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"Trio tecno" de Daniela Mercury é vaiado
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
enviado especial a Salvador
Durante cerca de cinco horas de
desfile na noite de sábado, no circuito Barra-Ondina de Salvador, a
cantora baiana Daniela Mercury,
34, enfrentou a perplexidade dos
foliões diante da mistura que promoveu entre axé e tecno. Em dois
pontos do trajeto, foi vaiada em
cena aberta -e reagiu dando
bronca no público.
A primeira vaia aconteceu já depois da metade do trajeto. "A gente está inventando. Vai atrás
quem quer, o Carnaval é democrático", retrucou a cantora, fantasiada de futurista, com plástico
no corpo e canudinhos estilizados
na cabeça. O público respondeu
com sinais para que o "trio tecno"
(como Daniela o chamava) passasse mais rápido.
A segunda vaia aconteceu na
grande concentração popular do
final do percurso, quando o trio
elétrico de Dodô e Osmar levava o
público ao delírio imediatamente
à frente de Daniela.
Recebendo com profissionalismo olhares de incompreensão e
corpos parados, a cantora respondeu com sorriso mais temperado
e discurso mais agressivo à segunda onda de vaias:
"Faço Carnaval há 20 anos, posso inventar alguma coisa? A rua é
de todo mundo. Se vocês podem
sair vestidos de mulher, por que
não posso sair com tecno?", perguntou. Alguns foliões na multidão se viraram de costas.
Encerrado o desfile, Daniela falou à Folha sobre a experiência
dramática: "Já passei por algumas
situações bem esquisitas no Carnaval, quando era iniciante, mas
como esta nunca. Pensei que fosse
ser mais simples".
"Adoro tecno, se não adorasse
não entraria nessa barca louca.
Achei divertidas as reações, sabia
que iam acontecer. Reagi às vaias
porque você não pode deixar de
enfrentar, no bom sentido", disse,
após cantar cinco horas quase
sem parar.
Seu trio Crocodilo saiu, na noite
de sábado, com decoração "clubber" e, segundo integrantes da
equipe da cantora, sem qualquer
patrocínio. Ela teria investido, do
próprio bolso, R$ 130 mil no "trio
eletrônico".
Embora o desconforto prevalecesse, a reação negativa do público não foi uma constante. Na primeira metade do percurso, foliões
à frente do carro acompanharam
com entusiasmo a salada formada
entre percussão e guitarra elétrica
da banda da cantora, a house music do DJ paulistano Mau Mau e a
"regência" do produtor paulista
Dudu Marote, que comandava a
banda e colocava efeitos e distorção nos sucessos axé de Daniela.
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