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São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2003

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INFORMALIDADE

Estudo da prefeitura revela também que a categoria se afastou da Previdência Social: apenas 9% contribuem

Camelô trabalha mais e ganha menos em SP

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os camelôs estão trabalhando mais, ganhando menos e cada vez mais distantes da Previdência Social. Esses são alguns dos dados que compõem o perfil dos 68 mil trabalhadores ambulantes de São Paulo, apresentado ontem pelo secretário municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade, Márcio Pochman.
O estudo compara dados de 1990-92 com informações colhidas em 1999-2002. Segundo Pochman, houve nesse período uma mudança estrutural no comércio ambulante, que deixou de ser uma atividade temporária -exercida até que a pessoa conseguisse a reinserção no mercado formal- para transformar-se numa ocupação permanente, devido à baixa oferta de empregos.
Há dez anos, 40% dos ambulantes da cidade exerciam a atividade há menos de um ano. Atualmente, 39% trabalham como camelôs há mais de cinco anos e apenas 27% estão há menos de um ano no ramo. "Isso comprova que, para muitos, [a venda ambulante] é uma das poucas alternativas de sobrevivência", diz Pochman.
A jornada semanal também aumentou. O número dos que trabalham mais de 45 horas passou de 37,7% para 48,9%. A renda diminuiu. No início dos anos 90, os comerciantes de rua ganhavam um valor equivalente a 69,3% da renda de um assalariado com carteira assinada. Hoje, eles não ganham nem a metade (48,9%).
Outro aspecto que, para Pochman, mostra a queda no padrão de vida dos camelôs é a diminuição do número dos que contribuem para a Previdência Social, que passou de 26,7% para 9%.
O estudo foi elaborado a partir de informações da Fundação Seade e do Dieese e traz também dados coletados em junho e julho deste ano pela Prefeitura de São Paulo após o cadastramento de camelôs do centro da cidade.
Esse perfil, mais específico, mostra que a maioria dos camelôs estudou até a 8ª série (67,6%), nunca participou de um programa de qualificação (77%) e trabalhava no comércio (69%). Segundo os dados da secretaria, 73,8% gostariam de trocar de profissão.

"Garantir o futuro"
Alheio a dados e pesquisas, o camelô Pedro Nascimento Silva, 39, é quase uma representação das estatísticas oficiais. Camelô há 15 anos no centro da cidade, ele trabalha mais de 10 horas por dia. Ganha cerca de R$ 300 vendendo camisas e bermudas.
Silva parou de estudar na 7ª série e há cinco anos não paga a Previdência Social. Quer voltar a contribuir no ano que vem, para "garantir o futuro".


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