de condução da Anac.
"As empresas não estão submetidas a qualquer tipo de regulação econômica. Num cenário em que não são obrigadas a prestar serviço adequado, sem quase nenhuma concorrência, quem perde é o consumidor."
"Está na hora de ter uma pressão de cima para baixo, das autoridades aeronáuticas sobre as empresas. Elas são fornecedoras de serviço público. Por que não usam outros aeroportos?", diz Paulo Bittencourt Sampaio, consultor em aviação.
Segundo ele, não há espaço para aumento de tarifa. "A TAM vai receber 16 aviões nos próximos meses, a Gol, 12, e a Varig, cinco. Para preencher os assentos, as companhias vão ter que usar tarifa baixa", disse.
Para Respício Antonio do Espírito Santo, presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicas em Transporte Aéreo, uma eventual mudança na malha teria efeito significativo sobre os custos. "Aeronave no chão é prejuízo. O preço pode subir muito. Indiretamente, o governo está culpando o passageiro por a demanda ter crescido."
As empresas argumentam que contribuíram para a popularização do transporte aéreo. Segundo levantamento da FGV (Fundação Getúlio Vargas), os preços das passagens aéreas caíram 26,57% desde 2003.


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