GONZALO NAVARRETE
da Reportagem Local

A construção de uma nova pista para a marginal Tietê, projeto da Prefeitura de São Paulo aprovado pela Câmara na semana passada, contraria diretrizes premiadas pela própria administração para "salvar" as marginais.
Em janeiro deste ano, a prefeitura premiou com R$ 110 mil os melhores projetos apresentados por arquitetos e urbanistas para a restruturação das marginais dos rios Pinheiros e Tietê.
O vencedor do concurso foi o trabalho desenvolvido pela equipe do arquiteto Bruno Padovano, que prevê a instalação de faixas de proteção ambiental (aumento da permeabilidade do solo e recuperação paisagística), complexos esportivos e construção de piscinões nas áreas livres ao longo do Tietê para combater as enchentes.
O projeto também prevê a construção de novas pontes e ampliação de avenidas paralelas às marginais como alternativa para desafogar o tráfego do corredor, que hoje recebe 700 mil veículos por dia.
O novo projeto da prefeitura, porém, prevê apenas a construção de uma nova pista no canteiro central da marginal, que deve ser concluída até o final do ano 2000 e praticamente acaba com todos os espaços disponíveis para colocar em prática o projeto premiado de recuperação das marginais. Para usar a pista e escapar dos congestionamentos, o motorista pagará pedágio de US$ 1 (R$ 1,94).
"A ampliação do sistema viário na marginal contraria as diretrizes do concurso e poderá ter um efeito nefasto sobre a qualidade de vida em São Paulo", disse Padovano, que é professor doutor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo).
"Apesar da sua engenhosidade técnica, haverá inevitavelmente aumento de tráfego, da poluição do ar e da impermeabilização do solo, com a eliminação das poucas manchas verdes que existem ainda no local."
Segundo urbanistas ouvidos pela Folha, há outros aspectos desfavoráveis ao projeto (leia textos nesta página).
A Secretaria dos Transportes informa que pretende adotar o maior número possível das propostas do projeto vencedor.

Benefícios
A secretaria diz que o projeto diminuiria os congestionamentos, traria economia de tempo e permitiria melhorias na infra-estrutura da marginal.
Segundo a prefeitura, a empresa vencedora da licitação para exploração dos pedágios também será obrigada a realizar obras e oferecer serviço de guincho e atendimento médico em todas as pistas, inclusive as gratuitas.
Para percorrer toda a marginal Tietê, o usuário da pista paga demoraria 20 minutos, diz a prefeitura. Hoje, esse percurso dura 90 minutos no horário de pico.
A prefeitura estima inicialmente um tráfego de 100 mil veículos por dia nas pistas pagas.


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