São Paulo, domingo, 06 de maio de 2007

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10% da população troca a noite pelo dia, diz estudo

Alguns "selecionados" pela genética se descobrem mais acesos para o trabalho exatamente quando a maioria está fora do combate

Predisposição genética leva "vespertinos" a ignorar o próprio relógio biológico

FABIANE LEITE
GUSTAVO FIORATTI

DA REVISTA DA FOLHA

Tudo conspira para que noite & sono ocorram simultaneamente, os astros, os hábitos e a biologia humana. A noite foi feita para dormir, diz a praxe.
Mas, como sempre, esta não é uma verdade válida para todos.
Alguns poucos selecionados pela genética subvertem a ordem dos relógios biológicos e se descobrem mais acesos para o trabalho exatamente quando a maioria já está fora do combate.
São os vespertinos, gente como o empresário João Zangrandi, representante de uma marca de máquinas de café, que não precisa do café para ficar acordado. Ou como o pianista João Donato (leia texto abaixo), que dorme às 4h ou às 5h. Zangrandi dorme pouco e "à prestação". Vai para a cama às 23h, acorda entre 1h ou 2h e trabalha pelo menos três horas.
Dorme mais um pouco e se levanta por volta das 8h. "Não sofro nada, adoro. Para mim, cinco horas de sono são suficientes", diz. "Eu não consigo pensar e planejar durante o dia."
Foi em uma dessas madrugadas, por exemplo, que decidiu criar uma fábrica de macarrão, hoje responsável pela marca própria de uma das maiores redes de supermercados do país.
"Deu vontade de comer massa, procurei em casa e não estava muito boa." O empresário passou a usar as madrugadas para pesquisar maquinários na Itália, via internet. Um ano depois, o negócio estava criado.
O sono entrecortado de Zangrandi ou a troca espontânea da noite pelo dia não podem ser automaticamente caracterizados como distúrbios de sono -até porque só é encarado como problema algo que incomoda o seu portador, o que não é o caso de quem consegue conciliar a rotina e o ritmo próprio.

Vespertinos
Cerca de 10% da população é de seres vespertinos, diz um estudo com 16 mil brasileiros de quatro universidades (Unifesp, USP e as federais do Paraná e do Rio Grande do Norte). Os matutinos, que dormem e acordam cedo, somam 10%.
Um dos objetivos do estudo é avaliar a influência da latitude nos padrões de sono e nas diferenças genéticas. Os questionários indica que moradores do Nordeste, onde o Sol nasce e se põe mais cedo, acordam e dormem mais cedo. Os gaúchos, que vivem dias mais curtos, dormem e acordam tarde. Paulistas ficam no intermediário.
A latitude pode ajudar a explicar o padrão da maioria, mas não as suas exceções, caso de quem, não importa onde viva, troca o dia pela noite. Desses pouco se sabe, porque a maioria dos estudos sobre trabalho noturno estuda seus efeitos sobre pessoas que o fazem por obrigação, não por predisposição.
As pesquisas mostram que os resultados para a saúde podem ser desastrosos: o sono diurno não consegue cumprir todas as fases, o que pode gerar prejuízos à memória, à atenção, ao estômago e ao sistema cardiovascular -além das relações com famílias e amigos. O risco de acidentes também é maior.
Não se conhecem, porém, os efeitos das noites em claro em quem é vespertino; talvez só a longo prazo os problemas apareçam, cogita Lúcia Rotenberg, doutora em psicologia e pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.


Colaborou RAFAEL GARCIA

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