São Paulo, sábado, 06 de março de 2010

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Anticotistas dizem que debate no Supremo teve desigualdade

Crítica foi de advogada do DEM; ao todo, 29 pessoas falaram a favor das cotas e 15, contra

LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Egbonmy Conceição Reis de Ogum, 56, como ontem era sexta-feira, estava luxuosamente vestida de branco. Adepta do candomblé, ela escolheu o traje usado nas celebrações para ir, assim, à audiência pública realizada no Supremo Tribunal Federal, a respeito das cotas raciais nas universidades. Foi barrada quando tentava entrar.
Motivo: o segurança do tribunal não sabia como enquadrar nas exigências do protocolo a saia, a bata fechada, lenços e turbantes feitos de rico algodão bordado. Não era tailleur, tampouco calça comprida com blazer de manga comprida.
Também barrada foi Mirewa Consolação Cruz Dias de Iansã, 66, roupas brancas e colares. As duas só poderiam entrar se concordassem em vestir um blazer sobre a roupa religiosa.
Ialorixá, Mirewa não aceitou. Sexta-feira é dia de branco. E não se via um único blazer branco para elas. Às 10h30, chegaram às mãos das duas mulheres os crachás com a identificação: "Convidada - gabinete do ministro Lewandowski". Ninguém mais se meteu com elas.
Eram 14h30 quando cerca de 50 pessoas, em sua maioria negras e negros, muitos com batas, sandálias e cordões, entraram. O ministro-relator da discussão das cotas, Ricardo Lewandowski, havia autorizado o ingresso do pessoal que, até ali, só havia conseguido assistir aos debates por telão, no andar de cima.
Os advogados anticotas não ficaram satisfeitos. Para Roberta Fragoso Kaufmann, que representa o Partido Democratas em sua Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental contra as cotas raciais, "os três dias da audiência pública apresentaram uma clara desproporção entre os defensores das teses pró e anticotas, sempre em favor dos primeiros".
No primeiro dia de debates, a diferença foi assim justificada pelo relator: "Não tem como discutir o câncer com pessoas que não têm a doença".
Na contabilidade final, puderam falar a favor das cotas 29 pessoas. Contra, 15.


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