São Paulo, segunda-feira, 06 de março de 2000


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"Trio tecno" de Daniela Mercury é vaiado

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
enviado especial a Salvador

Durante cerca de cinco horas de desfile na noite de sábado, no circuito Barra-Ondina de Salvador, a cantora baiana Daniela Mercury, 34, enfrentou a perplexidade dos foliões diante da mistura que promoveu entre axé e tecno. Em dois pontos do trajeto, foi vaiada em cena aberta -e reagiu dando bronca no público.
A primeira vaia aconteceu já depois da metade do trajeto. "A gente está inventando. Vai atrás quem quer, o Carnaval é democrático", retrucou a cantora, fantasiada de futurista, com plástico no corpo e canudinhos estilizados na cabeça. O público respondeu com sinais para que o "trio tecno" (como Daniela o chamava) passasse mais rápido.
A segunda vaia aconteceu na grande concentração popular do final do percurso, quando o trio elétrico de Dodô e Osmar levava o público ao delírio imediatamente à frente de Daniela.
Recebendo com profissionalismo olhares de incompreensão e corpos parados, a cantora respondeu com sorriso mais temperado e discurso mais agressivo à segunda onda de vaias:
"Faço Carnaval há 20 anos, posso inventar alguma coisa? A rua é de todo mundo. Se vocês podem sair vestidos de mulher, por que não posso sair com tecno?", perguntou. Alguns foliões na multidão se viraram de costas.
Encerrado o desfile, Daniela falou à Folha sobre a experiência dramática: "Já passei por algumas situações bem esquisitas no Carnaval, quando era iniciante, mas como esta nunca. Pensei que fosse ser mais simples".
"Adoro tecno, se não adorasse não entraria nessa barca louca. Achei divertidas as reações, sabia que iam acontecer. Reagi às vaias porque você não pode deixar de enfrentar, no bom sentido", disse, após cantar cinco horas quase sem parar.
Seu trio Crocodilo saiu, na noite de sábado, com decoração "clubber" e, segundo integrantes da equipe da cantora, sem qualquer patrocínio. Ela teria investido, do próprio bolso, R$ 130 mil no "trio eletrônico".
Embora o desconforto prevalecesse, a reação negativa do público não foi uma constante. Na primeira metade do percurso, foliões à frente do carro acompanharam com entusiasmo a salada formada entre percussão e guitarra elétrica da banda da cantora, a house music do DJ paulistano Mau Mau e a "regência" do produtor paulista Dudu Marote, que comandava a banda e colocava efeitos e distorção nos sucessos axé de Daniela.


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