São Paulo, segunda-feira, 05 de novembro de 2007

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Piloto não seguiu orientação da torre de controle, diz FAB

Segundo apuração preliminar, ele teria de ter feito curva à esquerda, mas virou à direita

Aeronáutica não descarta possibilidade de falha humana; testemunhas disseram que piloto parecia ter desviado de um prédio

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O piloto do avião foi orientado a fazer uma curva à esquerda após a decolagem, mas fez uma curva à direita e num ângulo mais vertical do que seria recomendado para a operação de subida. Essas são informações preliminares obtidas pela Aeronáutica, que não descarta, por conta delas, falha humana como fator decisivo para a queda do jatinho em São Paulo.
O controlador de tráfego aéreo do Campo de Marte estranhou a curva para o lado oposto e o ângulo acentuado de subida e tentou alertar o piloto, mas já era tarde demais. Até ontem, no final do dia, o sistema de controle de tráfego aéreo não conseguia explicações para o fato de o piloto ter recebido orientação para fazer a guinada à esquerda e ter preferido fazer à direita.
Segundo a Aeronáutica, a investigação das causas do acidente deverá ser bastante rápida, porque ontem mesmo foi encontrada a caixa preta com a conversa entre a torre de controle e a cabine do avião. Essa caixa preta se chama CVR (Cockpit Voice Recorder) e contém todos os diálogos desde a autorização para decolagem até a queda. A Aeronáutica, em Brasília, lamentava que, depois de alguns meses fora do noticiário, volte agora com toda a força por conta de um novo acidente dentro da capital paulista.
Os problemas recentes na aviação civil têm sido especialmente por cancelamento e atrasos de vôos por parte das companhias aéreas, por falta de fiscalização da Anac (Agência de Aviação Civil) e por descontrole da Infraero (a empresa estatal responsável pela infra-estrutura dos aeroportos). O acidente de ontem, porém, não tem conexão nem com as grandes companhias nem com a Anac nem com a Infraero.
O sistema de controle aéreo, centralizado nos quatro Cindacta (os centros de defesa e controle de tráfego aéreo) volta ao centro da cena da crise aérea, aberta com o choque do Boeing da Gol com um jato Legacy, em 29 de setembro do ano passado, e aprofundada com a queda do Airbus da TAM em Congonhas em 17 de julho.
Para piorar o clima de tensão, caíram três helicópteros no Estado num único dia, na semana passada, evidenciando a falta de controle e de fiscalização desse tipo de transporte no Brasil, que vem crescendo nos últimos anos, sem o devido acompanhamento dos órgãos competentes. Um avião um tucano da FAB também caiu no Estado, na quarta passada. A Aeronáutica deverá divulgar hoje dados mais precisos sobre o acidente de ontem, com vítima que tanto estava a bordo da aeronave como em solo.

Desvio de rota
Três testemunhas ouvidas pela reportagem nos arredores do local do acidente relatam ter visto o avião mudar de rota instantes antes da queda. Aparentemente, na avaliação desses vizinhos, o piloto tentava desviar de um edifício residencial localizado na rua Sóror Angélica, paralela à rua Bernardino de Sena, onde fica a casa atingida pela aeronave.
"O avião estava indo em direção ao prédio, mas fez uma manobra brusca e ficou com as asas quase perpendiculares ao solo [primeiro virou cerca de 90º de lado, depois cerca de 90º de frente]", disse Zilá Soffo, que viu a queda da aeronave. Todas as testemunham ouvidas na região do acidente ontem relatam que o avião se chocou de bico com o imóvel.
Morador da rua Sóror Angélica, o gerente industrial José Farisco, de 50 anos, disse que era possível perceber o barulho das peças dentro do motor, que "pareciam estar roçando umas nas outras, como se estivessem travadas".


Colaboraram FÁBIO TAKAHASHI e GUSTAVO VILLAS BOAS , da Reportagem Local


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