São Paulo, domingo, 06 de maio de 2007

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Escolas questionam eficácia de laptops

Entidades de ensino norte-americanas desistem de programas que implementam uso de computadores em sala de aula

Sem benefícios pedagógicos comprovados e com custo alto, uso de informática é freado por instituições

WINNIE HU
DO "NEW YORK TIMES", EM LIVERPOOL

Os estudantes da Liverpool High, uma escola de segundo grau no interior do Estado de Nova York, usaram os laptops fornecidos a eles pela escola para divulgar gabaritos de provas, baixar pornografia e invadir computadores de empresas.
Quando os dirigentes escolares adotaram medidas de segurança mais rígidas para a rede do colégio, um aluno da 10ª série não só encontrou maneira de superar essas barreiras como também postou instruções na Web explicando aos colegas como fazer a mesma coisa.
Dezenas dos laptops arrendados pelos alunos quebram a cada mês, e de dois em dois dias, nos períodos reservados a estudo assistido por professores, a rede da Liverpool High termina caindo, devido ao alto número de alunos que preferem navegar pela internet a dirimir suas dúvidas escolares.
Assim, o distrito escolar de Liverpool, uma cidade localizada perto de Syracuse, decidiu que, a partir do quarto trimestre, os laptops devem ser devolvidos, o que aumenta o número de escolas em todo o país que adotaram programas de computação individual e, mais tarde, optaram por cancelá-los, por terem sido considerados inúteis ou, pior, nocivos.
O objetivo de muitas dessas escolas era remover a disparidade digital entre os alunos que tinham e os que não tinham computadores em casa.
"Depois de sete anos, não há literalmente prova alguma de impacto positivo sobre as realizações acadêmicas dos estudantes", disse Mark Lawson, presidente do conselho de educação de Liverpool -um dos primeiros distritos do Estado de Nova York a testar o sistema de oferecer aos alunos contato direto com a tecnologia.
"Os professores nos informaram que quando os alunos desenvolvem forte vínculo com seu laptop, o computador passa a representar uma distração no processo educacional", disse.
A postura adotada em Liverpool surge no momento em que mais e mais distritos escolares em todo o país optam por levar laptops às suas salas de aula.
Um estudo conduzido por duas consultorias educacionais nos 2.500 maiores distritos escolares norte-americanos, no ano passado, mostrou que um quarto dos respondentes já havia adotado um computador por aluno, e que metade do grupo esperava fazê-lo até 2011.
Na cidade de Nova York, cerca de seis mil alunos de quinta a oitava série receberam laptops em 2005 como parte de um programa trienal de US$ 45 milhões, financiado com verba municipal, estadual e federal.
No entanto, funcionários de diversas escolas afirmam que os estudantes cometeram abusos usando seus laptops, e que as máquinas não se enquadram nos planos de aula e demonstram pouco ou nenhum efeito mensurável, sobre as notas e exames.
Há distritos que abandonaram seus programas de distribuição de laptops devido à resistência de parte dos professores, problemas técnicos e logísticos e custos elevados de manutenção.
Esse tipo de decepção é só o mais recente exemplo de como a tecnologia, muitas vezes alardeada por filantropos e líderes políticos como meio de solucionar problemas de forma instantânea, deixa os professores perplexos quanto ao que fazer para integrar os novos aparelhos aos seus currículos.
No mês passado, o Departamento da Educação norte-americano publicou um estudo que demonstrava não haver diferença em termos de realizações acadêmicas entre alunos que usam software educacional para aprender matemática e desenvolver a capacidade de leitura e alunos que não utilizam esse recurso.
Por outro lado, muitos dirigentes escolares e professores dizem que o uso de laptops motivou até os mais relutantes dos alunos a aprender, resultando em freqüência mais elevada, índices menores de punições e abandono de estudos.
Em um dos maiores estudos em curso, o Centro de Pesquisa Educacional do Texas, até agora não constatou diferença nos resultados de testes estaduais entre 21 escolas de quinta a oitava série, nas quais os alunos receberam laptops, e 21 que não receberam. Mas alguns dados sugerem que os estudantes mais aptos podem se sair melhor em matemática quando equipados com laptops.


tradução de PAULO MIGLIACCI


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