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Realidade é outra, diz especialista
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Da casa onde mora, em um
bairro classe média da zona sul de
São Paulo, o estagiário Adriano,
27, diz que precisa caminhar apenas dez minutos para encontrar
quem lhe forneça heroína. No
Rio, onde viveu até dois anos
atrás, "era mais fácil ainda".
"Fiquei nisso anos e conheço os
canais, mas quem está fora não
chega lá", diz Adriano. "Precisa
conhecer, ter influência." Ele acha
que um grupo muito pequeno de
pessoas -mesmo entre os usuários de cocaína- saberia onde
encontrar heroína nessas cidades.
Especialistas também concordam que essa droga é ainda de
pouquíssimo consumo no país.
São raros os casos de dependentes
nos serviços e a maioria começou
a usar a droga lá fora. O dado de
que um quinto das pessoas considera fácil encontrar heroína "não
corresponde à realidade", diz Ronaldo Laranjeira, presidente da
Abead, Associação Brasileira de
Álcool e Drogas, e diretor da
Uniad, Unidade de Álcool e Drogas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Na sua opinião, as pessoas acreditam que um traficante de maconha ou cocaína saberia onde encontrar heroína, o que "não é verdade". "O uso vem crescendo,
mas ainda é muito pequeno."
Dartiu Xavier da Silveira, diretor do Proad, programa de prevenção e tratamento da Unifesp,
diz que a pesquisa reflete "um
conceito errôneo". "As pessoas
vêem uma notícia sobre heroína
na mídia e imaginam que saberiam onde achá-la."
Adriano seguiu a trajetória comum a muitos dependentes.
"Sem pai, nem mãe", aos 12 anos
já fumava maconha e antes dos 18
já tinha que vender papelotes de
cocaína para ter a sua parte.
Bebia, fumava maconha, cheirava cocaína e às vezes usava heroína -"cheirada, bebida ou fumada". Ficou preso por "três anos
e 57 dias". Quando voltou para a
rua, voltou para a dependência.
"Até que não aguentei mais.
Aparecia um problema, eu ia da
bebida para a droga, gastava tudo.
No dia seguinte, não me lembrava
como tinha voltado para casa."
Há sete meses Adriano frequenta o Proad e é acompanhado por
um terapeuta e a cada 15 dias por
um psiquiatra, que o medica. Ontem, comemorava oito dias sem
usar álcool nem droga. "Não sei
quanto tempo vou ficar assim,
mas é uma vitória."
"O programa do Proad contempla sucessos parciais e não tem a
abstinência como um pressuposto", diz Xavier da Silveira.
Os modelos de tratamento dividem os profissionais da saúde. Na
semana passada, uma conferência internacional no Recife defendeu a idéia de que é mais positivo
e realista reduzir os riscos das
drogas e do álcool do que pretender acabar com seu uso.
Numa linha mais norte-americana -mais pela abstinência do
que pela redução de danos-, começa amanhã em São Paulo o 1º
Congresso Internacional de Prevenção e Políticas Públicas em Álcool e Drogas. O encontro é promovido pela Abead-Uniad e tem o apoio da Secretaria Nacional
Antidrogas e do Consulado dos EUA em São Paulo.
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