São Paulo, sábado, 05 de novembro de 2005

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CRIME NA SÉ

Grupo comandaria esquema de tráfico de drogas e extorsão de camelôs
Mais PMs são investigados pelo massacre do centro

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Civil e o Ministério Público investigam a participação de mais policiais militares na chacina de moradores de rua em São Paulo, em agosto de 2004, além dos cinco PMs já denunciados à Justiça. O grupo comandaria um esquema criminoso de tráfico de drogas, extorsão de camelôs e receptação de material roubado na região da praça da Sé, no centro, com a ajuda de moradores de rua e adolescentes infratores.
A Justiça deve decidir no começo da próxima semana se aceita a denúncia, com pedido de prisão preventiva, contra cinco PMs e um segurança clandestino. Sete moradores de rua morreram e seis ficaram gravemente feridos em ataques ocorridos nos dias 19 e 22 de agosto de 2004.
Segundo a denúncia do Ministério Público, só quatro das vítimas (três mortos e um ferido) faziam parte do esquema comandado por PMs. Elas vendiam crack e cocaína e repassavam o dinheiro para os policiais, de acordo com o promotor de Justiça Maurício Antonio Ribeiro Lopes.
Os quatro moradores de rua -Ivanildo Amaro da Silva, o Pantera, Cosme Rodrigues Machado, José Manuel da Cruz, o Quá-quá, e uma mulher identificada apenas como Maria Baixinha- teriam sido atacados por causa de dívida de drogas. Cruz sobreviveu.
As agressões teriam sido uma forma de mostrar "quem eram os chefes do tráfico na região central", segundo o texto da denúncia. Os outros moradores de rua teriam sido agredidos para despistar a polícia.
Um dos denunciados na última segunda-feira pela Promotoria já está preso sob a acusação de matar uma das testemunhas da chacina. O cabo da PM Renato Alves Artilheiro é um dos quatro policiais suspeitos de matar a moradora de rua Priscila Machado da Silva, em março. Priscila presenciou o assassinato de Maria Baixinha, em agosto de 2004.
"A investigação continua e outros PMs devem estar envolvidos. Estamos apurando a participação de pelo menos outros três", disse o promotor, referindo-se aos PMs Sandro Cornélio de Carvalho, Francisco Peixoto da Silva e Fábio Moreira, também presos pela morte de Priscila.
Segundo o Ministério Público, Artilheiro e os também policiais militares Jayner Aurélio Porfírio, Marcos Martins Garcia, Cleber Bastos Ribeiro, Paulo Cruz Ramos e o segurança Francisco Luiz dos Santos comandaram um esquema criminoso que funcionava havia pelo menos dois anos na região da praça da Sé.
"Eram vários crimes pequenos que garantiam o lucro do grupo", disse o promotor. Segundo ele, os policiais foram reconhecidos por moradores de rua e por pessoas que passavam pelo local. Extratos bancários de Garcia, com inúmeros depósitos em um curso período, também indicariam movimentação relacionada ao tráfico, segundo a Promotoria.
Na divisão de tarefas do grupo, Porfírio seria o líder, de acordo com o Ministério Público. A polícia apreendeu 300 papelotes de cocaína na casa de seus familiares dias depois da chacina. A droga, segundo a polícia, seria do PM, que também controlaria pontos-de-venda de entorpecentes em uma favela da zona leste.
O segurança clandestino seria responsável pelo transporte da droga. Ele usaria seu Opala preto, também descrito por várias testemunhas dos locais dos crimes. Artilheiro seria, também de acordo com a Promotoria, o responsável pela cobrança das dívidas.
A demora da Justiça em decidir pela prisão tem provocado a apreensão de entidades de direitos humanos e da Igreja Católica. "Isso precisa ser decidido o quanto antes. Os moradores de rua e as testemunhas estão em perigo", afirmou o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua.


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