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CRIME NA SÉ
Grupo comandaria esquema de tráfico de drogas e extorsão de camelôs
Mais PMs são investigados pelo massacre do centro
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Civil e o Ministério Público investigam a participação de
mais policiais militares na chacina de moradores de rua em São
Paulo, em agosto de 2004, além
dos cinco PMs já denunciados à
Justiça. O grupo comandaria um
esquema criminoso de tráfico de
drogas, extorsão de camelôs e receptação de material roubado na
região da praça da Sé, no centro,
com a ajuda de moradores de rua
e adolescentes infratores.
A Justiça deve decidir no começo da próxima semana se aceita a
denúncia, com pedido de prisão
preventiva, contra cinco PMs e
um segurança clandestino. Sete
moradores de rua morreram e
seis ficaram gravemente feridos
em ataques ocorridos nos dias 19
e 22 de agosto de 2004.
Segundo a denúncia do Ministério Público, só quatro das vítimas (três mortos e um ferido) faziam parte do esquema comandado por PMs. Elas vendiam crack e
cocaína e repassavam o dinheiro
para os policiais, de acordo com o
promotor de Justiça Maurício
Antonio Ribeiro Lopes.
Os quatro moradores de rua
-Ivanildo Amaro da Silva, o
Pantera, Cosme Rodrigues Machado, José Manuel da Cruz, o
Quá-quá, e uma mulher identificada apenas como Maria Baixinha- teriam sido atacados por
causa de dívida de drogas. Cruz
sobreviveu.
As agressões teriam sido uma
forma de mostrar "quem eram os
chefes do tráfico na região central", segundo o texto da denúncia. Os outros moradores de rua
teriam sido agredidos para despistar a polícia.
Um dos denunciados na última
segunda-feira pela Promotoria já
está preso sob a acusação de matar uma das testemunhas da chacina. O cabo da PM Renato Alves
Artilheiro é um dos quatro policiais suspeitos de matar a moradora de rua Priscila Machado da
Silva, em março. Priscila presenciou o assassinato de Maria Baixinha, em agosto de 2004.
"A investigação continua e outros PMs devem estar envolvidos.
Estamos apurando a participação
de pelo menos outros três", disse
o promotor, referindo-se aos PMs
Sandro Cornélio de Carvalho,
Francisco Peixoto da Silva e Fábio
Moreira, também presos pela
morte de Priscila.
Segundo o Ministério Público,
Artilheiro e os também policiais
militares Jayner Aurélio Porfírio,
Marcos Martins Garcia, Cleber
Bastos Ribeiro, Paulo Cruz Ramos e o segurança Francisco Luiz
dos Santos comandaram um esquema criminoso que funcionava
havia pelo menos dois anos na região da praça da Sé.
"Eram vários crimes pequenos
que garantiam o lucro do grupo",
disse o promotor. Segundo ele, os
policiais foram reconhecidos por
moradores de rua e por pessoas
que passavam pelo local. Extratos
bancários de Garcia, com inúmeros depósitos em um curso período, também indicariam movimentação relacionada ao tráfico,
segundo a Promotoria.
Na divisão de tarefas do grupo,
Porfírio seria o líder, de acordo
com o Ministério Público. A polícia apreendeu 300 papelotes de
cocaína na casa de seus familiares
dias depois da chacina. A droga,
segundo a polícia, seria do PM,
que também controlaria pontos-de-venda de entorpecentes em
uma favela da zona leste.
O segurança clandestino seria
responsável pelo transporte da
droga. Ele usaria seu Opala preto,
também descrito por várias testemunhas dos locais dos crimes.
Artilheiro seria, também de acordo com a Promotoria, o responsável pela cobrança das dívidas.
A demora da Justiça em decidir
pela prisão tem provocado a
apreensão de entidades de direitos humanos e da Igreja Católica.
"Isso precisa ser decidido o quanto antes. Os moradores de rua e as
testemunhas estão em perigo",
afirmou o padre Júlio Lancellotti,
da Pastoral do Povo da Rua.
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