São Paulo, Terça-feira, 05 de Outubro de 1999
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EDUCAÇÃO
Procurador-chefe da instituição pretende avaliar administração de 36 núcleos de pesquisa interdisciplinares
USP quer apurar gestão de núcleos

da Reportagem Local

A USP (Universidade de São Paulo) poderá abrir investigações para avaliar como os 36 núcleos de pesquisa ligados à instituição estão sendo administrados. Ontem, a Folha publicou uma reportagem revelando que a USP está apurando, por meio de três sindicâncias, o destino de cerca de US$ 2 milhões movimentados pelo Napio (Núcleo de Apoio a Pesquisas de Implante Odontológico) e dos equipamentos adquiridos pelo órgão, que é ligado à Faculdade de Odontologia em Bauru (interior de SP).
"Tão logo a USP consiga terminar as investigações e tome as providências adequadas é provável que chegue o momento de avaliar o restante dos núcleos", diz o procurador-chefe da USP, José Alberto Del Nero.
Ele diz que os problemas investigados no Napio podem existir em outras unidades devido à estrutura administrativa da USP, qualificada por ele como "difusa" por estar nas mãos de diversos coordenadores de curso, de departamento, além da reitoria. "Em uma comunidade de 100 mil pessoas, é praticamente certo que haja irregularidades."
No entanto, garante ele, a USP costuma investigar todas as suspeitas de irregularidade e adotar as punições cabíveis. Del Nero diz que, atualmente, o caso do Napio é o único em fase de apuração.
Na USP, os núcleos de pesquisa passaram a existir desde o final de década de 80. Eles têm autonomia em relação à universidade para obter recursos a fim de desenvolver pesquisas. O principal objetivo deles é realizar trabalhos interdisciplinares que atendam às propostas da USP no diz respeito ao desenvolvimento de atividades científicas, acadêmicas e para a comunidade. Eles são montados por um período de cinco anos, mas o prazo pode ser renovado. Durante a vigência do núcleo, os pesquisadores têm de apresentar dois relatórios à pró-reitoria à qual estão ligados -um depois de dois anos de funcionamento e outro ao final dos cinco anos.
No relatório final, os pesquisadores têm de fazer um balanço do trabalho realizado, discriminar suas fontes de recurso e o quanto recebeu de cada uma. A prestação de contas deve ser encaminhada às agências financiadoras -as mais comuns são Capes, CNPq, Finep (todas federais) e a Fapesp (no Estado de São Paulo).
O pró-reitor de pesquisa da USP, Hernan Chaimovich, também acha que os mecanismos de acompanhamento da aplicação dos recursos têm de ser aprimorados. "Existe controle, mas casos como esse mostram que é preciso ter mais clareza de como o dinheiro está sendo usado", diz ele.
Para Del Nero, o ideal seria que houvesse uma cooperação entre as agências financiadoras e as universidades para acompanhar a aplicação dos recursos.
Ele diz que, por se tratar de atividades científicas, os pesquisadores tendem a priorizar o aspecto acadêmico, relegando o administrativo a um plano secundário, tratando-as como "burocracia".
O Napio foi formalmente extinto em julho de 97, mas na prática continua funcionando sob a coordenação do professor Aguinaldo Campos Júnior. Ele também é sócio de uma empresa, a Kunzel, que se apropriou do nome Napio e o está utilizando como marca. A mesma empresa também vende materiais para a USP e conta com o Napio como clientes.
O professor Aguinaldo admite ter comprado, como professor da USP, produtos da empresa que administra, mas assegurou, em entrevista à Folha na última sexta-feira, que as contas do núcleo estão em ordem, apesar de não possuir toda a documentação referente à contabilidade do Napio.


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