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Anticotistas dizem que debate no Supremo teve desigualdade
Crítica foi de advogada do DEM; ao todo, 29 pessoas falaram a favor das cotas e 15, contra
LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Egbonmy Conceição Reis de
Ogum, 56, como ontem era sexta-feira, estava luxuosamente
vestida de branco. Adepta do
candomblé, ela escolheu o traje
usado nas celebrações para ir,
assim, à audiência pública realizada no Supremo Tribunal
Federal, a respeito das cotas raciais nas universidades. Foi
barrada quando tentava entrar.
Motivo: o segurança do tribunal não sabia como enquadrar nas exigências do protocolo a saia, a bata fechada, lenços
e turbantes feitos de rico algodão bordado. Não era tailleur,
tampouco calça comprida com
blazer de manga comprida.
Também barrada foi Mirewa
Consolação Cruz Dias de Iansã,
66, roupas brancas e colares. As
duas só poderiam entrar se
concordassem em vestir um
blazer sobre a roupa religiosa.
Ialorixá, Mirewa não aceitou.
Sexta-feira é dia de branco. E
não se via um único blazer branco para elas. Às 10h30, chegaram às mãos das duas mulheres
os crachás com a identificação:
"Convidada - gabinete do ministro Lewandowski". Ninguém
mais se meteu com elas.
Eram 14h30 quando cerca de
50 pessoas, em sua maioria negras e negros, muitos com batas,
sandálias e cordões, entraram.
O ministro-relator da discussão
das cotas, Ricardo Lewandowski, havia autorizado o ingresso
do pessoal que, até ali, só havia
conseguido assistir aos debates
por telão, no andar de cima.
Os advogados anticotas não
ficaram satisfeitos. Para Roberta Fragoso Kaufmann, que representa o Partido Democratas
em sua Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental contra as cotas raciais, "os
três dias da audiência pública
apresentaram uma clara desproporção entre os defensores
das teses pró e anticotas, sempre em favor dos primeiros".
No primeiro dia de debates, a
diferença foi assim justificada
pelo relator: "Não tem como
discutir o câncer com pessoas
que não têm a doença".
Na contabilidade final, puderam falar a favor das cotas 29
pessoas. Contra, 15.
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