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10% da população troca a noite pelo dia, diz estudo
Alguns "selecionados" pela
genética se descobrem mais
acesos para o trabalho
exatamente quando a
maioria está fora do combate
Predisposição genética leva "vespertinos" a ignorar o próprio relógio biológico
FABIANE LEITE
GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA
Tudo conspira para que noite
& sono ocorram simultaneamente, os astros, os hábitos e a
biologia humana. A noite foi
feita para dormir, diz a praxe.
Mas, como sempre, esta não é
uma verdade válida para todos.
Alguns poucos selecionados
pela genética subvertem a ordem dos relógios biológicos e se
descobrem mais acesos para o
trabalho exatamente quando a
maioria já está fora do combate.
São os vespertinos, gente como o empresário João Zangrandi, representante de uma
marca de máquinas de café, que
não precisa do café para ficar
acordado. Ou como o pianista
João Donato (leia texto abaixo), que dorme às 4h ou às 5h.
Zangrandi dorme pouco e "à
prestação". Vai para a cama às
23h, acorda entre 1h ou 2h e
trabalha pelo menos três horas.
Dorme mais um pouco e se levanta por volta das 8h. "Não sofro nada, adoro. Para mim, cinco horas de sono são suficientes", diz. "Eu não consigo pensar e planejar durante o dia."
Foi em uma dessas madrugadas, por exemplo, que decidiu
criar uma fábrica de macarrão,
hoje responsável pela marca
própria de uma das maiores redes de supermercados do país.
"Deu vontade de comer massa, procurei em casa e não estava muito boa." O empresário
passou a usar as madrugadas
para pesquisar maquinários na
Itália, via internet. Um ano depois, o negócio estava criado.
O sono entrecortado de Zangrandi ou a troca espontânea da
noite pelo dia não podem ser
automaticamente caracterizados como distúrbios de sono
-até porque só é encarado como problema algo que incomoda o seu portador, o que não é o
caso de quem consegue conciliar a rotina e o ritmo próprio.
Vespertinos
Cerca de 10% da população é
de seres vespertinos, diz um estudo com 16 mil brasileiros de
quatro universidades (Unifesp,
USP e as federais do Paraná e
do Rio Grande do Norte). Os
matutinos, que dormem e acordam cedo, somam 10%.
Um dos objetivos do estudo é
avaliar a influência da latitude
nos padrões de sono e nas diferenças genéticas. Os questionários indica que moradores do
Nordeste, onde o Sol nasce e se
põe mais cedo, acordam e dormem mais cedo. Os gaúchos,
que vivem dias mais curtos,
dormem e acordam tarde. Paulistas ficam no intermediário.
A latitude pode ajudar a explicar o padrão da maioria, mas
não as suas exceções, caso de
quem, não importa onde viva,
troca o dia pela noite. Desses
pouco se sabe, porque a maioria
dos estudos sobre trabalho noturno estuda seus efeitos sobre
pessoas que o fazem por obrigação, não por predisposição.
As pesquisas mostram que os
resultados para a saúde podem
ser desastrosos: o sono diurno
não consegue cumprir todas as
fases, o que pode gerar prejuízos à memória, à atenção, ao estômago e ao sistema cardiovascular -além das relações com
famílias e amigos. O risco de
acidentes também é maior.
Não se conhecem, porém, os
efeitos das noites em claro em
quem é vespertino; talvez só a
longo prazo os problemas apareçam, cogita Lúcia Rotenberg,
doutora em psicologia e pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.
Colaborou RAFAEL GARCIA
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